População negra perde um representante da luta contra o racismo com a morte de Chadwick Boseman

29 de agosto de 2020 Felipe Ribeiro

Não, não morreu só mais um ator. O que se perde com a partida de Chadwick Boseman é uma potência avassaladora que me fez repensar a maneira como me enxergo como negro. Quando eu assisti Pantera Negra (2018), durante às 2h15 de filme, passei por vários momentos de me sentir desde uma criança maravilhada com a história até o cara de 21 anos refletindo a força social daquela produção. Nunca tinha visto um filme em que eu podia contar a quantidade de pessoas brancas, e não ao contrário, além de não aparecer uma pessoa com o complexo do branco salvador (white savior).

Mesmo com o diagnóstico de uma doença cruel e destruidora, como o câncer, Chadwick continuou trabalhando e entregou, além de uma atuação incrível, a possibilidade de se tornar uma inspiração e um espelho. Sim, um espelho para mim, para o povo preto, por permitir me olhar e me sentir vivo, forte, bonito, capaz de algo grandioso. Tudo isso mesmo em um mundo que procura sabotar, o tempo inteiro quem é negro tempo inteiro.

Em momentos como este, é que dá para perceber o quanto a representatividade importa. Pense comigo. Eu, um rapaz já na casa dos 20 anos de idade, consciente da pobreza e preconceito contra o povo negro, durante 2h15, consegui me ver em uma tela de cinema, em um filme hollywoodiano. Agora imagine o impacto positivo na vida das crianças que sabem que podem ser super-heróis e heroínas, acreditar que podem salvar o mundo. PORQUE ELAS PODEM. E é disso que se trata.

Para quem é branco, pode ter sido só um ator ou um herói fictício ou um filme para entreter, mas, para mim, para o povo negro, o personagem que Chadwick Boseman encarnou e sua própria vida engajada na luta contra o racismo, continuará sendo um testemunho para que cada preto ou preta nunca esqueça sua importância e que é capaz de tudo. Porque representatividade importa, porque inspirar e dar esperança muda o mundo. Eu mudei depois desse filme.

E ele sabia o quanto o seu personagem e um legado de um vencedor era transformador, e por essa razão continuou.
Por isso eu sou grato e também lamento profundamente a partida prematura dessa força que foi Boseman.

Foto de capa: Jeff Kravitz/FilmMagic

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