A empreendedora da feira do Bairro Brasil

Há dois anos Vera Lúcia Rosa Gomes decidiu vender biscoitos e, atualmente, já é a responsável por mais duas barracas 23 de dezembro de 2020 Andressa Oliveira

“Tem biscoito de quê?”, pergunta a cliente. “Batata doce, requeijão, orégano, erva doce, amanteigado, coco, leite condensado…”, responde Vera Lúcia Rosa Gomes, que  vende mais de 10 tipos de biscoitos de variados sabores, do salgado ao doce. Os quitutes estão em uma barraca de lona azul, que está montada com placas de madeira e barras de metal, na parte de baixo do Mercado Municipal de Vitória da Conquista do Bairro Brasil.

Vera Lúcia, 45 anos, tem um riso fácil e mãos ágeis para segurar o medidor de biscoitos e não deixar o freguês esperar. Ela comanda a barraca de lona azul desde novembro de 2018, além de outros dois pontos na feira. Com esses empreendimentos, tem conseguido garantir uma renda e a sua independência financeira.

Ela é da zona rural de Anagé, que fica a 41 quilômetros de Conquista. Saiu de lá quando era adolescente, aos 15 anos, junto com a família que veio tentar uma vida melhor na capital do Sudoeste. Aos 19 anos, conheceu Fabiano Pereira, e eles foram morar juntos. Dessa relação, nasceu três anos depois Ana Paula e, passados mais seis anos, a Beatriz, que hoje é sua companhia na feira. “A mais velha trabalha em um mercado, a mais nova vem comigo, mas não gosta daqui (feira) ”, explicou sorrindo.    

Depois da maternidade, Vera trabalhou como copeira por cinco anos em uma empresa. Algum tempo depois, o marido entrou como sócio em um comércio de carnes e frios no Mercado Municipal, e ela foi ajudá-lo. “Sempre gostei desse ambiente, de atender os clientes”, enfatizou. Por quase 20 anos, ela esteve junto com o companheiro no empreendimento. No entanto, era o lado de fora da feira que despertava a atenção e acalentava a paixão antiga de vender biscoitos.

Em 2018, ela decidiu parar de trabalhar com o marido e resolveu montar uma barraca e abrir o próprio negócio. “Eu não faço biscoitos, eu compro para revender. Mas é um trabalho muito bom: atender quem chega, ter alegria e sou dona do meu próprio negócio”. O trabalho começa às 5h30 e vai até às 18h.  “É um trabalho duro, mas eu gosto.”

Na feira também falta infraestrutura para os feirantes. Em dia de chuva, não dá para os clientes circularem entre uma barraca e outra sem ficarem molhados, pois não há uma cobertura geral para todos. Os feirantes também precisam pagar entre R$20,00 e R$60,00 para algum montador montarem suas barracas. Vera fez as contas do quanto gasta: “Em um ano, eu pago R$2.880,00 para a minha barraca de metal.  Às vezes, a feira é fraca, e isso sai do que a gente ganha. O que eu ganho dá para viver, mas economizar faz uma diferença grande no final. Então, por isso que meu maior sonho é ver isso aqui coberto”, destacou.

Falta infraestrutura, mas sobra  companheirismo entre as mulheres a feira do  Bairro  Brasil. Segundo Vera, o espaço não é demarcado pela Prefeitura, mas a vendedora garante que não há roubo do ponto comercial. Um dos motivos, segundo ela, é que há mais mulheres do que homens na feira, o que gera união. “Aqui todo mundo é muito unido, porque a gente passa mais tempo aqui do que em nossa casa. Então fica todo mundo próximo, eu gosto muito de trabalhar aqui”.

Apesar de gostar do negócio e do local, a vendedora também contou que a vida de feirante não é fácil. “Tem que pegar peso, montar a barraca e como não tem cobertura a gente queima no sol. Olha só, eu não tinha essas marcas, essa lona não protege”. Para mudar a realidade, ela tem fé e espera mais dos políticos locais. “Eu peço a Deus que o próximo político que entrar cubra aqui para gente, porque vai ser bom para todo mundo. A gente sofre muito, mancha a pele. Se eles fizerem isso, eu vou poder trabalhar todos os dias, e a feira vai movimentar mais.”

“A gente se sustenta, mas também leva comida para a mesa do povão”. Em meio às dificuldades, nem mesmo a pandemia da covid-19 foi capaz de abalar a confiança de Vera no trabalho. “No início, os clientes diminuíram, e a gente achou que ia fechar tudo, mas aí eu fui ficando. Não tive medo não, sempre de máscara e usando álcool em gel. Agora já voltou tudo ao normal.”

No mesmo local, há uns dois metros de distância, ela também tem outras duas barracas, em uma é vendido só melancia, cuja responsabilidade está com a filha mais nova, e a outra,  que vende mamão e manga, estão os dois sobrinhos. As frutas ela também pega para revender. “Eu vou vendendo um pouco de cada coisa”, comentou. 

 

O ano de 2020 foi difícil com a doença desconhecida da covid-19 e os problemas na economia, que também atingiu os feirantes. No entanto, Vera realizou um sonho antigo no dia 11 de dezembro. “Depois de 26 anos morando com o meu marido, eu vou me casar”. Com os olhos lacrimejando e a voz embargada de alegria, ela revela mais um sonho: “Meu vestido de noiva chegou, veio de São Paulo”. E sua última conquista do ano também está marcada para quatro dias antes do ano novo: “Dia 27 de dezembro eu vou me batizar, Deus preparou tudo para mim.”

Para o próximo ano, ela já tem outros sonhos que pretende tornar realidade.  “Eu quero montar uma fábrica de biscoitos, porque a gente vai poder ser distribuidor, está tudo nas mãos de Deus.” Vera sonha com objetividade, trabalha com garra e busca força na fé para vencer os desafios da vida. É assim que ela tem caminhado e a cada ano tem conquistado algo mais nos negócios e na vida pessoal.   

Fotos: Andressa Oliveira

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