Arte que vem de berço e se ramifica

14 de junho de 2018 Ramon Carvalho

Euri Meira, 33 anos, é cantor, poeta, compositor, multi-instrumentista e decidiu aliar o seu viés artístico com o de produtor cultural. Para ele, o principal papel do profissional que atua no cenário cultural de uma cidade é não apenas criar arte, mas também fomentar os meios para que outras pessoas possam fazer o mesmo. “Nós [produtores culturais] precisamos viabilizar caminhos para que a população seja exposta à cultura”, afirma.

Na expressão popular, Euri é um “filho da terra”, ou seja, um conquistense. Mas sua família é natural de Poções e da Chapada Diamantina. O contato e o gosto pela música vieram de berço, pois seu pai era compositor e cantor e o seu avô tocava sanfona e violão. Desde cedo, devido às influências dentro de casa, conviveu com a boa música, e o desejo pela arte começou a ficar mais latente em sua vida. “Lembro-me das rodas de violão com amigos na adolescência e a descoberta da música como profissão”, relembra.

Aos 18 anos, mudou-se para os Estados Unidos. Para ele, foi uma experiência única e de muito aprendizado, que possibilitou sua participação intensa no cenário musical de Nova York. “Foi lá onde encontrei o mundo da produção cultural, musical, de eventos e festivais. Quando você está dentro da bolha, não sabe bem o que está acontecendo a sua volta, já quando você sai um pouco, tem a possibilidade de ver o todo e como o cenário cultural se comporta. É o sair da zona de conforto. Foi muito válido o aprendizado para saber discernir entre decisões certas e erradas”, conta.

Euri Meira: “Nós [produtores culturais] precisamos viabilizar caminhos para que a população seja exposta à cultura”. Foto: Arquivo Pessoal.

Após dez anos em Nova York, decidiu que era hora de voltar à sua cidade natal e contribuir artisticamente para o contexto cultual da região. “Recordo que, ao chegar em Conquista, encontrei um cenário cultural promissor, mas com muita falta de estrutura”. O Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima, fechado desde 2013, é uma prova disso. “É o auge do descaso com a população conquistense. Precisamos de uma indenização cultural por tanto tempo que ficamos carentes de um espaço adequado para a celebração das artes”, desabafou.

Em meio ao clima de polarização e ao caos político do Brasil, Euri aponta para a importância de valorizar a cultura, pois a considera a válvula de escape da sociedade. “Sem isso, a sociedade explode e mata um ao outro”. Segundo ele, um país sem a mínima estrutura, mesmo tendo uma grandiosidade artística, torna isso inacessível para grande parte da população.

Hoje, Euri tem uma banda e um projeto artístico, que iniciou suas atividades em 2016, no Teatro Municipal Carlos Jehovah. Desde então, mais de 400 artistas se apresentaram nele. Para o produtor, cada um deve também fazer a sua parte para fomentar e viabilizar a cultura em Conquista. “Não podemos esperar e culpar somente o poder público pela falta de incentivo à cultura. É claro que eles precisam fazer a parte deles, mas nós, artistas e produtores culturais, precisamos buscar formas de nos reinventar em meio ao caos da sociedade brasileira”, conclui.

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