Jornalista de Ibicoara é vítima de ataques após denunciar evento do prefeito
A profissional teve o número de telefone pessoal exposto pelo executivo municipal em suas páginas oficiais na internet e tem recebido comentários maldosos 13 de agosto de 2020 Felipe RibeiroApós divulgar, em publicação noticiosa, a aglomeração de pessoas em um evento promovido pelo prefeito de Ibicoara, Haroldo Aguiar (PSD), no último domingo (09/08), a jornalista Andreia Giovanni tem sido atacada nas redes sociais. A profissional teve o número de telefone pessoal exposto pelo executivo municipal em suas páginas oficiais na internet, na quarta-feira (12/08), e tem recebido comentários maldosos.
Depois da repercussão da matéria, Aguiar foi notificado pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) por descumprir o decreto do próprio município que proíbe a reunião de pessoas durante a pandemia da covid-19 e dispõe de outras medidas de prevenção.
O evento, que reuniu dezenas de pessoas, aconteceu no povoado de Mundo Novo. O prefeito organizou a cerimônia para anunciar e comemorar a entrega de um trator na localidade. De acordo com o decreto nº 067/2020, publicado em 6 de agosto pela Prefeitura de Ibicoara, é preciso manter o isolamento social durante a pandemia do novo coronavírus e evitar aglomerações que possam acelerar o contágio da doença.
Nas fotos da comemoração, divulgadas no Instagram e Facebook do próprio prefeito, é possível observar cidadãos sem máscaras ou fazendo o uso indevido do material. Haroldo Aguiar (PSD) também aparece nas imagens sem a máscara de proteção.
Além de ter seu telefone exposto, Andreia foi alvo de ataques de apoiadores de Aguiar nas redes sociais. Alguns moradores disseram que a denúncia era fruto da “inveja” da administração municipal. Confira prints dos comentários:
Em entrevista ao Avoador, Giovanni disse que, durante a produção da matéria publicada no Sudoeste Digital, ela entrou em contato com o prefeito para ouvir o seu posicionamento sobre a aglomeração em Mundo Novo. Como resposta, Aguiar apenas respondeu que tudo o que precisava ser dito estava em sua página no Facebook e enviou diversos links para a jornalista.
Andreia já esperava pela repercussão da matéria, mas não imaginava que seria atacada e exposta dessa forma. “Eu não esperava um ataque direto, ainda mais partindo do gestor do município”, afirmou a jornalista. “Quando ele me expõe dessa forma, está dando margem para outros e legitima que os apoiadores dele façam o mesmo”.
As consequências de atitudes como essa, segundo Giovanni, podem ser observadas no cenário nacional com o comportamento do presidente da República, Jair Bolsonaro, em relação à imprensa brasileira. Segundo relatório da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), em 2019, foram 208 ataques a jornalistas e veículos de comunicação no país. Esse número representa um aumento de 54,07% em relação a 2018, ano em que foram registradas 135 ocorrências. O ataque a jornalistas que trabalham no âmbito digital ficou em terceiro lugar com 18,55% (23 casos registrados) no ranking das violências por tipo de mídia.
Em sua página no Facebook, Haroldo Aguiar (PSD) publicou fotos das denúncias que recebeu do Ministério Público da Bahia (MP-BA) e alegou ser perseguido pela oposição. Na postagem, ele disse que “nada me fará mudar minha forma de administar (sic) e abraçar nosso povo”.
A jornalista, formada pelo curso de Jornalismo da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), turma de 2016, contou que já foi alvo de ataques no passado, quando um perfil fake divulgou o seu endereço residencial. Agora, ela teme por sua família, mas disse que não irá aceitar que cerceiem a liberdade de imprensa. O site Sudoeste Digital, onde Andreia publicou a notícia, fez a denúncia de intimidação ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Bahia – Sudoeste (Sinjorba), à Associação Bahiana de Imprensa (ABI), ao Ministério Público estadual (MPe) e à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e demais entidades de defesa da liberdade de expressão.
Em Vitória da Conquista, a diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Bahia (Sinjorba) – Sudoeste, Edna Nolasco, destacou as dificuldades de exercer o jornalismo no interior do estado. “Ao ser jornalista, noticiar de forma imparcial é a regra. No entanto, exige uma grande dose de coragem quando se trabalha em municípios pequenos. Os dirigentes agem como “proprietários” de tudo que ali há”, destacou. A entidade publicou, nesta quinta-feira (13/08), uma nota de repúdio em defesa da jornalista, Andreia Giovanni, e do livre exercício da profissão.
De acordo com a presidente da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), Maria José Braga, “há, de fato, uma permanente ameaça à liberdade de imprensa no Brasil e à integridade física e moral dos jornalistas. É preciso urgentemente frear o arbítrio instalado no país”.
A equipe do Avoador entrou em contato com a Prefeitura de Ibicoara para buscar esclarecimentos a respeito da situação, mas até o momento desta publicação não obteve resposta.
Foto de capa: Reprodução/Internet