Pandemia de covid-19 abala os trabalhadores do sistema penitenciário brasileiro

Os agentes sofrem com o abalo emocional, o despreparo para lidar e a falta de recursos que os protegem do novo coronavírus 5 de agosto de 2020 Felipe Ribeiro

A pandemia de covid-19 afetou a saúde mental de 73,7% dos agentes penitenciários e policiais penais, de acordo com a segunda fase da pesquisa do Núcleo de Estudos da Burocracia da Fundação Getulio Vargas (NEB/FGV). O estudo aponta ainda que apenas 5,1% tiveram apoio institucional para lidar com essa realidade.

A pesquisa foi realizada de forma online com 613 profissionais da área de todas as regiões do Brasil, entre 15 de junho e 1º de julho. O seu objetivo é estudar a relação dos trabalhadores com os presidiários e as percepções deles sobre seu bem estar e o impacto da pandemia nas atividades laborais.

Grande parte dos entrevistados (85,3%) relataram haver mudanças nas interações com os presos e também (80,4%) nas dinâmicas de trabalho alteradas pela redução de trabalhadores ativos, tendo consequentemente mais trabalho a ser realizado. O aumento de protocolos de higiene e distanciamento dos colegas também foi mencionado. Para 82,2% dos agentes penitenciários, as tensões entre os presos aumentaram por conta da má alimentação, o isolamento, a falta de contato com familiares e a falta de informações sobre a pandemia.

Em relação à primeira fase da pesquisa, houve um aumento de 8% no despreparo dos profissionais para lidar com a pandemia, chegando ao total de 69%. Essa falta de tato para com a situação pode ter sido causada pelo avanço da pandemia nos presídios, onde 87% dos entrevistados afirmaram conhecer um colega que se infectou e 67,8% conhecem algum preso foi contaminado. Há ainda o medo de contrair o novo coronavírus em que 80% dos participantes afirmaram possuir tal receio.

Houve um aumento no quesito acesso aos Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s), saindo de 32,5% para 48,8%. Porém, mais da metade dos profissionais ainda estão sem esse material necessário para a proteção. A região mais afetada pela falta de EPI’s é o Norte, onde só 26,3% disseram receber o material.

A testagem também é um fator preocupante frente à baixa quantidade de agentes testados, tendo apenas 23,2% do total. Nessa questão, a região Sudeste é a com menor índice de testagem, com apenas 10%, e os pesquisadores alertam para uma a subnotificação de casos nesta região.

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