De hobby à profissão: a onda dos influenciadores digitais

Em ascensão no mercado, influencers se tornaram ponte entre empresas e consumidores 8 de junho de 2018 Cristiane Novais, Jamile Zamilute, Lucas Barbosa, Taís Pattez

“Olá, meninos e meninas, tudo bom?” É com essa linguagem descontraída e com uma forma inusitada de mostrar seu cotidiano que os influenciadores digitais conquistam milhares de seguidores nas redes sociais. Eles recebem serviços e dinheiro pelas numerosas curtidas em suas publicações e pela gigantesca quantidade de pessoas que acompanham os seus perfis em canais como Youtube, Instagram, Twitter e Facebook.

Esses perfis têm se tornado cada vez mais comuns no mundo digital por representarem uma nova maneira de incentivar o consumo de informações, serviços e produtos. O sucesso é tamanho que hoje existe um nicho de mercado específico, com empresários e influenciadores estabelecendo ligações empregatícias flexíveis.

Lara Olinto, conquistense de 20 anos, possui 14,7 mil seguidores no Instagram e é influenciadora digital há dois anos. Por trabalhar como modelo fotográfica para lojas franqueadas, ela conseguiu um número significativo de seguidores, o que, naturalmente, lhe possibilitou administrar um instablog. Assim, as lojas começaram a enviá-la alguns produtos para divulgação. “Eu nunca pensei em me tornar uma digital influencer, mas acabou surgindo a oportunidade. Eu gosto muito e está dando super certo, tanto para mim quanto para as empresas parceiras com as quais trabalho”, diz.

A digital influencer Lara Olinto tem vinte anos e 14,7 mil seguidores no instagram. Foto: Avoador

Um dos requisitos para se tornar influenciador digital é a conquista de credibilidade, algo indispensável para esse tipo de trabalho. Sendo assim, a construção de uma boa relação com a audiência está diretamente ligada ao poder do influencer de interagir quase que diretamente com quem os segue, transmitindo confiança e segurança sobre os produtos e serviços divulgados.

Esses criadores de conteúdo, em geral, são pessoas que não se deixam abalar por críticas e por haters. Eles apostam no carisma, originalidade ou na polêmica. Buscam sempre ser autênticos e ter senso de humor é um atrativo a mais.

Ingra Gusmão, 22 anos, é estudante de arquitetura, mas nos horários vagos se aventura em trabalhos como influenciadora digital. Para ela, o ideal é procurar um segmento específico, direcionar as dicas para o produto em questão e investir em boas fotos. “Se gosta de maquiagens, pode dar dicas de maquiagens boas, baratinhas e fazer alguns tutoriais, por exemplo. Mas eu acho que o essencial mesmo é sempre dar dicas e deixar o perfil comercial e aberto”.

A estudante de arquitetura Ingra Gusmão aproveita os horários vagos para utilizar as redes sociais. Foto: Avoador.

Parcerias

As empresas de Vitória da Conquista voltadas à saúde, cosméticos e moda em maior proporção, estão apostando cada vez mais em influenciadores para a ampliação das suas vendas. As lojas utilizam critérios como a quantidade de seguidores, popularidade, número de curtidas, comentários e visualizações e a compatibilidade com o estilo do empreendimento.

Kéren Fonseca, 31 anos, é proprietária de uma loja de calçados e acessórios e, desde a inauguração da sua empresa, mantém parceria com influenciadoras. Para ela, a figura de uma D.I. é a de uma formadora de opinião, já que tudo o que ela veste ou calça transmite beleza e estilo aos olhos dos seus seguidores. “Muitas das nossas clientes chegam aqui procurando exatamente o calçado que ela fotografou. Talvez, se ela não tivesse calçado, as pessoas não percebessem que ele é bonito e estiloso”, garante.

A periodicidade das publicações varia a partir da necessidade da loja, da disponibilidade da influenciadora e do acordo firmado entre as duas partes. “Organizo minha rotina de publicações a depender da quantidade de posts semanais de parcerias. Hoje, tenho cerca de oito parceiros fixos. Alguns têm frequência de post semanal outros quinzenais e, além dos fixos, têm os que mandam produtos para divulgar”, diz Lara.

Para divulgar os produtos, a D.I. tira fotos com os produtos, tanto dentro da loja quanto em algum outro cenário sugerido pela contratante. As fotos são enviadas para a proprietária do estabelecimento em dois formatos: um para o feed e outro para o Stories do Instagram. “A gente vai postando à medida que achamos pertinente, e ela também posta, e, geralmente, ela publica uma a cada semana, ou então a gente posta primeiro e, quando ela vê que a gente postou, ela faz o mesmo em seu feed também e nos marca. Nossa relação é bem flexível”, relata a empresária Kéren.

O mercado

De acordo com um raio-x feito pela Apex Comunicação Estratégica em 2017, há no Brasil, mais de 7500 influenciadores digitais, locados no Instagram, Facebook, YouTube, Twitter e em blogs, separados em 14 segmentos diferentes. E segundo dados do Monitoramento e Pesquisa em Mídias Socias: Metodologias, Aplicações e Inovações e da plataforma Maxpress, a grande maioria está em São Paulo, seja qual for a especialidade.

A relação entre influenciadores do gênero masculino e do feminino varia tanto de acordo com o tipo de rede social em que atuam quanto por qual tipo de segmento eles criam os conteúdos. Os homens, entre os influenciadores e as influenciadoras com mais de 1 milhão de seguidores, são a maioria, com 60%. Apenas no Instagram as mulheres estão à frente, sendo responsáveis por 61% dos perfis de DIs.

Em Vitória da Conquista, esse mercado vem crescendo, ainda que timidamente. Para Flora Farias, publicitária formada pela Unidade de Ensino Superior de Feira de Santana (UNEF) e Pós-Graduada em Marketing e Imagem Corporativa pela Faculdade Anísio Teixeira (FAT), há espaço e potencial para o crescimento dessa nova maneira de promoção de produtos e serviços. “Conquista é uma cidade de médio porte com um comércio forte e que atende grande parte da região sudoeste. É um campo vasto para ser explorado por esse novo profissional no mercado de divulgação”, relata.

Faculdade de Digital Influencer

O nicho dos DIs no mercado está em expansão e é promissor. Uma prova disso é a criação de um curso de graduação voltado exclusivamente para a profissionalização do influenciador digital.

O primeiro lugar no mundo a criar o curso foi a Yiwu Industrial and Commercial College (YWICC), na China. As aulas são as mais diversas: desfile de passarela, maquiagem e performance de dança. Sensibilidade Fashion e Cultivo Estético são algumas das disciplinas básicas na grade curricular.

No Brasil, uma universidade em Recife vai oferecer a graduação, sendo o segundo curso no mundo. A grade de disciplinas será mais voltada para uma formação multidisciplinar, que incluirá conhecimento sobre Moda, Jornalismo, Marketing e Direito.

Em Vitória da Conquista, o Senac disponibilizou um workshop para influenciadores, com direcionamento na capacitação profissional e cuidados com a imagem pessoal. O evento aconteceu em janeiro deste ano e teve a intenção de esclarecer a necessidade de profissionalização e de se criar um network entre os D.I.s.

Um glossário últil para esta reportagem:

Foto de capa: Freepik

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