São João em Conquista preserva a tradição das fogueiras
Famílias se reúnem para preservar a tradição que é passada de geração em geração 25 de junho de 2024 Por Kézia Maciel, Ana Paula Santana e João de JesusNa noite de 23 de junho, na festa de São João, em Vitória da Conquista, como em outras cidades do interior da baiana e do Nordeste, há uma reunião de pessoas em torno de uma fogueira. A tradição inclui ainda comidas típicas ao som de músicas, como o forró.
Na capital do Sudoeste, a festa junina com fogueiras esteve presente na maioria dos bairros. Do Candeias ao Patagônia, do Bairro Brasil ao Boa Vista e Vila América. Fogueiras estavam acesas em frente a casas e condomínios.
Apesar de ter vindo de terras distantes, essa tradição associada às celebrações do solstício de verão carrega uma mensagem universal de preservar e passar adiante. O comerciante Gidalvo Santos de Azevedo, 57 anos, acende fogueira no bairro Guarani há 20 anos com a esposa e o filho. Todo ano a família se reúne com os amigos do bairro para compartilhar a alegria dos festejos com muita música e comidas típicas. Ele comenta sobre o forte simbolismo que a fogueira em si tem para o nordestino. “O São João em si nos remete à nossa origem né. Eu acho que a fogueira é o maior símbolo da fé do nordestino.”
Sua esposa Miramá Azevedo, conta que sua paixão pelos festejos juninos e pelas fogueira veio de seu pai que também participava sempre dos festejos: “Gosto muito de acender minha fogueira, de receber meus amigos, de fazer as comidas típicas…Representa a minha família, o meu esposo, o meu filho.”
Esse costume de reunir a família nessa época ao redor da fogueira é passada de geração em geração. Jaime Vitor, 68 anos, que é morador de Macaúbas, segue desde pequeno com a família na tradição da fogueira: “Nunca deixamos de fazer. Sempre fizemos muito forró na casa de meu pai…Todo ano tem que acender o fogo…Nossos filhos já estão criados, moram fora, mas todo ano vêm”.
Para algumas famílias, a noite de São João deste ano foi marcada pela organização da fogueira pela primeira vez. Talisson Lima, 16 anos, morador de Vitória da Conquista, contou que fez parte das atividades para montar a fogueira junina. “A gente tava aqui tranquilo e do nada a gente decidiu fazer essa fogueira pra animar a noite. Daí todo mundo foi lá e fez só pra brincar mesmo. É o símbolo do São João, representando a união da família, e na fogueira todo mundo está junto pra soltar bomba, pra brincar mesmo um com o outo.”
A tradição das fogueiras não somente representa uma passagem das estações, mas também representa um símbolo espiritual importante para os devotos. O lavrador José Edilson, 59 anos, natural de Macaúbas, acende a fogueira todo o ano com a família em homenagem a São João, que representa o nascimento do profeta. “Santa Isabel, que é a mãe de João Batista, acendeu a fogueira pela primeira vez numa serra para mostrar a Nossa Senhora (Maria) que João Batista tinha nascido.”
Essa herança cultural esta marca no coração do povo nordestino. Pois carrega o significado de esperança, renovação e o compartilhar. Ana Emília, 53, comenta sobre como a festa de São João promove a união das pessoas, onde muitos se tornam padrinhos e afilhados durante os festejos. Segundo a tradição, depois da fogueira queimada, as pessoas pulam a fogueira para fazer o apadrinhamento junto com seu futuro afilhado: “É um santo que faz compadre e afilhado também inclusive. Minha cunhada eu considero muito, como se fosse de batismo”.
Fotos: Kézia Maciel, Ana Paula Santana e João de Jesus.