Primeiro caso no Brasil de fungo resistente a medicamentos é registrado na Bahia

Evidências iniciais apontam que a infecção pode ocorrer em ambientes médicos por contato de pessoa para pessoa ou com superfícies e equipamentos contaminados 8 de dezembro de 2020 Felipe Ribeiro

Na última segunda-feira (07/12), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi notificada da existência do primeiro caso positivo de candida auris (C. auris) no Brasil. O fungo foi identificado na amostra de ponta de cateter de um paciente internado por covid-19 em uma Unidade de Terapia intensiva (UTI) de um hospital na Bahia no dia 4 de dezembro.

A confirmação foi realizada pelo Laboratório Central de Saúde Pública Profº Gonçalo Moniz (Lacen/BA) e o Laboratório do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) por meio da  técnica Maldi-Tof.  Esse fungo é perigoso por apresentar resistência a vários medicamentos antifúngicos que geralmente são utilizados para tratar cândida e é capaz de permanecer viável por semanas ou meses em ambientes, já que possui resistência a diversos desinfetantes.

O C. auris se torna ainda mais preocupante à saúde pública visto que algumas cepas do fungo resistem a todas as três principais classes de fármacos antifúngicos, que são os polienos, azóis e equinocandinas. Além da resistência, ele pode promover infecções invasivas como na corrente sanguínea e levar pacientes à morte, principalmente os que possuem alguma comorbidade.

De acordo com a Anvisa, o fungo pode “causar surtos em decorrência da dificuldade de identificação oportuna pelos métodos laboratoriais rotineiros e de sua eliminação do ambiente contaminado”. A identificação do fungo exige assim métodos laboratoriais específicos, já que pode ser espontaneamente confundida com outras espécies de leveduras como Candida haemulonii e Saccharomyces cerevisiae. “Como os métodos de detecção de rotina não conseguem identificar C. auris, suas taxas de incidência e prevalência não são bem conhecidas, sendo, provavelmente, uma causa de candidíase mais comum do que é considerada.” 

Segundo o órgão Federal, as análises necessárias para compreender o perfil do fungo já estão em processo. Já estão  em andamento análises fenotípicas para verificar o perfil de sensibilidade do microrganismo. Além disso, o Laboratório Especial de Micologia da Escola Paulista de Medicina (Lemi/Unifesp), que é o laboratório colaborador de referência para sequenciamento da Rede Nacional para identificação de C. auris em serviços de saúde, realizará o sequenciamento genético (padrão-ouro) do microrganismo. 

Também foi informado que uma força-tarefa foi montada a fim de acompanhar o caso e prevenir que haja disseminação do fungo. Fazem parte desta  representantes da Superintendência de Vigilância e Proteção da Saúde – Suvisa Bahia, Coordenação Estadual de Controle de Infecção Hospitalar (CECIH Bahia), Centro de Informações Estratégicas e Resposta de Vigilância em Saúde – CIEVS (Nacional, Bahia e Salvador), Secretaria de Estado de Saúde da Bahia, Secretaria Municipal de Saúde de Salvador, Diretoria de Vigilância Epidemiológica, representantes do Ministério da Saúde (CGLAB/SVS, CIEVS nacional), LACEN-BA, Laboratórios da rede nacional para identificação de C. auris e a Gerência de Vigilância e Monitoramento em Serviços de Saúde (GVIMS/GGTES/Anvisa).

 

O fungo novo

O Candida auris foi identificado pela primeira vez em 2009, no Japão e desde então, vários países como Coréia do Sul, Índia, Paquistão, África do Sul, Quênia, Kuwait, Israel, Venezuela, Colômbia, Reino Unido e mais recentemente nos Estados Unidos e Canadá, apresentaram infecções pelo fungo.

Na região das Américas, o primeiro surto de C. auris aconteceu na Venezuela na UTI de um hospital em Maracaibo, entre março de 2012 e julho de 2013. Com isso, 18 pacientes, entre eles 13 pediátricos, foram afetados.

A forma como é transmitida ainda não se sabe precisamente, mas evidências iniciais apontam que a infecção pode ocorrer em ambientes médicos por contato de pessoa para pessoa ou com superfícies e equipamentos contaminados.

Por conta dos casos de surtos pelo fungo C. auris nos serviços de saúde da América Latina, a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) publicou um alerta epidemiológico em outubro de 2016. No documento, foi recomendado aos Estados-membros que adotassem medidas para prevenir e controlar surtos causados pelo fungo.

No ano seguinte, no mês de março foi publicado o COMUNICADO DE RISCO Nº 01/2017 – GVIMS/GGTES/ANVISA. O documento, além das medidas de prevenção e controle de IRAS pela C. auris, trazia também orientações à vigilância laboratorial e encaminhamento de isolados para laboratórios de referência e definiu a Rede Nacional para identificação de C. auris em serviços de saúde.

Foto de capa: (KATERYNA KON/SCIENCE PHOTO LIBRARY/Getty Images)

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