Festival 3i Nordeste articula o desenvolvimento do jornalismo na região
Equipe do Avoador apresentou a cobertura das eleições realizada na editoria Xereta, que verificou especialmente conteúdo viral compartilhado em redes sociais 24 de novembro de 2022 Malu Lima, Rebeca Spínola e Victória Meira AmaralNo último sábado (19/11), a Universidade Católica (Unicap), na capital de Pernambuco, Recife, sediou a versão regional do Festival 3i (Inovador, Inspirador e Independente), evento que valoriza os novos empreendimentos jornalísticos e promove o compartilhamento das experiências inovadoras dos veículos mais antigos. Mais de 170 pessoas estiveram presentes, entre jornalistas, comunicadores, professores e estudantes da área, financiadores de projetos e a equipe do site Avoador, oriundos do Nordeste e Sudeste do Brasil.
De acordo com a coordenadora de projetos da Ajor, Géssika Costa, o evento reuniu profissionais de diferentes regiões do país, especialmente do Nordeste, l para discutir o futuro do jornalismo digital no Brasil, tendo como temas centrais o combate à desinformação, o jornalismo investigativo, formatos de distribuição e de suporte do conteúdo, financiamento e modelo de negócio. “A gente sabe que hoje o jornalismo, além da produção digital, precisa também entender como distribuir esse conteúdo para poder chegar à sociedade. Então o 3i tem esse DNA de inovação, inspiração e jornalismo independente para poder inspirar estudantes a empreenderem na área e se sentirem inspirados para poderem abrir seus próprios negócios.”
O evento foi realizado das 8h às 19h do sábado. Pela manhã, além do credenciamento dos participantes e da abertura do 3i com Guilherme Alpendre, vice-presidente da Ajor e Maia Gonçalves, secretária executiva da Ajor, aconteceram atividades simultâneas. Houve a oficina “Como tirar uma ideia no papel e transformá-la em uma iniciativa de jornalismo digital”, que foi mediada pelo Anderson Meneses (Agência Mural), com apresentações de Isabelle Maciel (Tapajós de Fato-PA), Rafael Duarte (Saiba Mais-RN) e Juliana Aguiar (Agência Retruco-PE). Cerca de 50 inscritos aprenderam sobre o processo de criação até a rentabilização de produtos jornalísticos. O objetivo da atividade foi mostrar que uma ideia pode virar algo concreto a partir do entendimento do mercado, de estratégias, planejamento e a inovação jornalística.
No mesmo horário, ocorreu a mesa “Caminhos para a sustentabilidade”, que foi mediada por Carol Monteiro (Unicap e Marco Zero Conteúdo) e contou com a presença de Rafael Georges (Luminate) e Carol Munis (OAK Foundation), financiadores de projetos jornalísticos. Durante a conversa, os convidados apresentaram as possibilidades de conseguir financiamento para projetos jornalísticos, os desafios da filantropia no Brasil e os interesses das instituições que representavam. “A gente financia a mídia, porque a gente entende que o jornalismo é um pilar para um engajamento cívico, e para a democracia como resultado”, destacou o representante da Luminate, Rafael Georges. Já da OAK Foundation, Carol Muniz, pontuou que “é preciso uma lógica ecossistêmica para o jornalismo. Uma ética coletiva é de longe a avenida mais promissora para sustentabilidade”.
No período da tarde, os participantes acompanharam mais duas mesas. A primeira foi “Pensando fora da caixa: como encontrar a sua audiência”, cujos convidados trataram sobre a distribuição de conteúdo no meio digital. A discussão recebeu Nayara Felizardo (Newsletter Cajueira e TIB), Natali Carvalho (Núcleo), Raphael Kapa (Agência Lupa), Mariama Correia (Cajueira) e Thiago Guimarães (Aos Fatos / Ora Thiago). Cada convidado explicou como funciona a rotina de produção de conteúdo e as técnicas utilizadas para cativar o público.
A co-fundadora da curadoria Cajueira, Mariama Correia, contou que a newsletter foi criada com objetivo de dar representatividade ao trabalho jornalístico produzido na região.” A gente criou esse projeto de conexão e difusão das iniciativas de jornalismo independente do Nordeste, buscando conectá-las e difundi-las, combatendo os estereótipos difundidos sobre a região. Com isso, pretendemos estimular a audiência para os veículos de jornalismo independentes dos estados do nordeste”.
Sobre o desafio da distribuição de conteúdo no formato de newsletter, Natali Carvalho, do Núcleo, responsável pelo Garimpo, destacou a criatividade para tratar temas complexos, como a política. “A gente teve que ver um formato de contar política que não fosse no formato engessado da redação”. O comunicador Thiago Guimarães, que tem um canal no YouTube, e durante a pandemia, fez uma parceria com a Agência Aos Fatos, para desconstruir informações falsas, defendeu a importância dos empreendedores saberem para quem produzem o conteúdo. “É necessário conhecer a fundo sua audiência.”
Já o representante da Agência Lupa, Raphael Kapa, tratou sobre como combater a desinformação apresentando como exemplo o trabalho que desenvolveram na plataforma Tik Tok. “Apostamos em vídeo para cobertura das eleições deste ano, principalmente no Tik Tok, para falar sobre temas específicos, como urnas eletrônicas e covid-19, para públicos específicos, como jovens e moradores da periferia. Então para a produção dos vídeos passamos pelos processos de brainstorming, briefing e roteiro para saber como alcançar nosso público alvo”.
A segunda mesa da tarde, com o tema “O ‘ano do podcast’ no Brasil finalmente chegou?” discutiu acerca da produção de conteúdo jornalístico para as plataformas de áudio. A mesa foi mediada por Caio Santos (Griot Podcast), com a participação de Luan Alencar (Budejo), Inês Aparecida (As Cunhãs), Celso Ishigami (45 minutos) e Aldenora Cavalcante (Malamanhadas). Os convidados apresentaram os seus podcasts para a plateia e contaram sobre a rotina de produção de um podcast jornalístico, como funciona o roteiro e deram dicas para o público em produzir conteúdo em formato de áudio.
“A barreira do podcast não é tão alta. O problema é a manutenção. É você fazer aquilo ser relevante e sempre estar melhorando seu conteúdo”, destacou Caio Santos durante a conversa. Já para Aldenora Cavalcante, “o maior diferencial do podcast está na possibilidade de construir narrativas plurais e descentralizadas e engajar o público”. Luan Alencar apontou algumas dificuldades de obter sucesso na área com um produto independente e que concorre com veículos de comunicação que recebem mais destaques das próprias plataformas. “Não é fácil se destacar nesse meio, se você é independente, e pior ainda se você é do Nordeste. A gente tem que sempre romper barreiras para conseguir ter alguma visibilidade no que a gente faz”. Já Celso Ishigami destacou como o podcast é um espaço muito valioso para as pessoas e também o seu diferencial em relação às outras mídias. “O podcast mais do que tá no ouvido, eu acho que ele se materializa na cabeça, na mente das pessoas. Enquanto outras mídias você projeta numa tela, no rádio e no podcast você materializa dentro da sua cabeça”. Por fim, Inês Aparecida destacou como o público do seu podcast é mais voltado para os jovens, mesmo sendo produzido por pessoas mais velhas. “A nossa média de idade de ouvinte é de 23 a 44 anos. Os mais de 60 anos não representam nem 10% dos nossos ouvintes”.
Conversas no Jardim
No final da tarde, a partir das 17 horas, ocorreram os bate-papos Conversas de Jardim, na área arborizada da universidade. De forma paralela ocorreram as rodas de conversa “Transição de governos e os movimentos bolsonaristas”, com Sérgio Miguel Buarque, da Marco Zero Conteúdo, e Mariama Correia, da Agência Pública, e “Como cobrir a desinformação”. Em seguida, a conversa sobre “30 anos do Mangue Beat e o legado para o jornalismo cultural”, com Paulo Floro (O Grito!) e Marcelo Pereira (Conselho Editorial da Companhia Editora de Pernambuco) e a roda sobre “A cobertura ambiental no Nordeste”, com Maristela Crispim, da Eco Nordeste (CE) e Dani Bragança, do “O eco” (RJ).
A roda de conversa sobre “Como cobrir a desinformação” contou com a participação da equipe do site Avoador. A conversa contou com a participação de Ana Rita Cunha da agência de checagem Aos Fatos, Lucas Maia, da Agência Tatu e da Carmen Carvalho e Victória Meira Amaral com a experiência do Xereta do Site Avoador.
Ana Rita Cunha, do Aos Fatos, contou que durante a campanha eleitoral atuaram 20 profissionais na agência e que desenvolveram um aplicativo para transcrever as falas dos políticos durante os debates. “Além disso, havia toda uma preparação antes de cada debate para identificar os temas mais mencionados pelos presidenciáveis e estarmos mais preparados para as checagens. Primeiro, publicamos em tempo real nos Stories do Instagram, por exemplo, para depois disponibilizar no feed no dia seguinte.” Lucas Maia da Agência Tatu contou sobre a checagem das urnas no segundo turno. “A apareceu a informação falsa de que havia algumas urnas zeradas, sendo uma delas na Venezuela. Eu fui atrás da informação e descobri que não havia urnas naquele país, pois o Brasil cortou relações.” Já as representantes do Site Avoador destacaram o trabalho produzido na na editoria Xereta, que, durante a cobertura das eleições 2022 esteve focada na checagem de conteúdos virais e falas de políticos. Ao todo foram publicadas 57 checagens de informações pelo site Avoador, durante as eleições, sendo algumas delas reposts do parceiro Coletivo Bereia e da Agência Lupa e Aos Fatos.
Para finalizar o evento, os participantes puderam aproveitar um Happy Hour ao som da banda Forró Casa Amarela. Um momento descontraído e de confraternização entre participantes, palestrantes e organizadores marcou o final da 4ª edição do Festival 3i Nordeste.
Foto de destaque: Morgana Narjara dos Anjos