“O hip hop é uma forma de encarar a vida”, diz o rapper Diego Guerrero

Na música popular de rua, o Hip Hop e o Rap são ritmos que buscam dar voz a uma realidade que surge das periferias. Mais que um estilo musical, é também uma maneira de afirmação de identidade. 30 de maio de 2017 Da Redação

Na música popular de rua, o Hip Hop e o Rap são ritmos que buscam dar voz a uma realidade que surge das periferias, no entanto, ambos são confundidos pela batida das músicas. O Rap, uma das ramificações do estilo Hip Hop, se preocupa mais com as letras das músicas do que com a batida e estabelece rimas em suas composições. Já o Hip Hop é uma cultura de origem popular e afro-americana que se espalhou pelo mundo. Mais que um estilo musical, é também uma maneira de afirmação de identidade que se manifesta no vestuário, na dança e no grafite.

O Dj e rapper, Diego Santos Guerreiro, mais conhecido como Guerrero, diz ainda que o Hip Hop é estigmatizado pela mídia e, com isso, os artistas encontram dificuldade de divulgar suas produções. “O Hip Hop desde sua origem é um movimento independente. E na real, o estilo é reverenciado há muito tempo. O que acontece é que a cultura é preta e marginal e determinados veículos de comunicação e imprensa são seletivos e não anunciam a cultura como deveria,”, explica o rapper.

O primeiro contato de Guerrero com o ritmo foi na adolescência e, desde então, o vínculo com a música só aumentou. Saiu de São Paulo, em 1998, para conquistar seu espaço na cultura popular do Hip Hop na Bahia. Ele fundou, em Conquista, junto com outros artistas locais a 1°Posse de Hip Hop – reunião entre Djs, Rappers, Grafiteiros, B.gilrs, B.boys, parceiros e simpatizantes. Em entrevista ao Avoador, o rapper conta mais sobre sua história com a música, como veio parar no sudoeste baiano e como andam as produções na cidade.

“O que espero é que a cena atual se consolide, e consequentemente, traga junto os outros elementos da cultura, mesmo eu ciente que isso se dará de forma natural. O que vejo é promissor.”

Avoador: Como começou sua história com a música?

D.G.: Minha história com o Hip Hop começou por volta dos meus 14 anos. Quando penso na minha trajetória com a música, sempre me refiro as festinhas na laje de um tio de criação, os djs que eram chegados ali, o que era tocado na época e como era tocado. Tudo isso no início dos anos 90 na minha cidade de origem, lá em São Paulo. Chego em Vitória da Conquista em 1998, e junto aos demais fundamos a 1°Posse de Hip Hop (reunião entre Djs, Rappers, Grafiteiros, B.gilrs, B.boys, parceiros e simpatizantes da cultura em seu propósito). Nos dias de hoje componho para mim mesmo (risos) e tenho contribuído atualmente como DJ nas festas por aí.

 

Avoador: Qual a sua opinião sobre o cenário atual do Hip Hop/ Rap em Conquista?

D.G.: Sobre a cultura Hip Hop como um todo, não sei. Mas, o rap tem sido propagado com mais força hoje em dia, assim, como a dança de rua (break) há uns anos. O que espero é que a cena atual se consolide, e consequentemente, traga junto os outros elementos da cultura, mesmo eu ciente que isso se dará de forma natural. O que vejo é promissor.

“A cultura com sua própria força invadiu e permanece independente graças ao próprio movimento e simpatizantes por sua ascensão.”

Avoador: A que você associa a ascensão desse gênero musical que nasceu na periferia e atualmente ganha cada vez mais espaço?

D.G.: Conheço a força que a cultura tem pela própria experiência que tive e tenho com ela. O Hip Hop desde sua origem é um movimento independente. E na real, o estilo é reverenciado há muito tempo. O que acontece é que a cultura é preta e marginal e determinados veículos de comunicação e imprensa são seletivos e não anunciavam a cultura como deveria desde sua origem no Brasil e, quando anunciavam, era de forma deturpada. Até que o acesso à internet chegou, oferecendo ferramentas de divulgação em que ela pudesse se auto divulgar. Com isso, a cultura com sua própria força invadiu e permanece independente graças ao próprio movimento e simpatizantes por sua ascensão.

 

Avoador: O Rap já foi muito estigmatizado, principalmente pelo seu caráter de protesto e revolta. O ele representa para a sociedade dentro do cenário musical?

D.G.: O rap ainda é estigmatizado, e se ele ainda é, o que ele tende a oferecer para a sociedade é uma nova forma de encarar a vida, de ver o mundo e, sobretudo de fazer, trabalhar com música.

 

Avoador: Inicialmente, o Hip Hop teve como palco as praças e espaços públicos da cidade. Você acredita que a ascensão dessas músicas, de um modo geral, tem tornado esse estilo cada vez mais caro e menos acessível?

D.G.: Depende. No Brasil, nesse caso, só posso falar da realidade local, e de onde moro. A cena ainda está iniciando e o rap ainda precisa se consolidar. Aí poderemos falar com mais ênfase.

“Tudo está em processo de construção, e renovação de ideias dentro do próprio movimento que se divide em grupos, em que cada um responde por suas ideias e objetivos a respeito de suas criações, produções, anseios e necessidades.”

Avoador: Como os artistas conquistenses têm fortalecido o Hip Hop em Vitória da Conquista?

D.G.: Através de suas produções independentes e das várias formas de acordo com a realidade. No caso do Rap, desde as músicas autorais, a promoção de shows, atividades artísticas voltadas ao próprio movimento ou não. Esses eventos têm recebido naturalmente um público jovem e adolescente. Mas, que também tem atraído outro público de maior idade, mesmo que ainda em curta escala.

 

Avoador: Como você enxerga as produções do Rap conquistense?

D.G.: Acredito que tudo está em processo de construção, e renovação de ideias dentro do próprio movimento que se divide em grupos, em que cada um responde por suas ideias e objetivos a respeito de suas criações, produções, anseios e necessidades. E tudo isso conforme a nova conjuntura política e os impasses ideológicos desses últimos 10 anos e com um novo público de Hip Hop. Enfim, as produções vêm rolando e ainda vêm muito pela frente.

Foto Destacada: Arquivo pessoal

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