Trabalhadora e sua batalha para realizar seus sonhos

Da zona rural ao Centro de Vitória da Conquista, Nilza Maria Santos Souza tem trabalhado e conquistado a realização dos seus projetos de vida 13 de julho de 2019 Tamiris Batista

Nilza Maria Santos Souza, cabelos pretos cacheados, 47 anos, mãe de dois filhos. Nasceu e cresceu na zona rural de Vitória da Conquista, no povoado de Batalha, até se mudar para a cidade há seis anos. Ela não foi à escola, se casou aos 14 anos e nunca soube fazer outra coisa a não ser trabalhar. Da roça para o Centro de Conquista, onde trabalha atualmente, Nilza  já tem sonhos concretizados, mas ainda falta um. Descubra qual é ao ler a sua história.

Até a adolescência, ela vivia com os pais e os 13 irmãos e passava os dias capinando para ajudar a família. “A escola nossa era meu pai levantar de manhã e falar: meninas, eu marquei um ‘eito’ lá pra vocês capinar. Na hora que eu chegar da cidade é pra estar pronto”, relembrou Nilza.

Foto: Tamyres Lenes/Avoador

Depois de se casar, quando ainda morava na zona rural, Nilza saía todos os dias em direção a Conquista para fazer faxinas, lavar e passar roupas e vender filhotes de cachorro, enquanto o marido trabalhava na roça. O percurso era cansativo e a fazia ficar muito tempo distante dos filhos, por isso, ela e o marido resolveram abrir uma “vendinha” no povoado em que moravam. Só que o negócio não deu certo.

Em 2013, mudaram de vez para Conquista, e foram morar no bairro Nossa Senhora Aparecida, na casa do sogro de Nilza, que mais tarde resolveu vender o imóvel e deixou a família desabrigada. A família então passou a vender sucos, chás e salgados e, assim, conseguiu comprar uma casa no bairro Miro Cairo, onde vivem há quatro anos. “Comecei a fazer salgado, pão de queijo, suco, café e vender nas ruas. Trabalhando na rua, empurrando carrinho e vendendo café, consegui comprar uma casa”.

Há dois anos e meio, Nilza conseguiu um emprego para fazer divulgação de uma clínica odontológica no Centro da cidade. No início, ela apenas entregava panfletos para os que passavam pela rua, mas depois passou a usar da voz para fazer propaganda do serviço e atrair clientes. “Deus me deu o dom de gritar, eu fico aqui o dia todo falando minhas frases”. Ela conta que muitos adoram o seu trabalho, a elogiam e a tratam com carinho, mas não nega que já foi maltratada. “Já teve gente que tentou me bater. Alguns falam que eu falo demais. Muitas vezes subo lá em cima e choro, mas desço de novo, e a alegria continua no meu rosto”.

Foto: Tamyres Lenes/Avoador

Nilza chega na clínica às 8h e sai às 18h, mas no intervalo de almoço não perde tempo e segue com seu carrinho em direção ao Terminal Lauro de Freitas onde vende salgados, sucos, achocolatados, cafés e chás. Exatamente às 13h40, ela faz uma pausa de 20 minutos para almoçar e volta ao trabalho na clínica.

A noite chega e Nilza não para de trabalhar. Em casa, ela já começa os preparativos para o dia seguinte. Corta manjericão, maracujá, abacaxi, gengibre e deixa tudo pronto para o preparo dos chás, que acontece na madrugada. “Eu acordo 3h todos os dias, faço chá de abacaxi com gengibre, Nescau, café, leite. Quando termino de fazer já é umas 5h, aí pego as coisas, boto no carrinho e já vendo no ponto e dentro do ônibus, a 50 centavos”.

Nilza conta que cliente é o que não falta. Na clínica, ela tem clientes fiéis que já a esperam na porta logo cedo. “Eu anoto os nomes, e eles me pagam nos finais de semana”. Entre a divulgação dos tratamentos odontológicos e a feitura e venda de lanches, não sobra tempo livre. “Eu trabalho muito, e quanto mais eu trabalho, mais eu tenho vontade de trabalhar.” Como resultado de tanto esforço, ela e o marido conseguiram alugar um espaço no Ceasa para vender seus produtos.

Nilza tem um sonho a realizar. Por gostar de preparar chás, ela almeja um dia ter a sua própria “casa do chá”. “Quero ver estampada assim ó: ‘casa do chá’, só para eu ver meus clientes lá. Porque clientes eu tenho muitos, só me falta oportunidade. Minha felicidade maior do mundo era ter uma casa do chá”. Enquanto não realiza esse sonho, a mulher do povoado de Batalha segue usando o seu “dom de gritar” no Centro de Conquista: “prótese, limpeza, raio x, canal, restauração, extração, aparelho, vem gente”.

Foto destacada: Tamyres Lenes/Avoador

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