O berço da literatura brasileira é negro

No dia do Escritor/a Nacional, neste 25 de julho, poucos conhecem a escritora Maria Firmina dos Reis. Confira o artigo da poeta Mariana Madelinn 25 de julho de 2021 Mariana Madelinn

No dia do Escritor Nacional, questiono: o quão estranho é que poucos saibam quem foi Maria Firmina dos Reis? O primeiro romancista brasileiro, na verdade foi uma mulher negra e marenhense. Mulher, professora, independente e que em 1859, publicou “Úrsula”, um romance abolicionista, num momento em que a escravidão era vigente no país.

Foi ousadia que marcou e ainda marca a literatura nacional feminina. Nossos escritos infelizmente ainda são desvalorizados e constantemente apagados, principalmente quando analisamos os recortes que apreendem a nossa pioneira. Faz-se imprescindível citá-la hoje, que também é o Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha.

 

Os dados comprovam que ainda há muito o que resistir: 72% da literatura publicada no Brasil é masculina, segundo a pesquisa de Regina Dalcastagné em “Literatura brasileira contemporânea — Um território contestado” Sendo ainda 90% das obras publicadas pelas grandes editoras escritas por brancos e, pelo menos, a metade dos autores é originária do eixo Rio de Janeiro/São Paulo, segundo pesquisa desenvolvida em 2014 pelo Grupo de Estudos em Literatura Brasileira contemporânea, da Universidade de Brasília (UNB).

Não podemos esquecer que em 2018, Conceição Evaristo @conceicaoevaristooficial, uma das mais conceituadas escritoras do país e vencedora do Prêmio Jabuti, perdeu a cadeira da ABL (Academia Brasileira de Letras) para o cineasta Cacá Diegues. As mulheres escrevem, mas não são bem vindas ao rol de intelectuais brasileiros. Os parâmetros parecem imutáveis e pautados sob os mesmos critérios da Coroa Portuguesa.

Nesse cenário desanimador, o meu alento é perceber que as minorias não se calam. Atualmente a literatura independente vai na contramão (ainda bem), com mulheres, pessoas não brancas, LGBTQIA+ e nordestinos ganhando destaque. De outro lado, as grandes editoras para não perderem o público, se vêem obrigadas a investir na diversidade.

Em 2019 foi constatado pelo Instituto pró-livro (IPL), em parceria com o Itaú Cultural, que o Nordeste é a região que mais lê, sendo suas 5 das 10 capitais com maior índice. Para que mais mulheres alcem voo, é preciso citá-las, ouvi-las, abrir as portas. Como bem disse Conceição ao ser perguntada sobre sua campanha irreverente para ABL: “Minha participação é minha obra. Quando a gente quer informação, encontra.”.

*A autora é baiana com orgulho, bissexual, bacharel em Direito e desde 2009 publica poesias na internet. A partir de 2018 começou a publicar de maneira independente na Amazon, tendo participações em antologias nas editoras Corvus e Maria Bonita.

Imagem em destaque: RevistaCult

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