Lembranças de um doce guerreiro

Henrique Oliveira de Araújo partiu repentinamente aos 36 anos, mas deixa uma trajetória de intensas amizades, um livro publicado e lutas travadas na política e nos movimentos sociais 9 de março de 2021 Ricardo Santos e Emanoel Nogueira

“Eu sou, eu fui, eu vou”, cantou Raul Seixas na música Gita. Henrique Oliveira de Araújo, amigo, filho, irmão, ex-estudante da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, jornalista, ativista, ser humano. Ele é, ele foi, ele vai. O mundo sem Black é um lugar menos alegre, justo, engajado. Sem dúvida, muitos estão se perguntando: qual o motivo de uma pessoa boa perder a vida para o câncer aos 36 anos de idade?

A única certeza que podemos ter é a história que fica. E a história de Henrique é um exemplo.

Henrique Oliveira de Araújo e colegas na reitoria da Uesb. Foto: Arquivo pessoal.

Henrique Oliveira de Araújo e colegas na reitoria da Uesb. Foto: Arquivo pessoal

Como estudante do curso de Comunicação da Uesb, da turma de 2003, o que fica é sua atuação dentro e fora da sala de aula. Alguém que vivenciou plenamente a vida acadêmica, nos debates com professores e colegas, nos trabalhos apresentados, nas práticas jornalísticas, nos laboratórios, na biblioteca, na cantina, no refeitório, na residência universitária, como membro do Centro Acadêmico de Comunicação, nas greves, nas reivindicações perante a reitoria, nas festas, eventos culturais, debaixo de uma árvore, no posto de gasolina até altas horas da madrugada. Qualquer espaço era uma oportunidade de interação, reflexão e diversão promovida por Henrique, às vezes, com seus gestos largos e risada sonora, e outras, com o comportamento comedido dos sábios.

Henrique Oliveira de Araújo e a turma de 2003. Foto: Arquivo pessoal.

Henrique Oliveira de Araújo e a turma de 2003. Foto: Arquivo pessoal

Ele era um doce gigante, com mais de 1,80 m , porém defendia com propriedade e convicção suas ideias, sempre pensando com clareza, principalmente, na justiça social.

Todos temos qualidades e defeitos. Henrique não era diferente. Mesmo assim, ele era uma referência de caráter e postura. E uma das melhores pessoas para se tomar uma cerveja. Puro carisma. Ótimo papo.

Já como jornalista, teve atuação em sua terra natal, Barra do Mendes, e na região de Irecê, em campanhas políticas e movimentos sociais. Fez parte da formação de jovens na comunidade quilombola Lagoa do Zeca, no município de Canarana. Além de participar de eventos, cursos e ações relacionados à agricultura familiar, cultura indígena e organização não governamental.

Fez mestrado em educação na Universidade do Estado da Bahia. Foi à Espanha estudar Comunicação na Universidade de Cadiz. E publicou o livro Educomunicação Popular e Mestiça: Transformação das Presenças, publicado pela Paco Editorial, em 2016.

Grande cinéfilo, Henrique fez parte do projeto Janela Indiscreta, responsável pela mostra que leva o melhor do cinema brasileiro e mundial à região de Vitória da Conquista.

Black adorava tocar Raul nas rodas de amigos. Mas ele só pegava o violão e cantava no final das festas. Ele dizia que esperava todo mundo ficar bêbado pra ninguém perceber como ele tocava mal.

Não era bem assim. Ele animava a galera e todos cantávamos em coro: “Oh! Oh! Seu moço! Do disco voador, me leve com você pra onde você for. Oh! Oh! Seu moço! Mas não me deixe aqui, enquanto eu sei que tem tanta estrela por aí.”

Henrique Oliveira de Araújo: nasceu em 16 de abril de 1984 e partiu em 9 de fevereiro de 2021. 

*Ricardo Santos e Emanoel Nogueira foram colegas de Henrique entre 2003 e 2008.

 

Uma resposta para “Lembranças de um doce guerreiro”

  1. Luciano Tosta disse:

    Tive o privilégio de usufruir da amizade do velho Black e compartilhar diversos momentos com ele. Realmente uma perda irreparável. Grande figura, que Deus o tenha num lugar maravilhoso.

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