Bolsonaro ataca jornalista durante debate neste domingo (28)
Esse foi primeiro debate presidencial de 2022, realizado na Band em parceria com os veículos de comunicação TV Cultura, UOL e Folha de S.Paulo 29 de agosto de 2022 Mikhaelle PiagioDurante debate entre presidenciáveis na Band, neste domingo (28/08), o presidente da República, Jair Bolsonaro, candidato à reeleição pelo Partido Liberal (PL), voltou a atacar jornalista com falas sexistas, após ser questionado sobre a queda da cobertura vacinal nos últimos anos.
O ataque aconteceu no segundo bloco, em que jornalistas das empresas que integram o pool de imprensa, Folha de S.Paulo, TV Cultura, Uol e da Band, fazem perguntas aos candidatos. Os mediadores do debate explicaram que ficou decidido, previamente, em comum acordo com os partidos envolvidos, que jornalistas, definidos por sorteio, escolheriam um candidato para responder e replicar cada pergunta, com quatro minutos de tempo de resposta; e outro para comentar, em um minuto.
A jornalista da TV Cultura, Vera Magalhães, foi a segunda a perguntar e direcionou-se ao candidato do Partido Democrático Trabalhista (PDT), Ciro Gomes, com comentário de Bolsonaro. Na oportunidade, o atual presidente revidou de forma grosseira e machista à pergunta sobre de que forma a desinformação, incentivada por ele, sobre a eficácia da vacina tem contribuído para a queda da cobertura vacinal nos últimos anos, o que agravou a pandemia da covid 19 e deixou de evitar muitas mortes no Brasil.
“Vera, não podia esperar outra coisa de você. Eu acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido num debate como esse. Fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha pro jornalismo brasileiro”, foi assim que o candidato respondeu ao questionamento.
Bolsonaro encerrou sua fala com as seguintes frases: “Vera, você realmente é fantástica. Deu a oportunidade de falar um pouco de verdade sobre você”. O que o chefe do executivo parece ter esquecido é que a jornalista Vera Magalhães estava fazendo o seu trabalho e cumprindo o que tinha sido acordado previamente. E em momento nenhum deveria ter sofrido ataque pessoal, principalmente, voltado para a sua condição de mulher.
Enquanto falava, Bolsonaro ainda foi interrompido por Ciro Gomes (PDT), que tentou intervir no ataque pessoal dirigido à Vera Magalhães e o presidente mais uma vez mostrou agressividade. “ Não pedi a tua opinião”, comentou.
Na mesma fala, Bolsonaro ofendeu também a senadora Simone Tebet, candidata pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), com acusações contra a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid, mais uma vez se esquivando de responder a verdadeira questão. Encerrou afirmando que não se tratava de ofensa pessoal contra as mulheres e definiu a luta a favor dos direitos das mulheres como vitimismo.
Essa não foi a primeira vez que o atual presidente se dirigiu assim a uma jornalista, desmerecendo seu trabalho com frases de cunho sexista sem responder aos questionamentos das profissionais. Em fevereiro de 2020, o ataque foi direcionado à jornalista Patrícia Campos Mello, repórter do jornal Folha de S.Paulo. “Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim”, comentou o presidente em meio a gargalhadas.
Essa declaração foi referente ao depoimento de um ex-funcionário da Yacows, uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp, na CPI das Fake News no Congresso.
Indignados com o desrespeito que Vera Magalhães sofreu enquanto fazia o seu trabalho, internautas se manifestaram no Twitter, o que levou a hashtag #VeraMagalhães ao sétimo assunto mais comentado na rede social, ainda durante a noite de domingo (28/08). A hashtag #debatenaband ficou em primeiro.
“Bolsonaro faz ataques à jornalista Vera Magalhães e à senadora Simone Tebet. O presidente tenta diminuir a resistência entre as mulheres, mas mostra ao vivo, no debate, o tratamento que dispensa a elas”, comentou uma internauta em um post com 348 compartilhamentos.
Outro enfatizou a rejeição de Bolsonaro entre o eleitorado feminino. “Para quem precisa muito do voto feminino, Bolsonaro deu um tiro no pé ao atacar a jornalista Vera Magalhães”.
Já na manhã desta segunda-feira (29/08), uma nova hashtag #bolsonaroodeiamulheres, ainda falando sobre o ataque durante o debate relacionado a outras declarações misóginas antes mesmo de assumir a presidência, chegou a primeiro lugar no assunto mais comentado, com 14 mil postagens até às 11h de hoje.
Na hashtag mais recente, um usuário do Twitter relembrou um episódio de 2014, em que Bolsonaro se direcionou a Maria do Rosário. “Jamais estupraria você porque você não merece”.
Em nota, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) se solidarizou com a jornalista Vera Magalhães e exigiu respeito aos profissionais da imprensa. “Essa atitude reitera uma prática machista e misógina adotada por ele e que vem sendo monitorada pela Abraji em levantamento com recorte de gênero”, diz a nota da Abraji.
Foto destacada: Reprodução do Youtube