“Seu Hélio”, orgulho de ser engraxate

29 de abril de 2016 Doni Pereira

Era um sábado, 9 de março de 2016, o céu estava limpo e o sol conquistense brilhava forte às nove da manhã. Hélio Andrade, um engraxate de 55 anos, preparava sua pequena caixa de madeira com algumas escovas, tintas e pincéis na Praça 9 de novembro, no coração de Vitória da Conquista. O coração da Praça batia tímido, isso porque poucas pessoas passavam por ali. Mas, aos poucos, os primeiros clientes começaram a aparecer e o engraxate iniciava mais um longo dia de trabalho.

“Seu Hélio” é natural do município de Planalto e sua família mudou para Conquista quando ele tinha apenas 5 anos. Foi ainda menino que conheceu a profissão de engraxate. “A minha vida aqui começou porque meus pais não tiveram condições de me dar estudo. Trabalhei um tempo para os outros e não deu certo, e optei por trabalhar pra mim mesmo. Comecei a trabalhar com o pessoal que já trabalhava aqui, fui pegando o jeito, o treinamento e aprendendo e estou aqui até hoje.”

O menino cresceu e hoje é um homem bem humorado, que carrega algumas marcas de sol em seu rosto. O local onde o engraxate trabalha é uma barraca com uma cobertura pequena, uma cadeira para ele e outra para aconchegar os clientes. Um lugar simples e ao mesmo tempo aconchegante. Uma característica que chama a atenção da clientela, assim como a qualidade do trabalho do profissional.

José Gotinguiba, um aposentado que mora há 40 anos na cidade é um dos clientes fiéis do “Seu Hélio”, apaixonado pelo sapato de couro, relata que a profissão de engraxate é fundamental para manter viva a história e os costumes de antigamente. “Eu acho fundamental essa profissão, apesar de hoje ser um pouco discriminada. As pessoas gostam de sapatos descartáveis, mas eu sou do tempo que gostavam de sapato para dar aquele brilho. Eu admiro essas pessoas que continuam insistindo, mesmo sem receberem o crédito que deviam ter”. O aposentado Grimaldo Santos, que já viveu em diferentes lugares do Brasil, é outro dos clientes. Para ele, é fundamental que em Conquista ainda exista a cultura de cuidar dos sapatos por meio do brilho dado pelos engraxates.

O lugar onde seu Hélio trabalha é simples e ao mesmo tempo aconchegante. Foto: Brenda Damasceno

O lugar onde seu Hélio trabalha é simples e ao mesmo tempo aconchegante. Foto: Brenda Damasceno

Para realizar o seu trabalho, “Seu Hélio” conta com a ajuda do filho e de um sobrinho. Mesmo em tempos difíceis, de crise econômica, ele conta com clientes fiéis, que ainda fazem questão de passar ali para prosear, contar algumas piadas e dar boas risadas enquanto o engraxate dá brilho aos sapatos. “Faço serviço para quase todo mundo: engenheiro, advogado, juiz de direito, promotor, qualquer pessoa”, conta o engraxate. O valor do engraxado é de normalmente cinco reais para limpar e renovar o brilho do couro do calçado. “Seu Hélio” conta que também atende pessoas de outros municípios e que é fundamental a existência da profissão. “Se não tem um engraxate, o pessoal que vem de fora já sai falando que chegou aqui, procurou e não encontrou”, defende.

Apesar do pouco reconhecimento recebido e igualmente pouca valorização da profissão, “Seu Hélio” não esmorece, mantém um sorriso no rosto dia após dia. “Pra mim é uma sensação muito boa trabalhar aqui, sem depender de pessoa nenhuma, trabalhar para você mesmo, derramar seu próprio suor e ganhar o pão de cada dia. É maravilhoso! Eu sou a história de Conquista. Só não tenho dinheiro, mas tenho conhecimento e minha honra, não tem coisa melhor que isso”, afirma confiante.

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