4ª Conferência Municipal de Igualdade Racial celebra a cultura afro-brasileira em Conquista
O evento contou com palestras abertas à discussão pública para votação de pautas que serão levadas em nível estadual e nacional e apresentações culturais com saudações aos ancestrais 6 de junho de 2025 Lavínia Marinho e Luísa PereiraNesta última quinta-feira (05/06), aconteceu no auditório do Cemae (Centro Municipal de Atenção Especializada), a IV Conferência Municipal de Igualdade Racial, com o tema “Igualdade Racial e Democracia: Reparação e Justiça Racial”. O evento contou com palestras abertas à discussão pública para votação de pautas que serão levadas em nível estadual e nacional e apresentações culturais com saudações aos ancestrais.
Na mesa de abertura da Conferência Municipal de Igualdade Racial estavam o presidente do Conselho Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Nana Aquino; secretária de Promoção da Igualdade Racial, Ângela Guimarães; coordenador de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Ricardo Alves; Vereador de Vitória da Conquista, Alexandre Xandó, representante da Câmara de Vereadores no evento; secretário de Desenvolvimento Social, Michael Farias, e seu assessor, Denis Oliveira.
Na abertura da Conferência, o vereador Alexandre Xandó (PT), que faz parte da mesa, trouxe a público que Conquista é uma das cidades brasileiras que mais têm comunidades quilombolas, com 34 comunidades, e que deveria ser feito um capítulo específico na Lei Orgânica Municipal para tratar desses povos. Ele ainda criticou a nova norma aprovada na Câmara de Vereadores sobre a utilização da Bíblia Sagrada como material didático nas escolas. “A escola não deve ser esse lugar de disputa religiosa, se for para botar Bíblia tinha que ter Bíblia, Alcorão, Torá, Livro dos Espíritos, tinha que ter de todas as religiões”, disse. “Sugiro ainda que a plenária da Conferência encaminhe uma moção à prefeita de Conquista, Sheila Lemos, para que a mesma não sancione essa lei.”
Já a secretária de Promoção da Igualdade Racial, Ângela Guimarães, ressaltou que a justiça racial deve incorporar também a justiça ambiental, climática e econômica. “Conquista é negra, Conquista é plural, Conquista é cigana, Conquista é quilombola.”
A Plenária de Votação Geral da Conferência foi dividida em três eixos de debate: Eixo Democracia, facilitadora Letícia Figueredo; Eixo Reparação, facilitador Ricardo Oliveira; Eixo Justiça, facilitador Fábio Felix. A partir desses debates, foram levantadas alguma questões como o fomento à cultura afro-brasileira, políticas para a juventude negra, ampliação de cotas raciais em concursos públicos, criação de frentes parlamentares negras, constituir democraticamente um plano de igualdade racial, mapear e identificar as comunidades indígenas do município e garantir políticas públicas específicas para elas. Essas propostas serão levadas a nível estadual e nacional.
Conquista e a cultura negra
Vitória da Conquista, a cidade que tem o apelido Suíça Baiana, no Censo de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) identificou que 70% da população é autodeclarada negra ou parda. “Com tantas pessoas negras e pardas, como a cidade pode ser considerada a Suíça baiana?”, questionou na conferência a advogada Dandara Pinho. Nana Aquino também fez a mesma crítica. “Vitória da Conquista pela sociedade é considerada majoritariamente branca, mas nós sabemos da influência e da quantidade de pessoas negras no nosso município. Nós somos um dos municípios que mais tem comunidades quilombolas, povos de terreiro”, enfatizou.
Além dos debates e encaminhamentos da plenária, o evento também teve manifestações culturais do povo negro. Um dos participantes foi o grupo Cash Mob, composto por Campos, Warley, Kelvin, Oreia MC e Cn Emici, que trouxeram o espetáculo de Hip Hop, Pacifistas do Gueto, para o palco do evento. “A importância do Hip Hop é exatamente o que a gente fez ali dentro, é estar nos lugares que a gente não era cogitado estar, falar o que o povo não esperava, o que são as verdades na cara”, ressaltou Cn Emici sobre o valor do hip hop em eventos como a Conferência.
Outra apresentação cultural foi o grupo Terno de Reis – Estrela Guia e a roda de capoeira ministrada pelo GNAC (Grupo Nossa Arte Capoeira). De acordo com o presidente do GNAC, João Paulo de Jesus, a capoeira vai além do esporte ou da arte, é um instrumento de educação, formação cidadã e combate ao racismo. “A capoeira é uma herança ancestral que resistiu à escravidão, à marginalização e ao preconceito. Quando subimos ao palco, não é apenas uma apresentação, é um ato político, é cultura viva, é memória coletiva”, destacou
Nas primeiras horas de evento, após a leitura do regimento, o Pai de Santo Léo de Otim e seus filhos de santo realizaram uma saudação aos ancestrais. Eles homenagearam aqueles que vieram antes e marcaram o início das atividades. Xandó, em seu momento de fala, relembrou e comemorou a isenção do IPTU dos terreiros de Umbanda e Candomblé, pontuando que diversos pais de santo perderam seus terreiros devido a cobrança do imposto.