Jornalista João Mércio, o 12º “jogador” do Flamengo, conta a sua experiência no jornalismo esportivo
Há dois anos no time carioca o jornalista já acumula entrevistas com jogadores famosos e uma cobertura do título da libertadores da América 21 de agosto de 2021 Rângel Mendes
O jornalista esportivo João Mércio, de 26 anos, é repórter e apresentador da Fla TV, canal oficial do Flamengo no Youtube, desde 27 de junho de 2019. Ele já passou pelo jornal Lance! e terminou a sua graduação em 2017 no curso de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
Em entrevista exclusiva à editoria Jornalismo Importa, Mércio relembra algumas das experiências vivenciadas nesses dois anos de atuação na profissão, como entrevistas com jogadores e técnicos famosos. Também deixa um recado e dá algumas dicas aos futuros jornalistas do curso de Jornalismo da Uesb que pretendem atuar na área esportiva.
Rângel JI- O que levou você a escolher a profissão de jornalista?
João Mércio – Eu sempre gostei muito de esporte e de futebol principalmente, e lá para os meus 15 anos de idade, no Ensino Médio, eu comecei a achar uma opção mais viável. Já que eu não ia conseguir ser jogador e como eu era bom de português, eu fiz faculdade, e as coisas foram acontecendo.
RM-JI– Algum jornalista foi sua inspiração nessa escolha?
JM – Eu não tinha uma inspiração fixa, mas eu acompanhava bastante o Eric Faria (repórter da TV Globo que faz cobertura esportiva), que estava sempre perto do Flamengo, era isso que eu queria, era o que eu sonhava. Hoje, eu trabalho no Flamengo e estou sempre perto dele também, e isso é uma coisa bem legal. Mas eu nunca tive muitos ídolos não, eu sempre achei que podia fazer meu caminho.
RM-JI – Como é trabalhar com o seu time preferido na profissão que escolheu?
JM – É um sonho cara, ficar sempre perto do Flamengo. Eu fiz Jornalismo para estar perto do futebol, para viver esses momentos, acompanhar de perto e contar essas histórias. Na Fla TV, eu consigo fazer isso de uma forma 100% dentro do Flamengo, dentro do vestiário, estar na festa dos títulos. Dei uma sorte ainda de ser contratado junto com o Jesus (ex técnico do Flamengo) e peguei o momento mais incrível do século do Flamengo, e realmente é incrível. A Fla TV tem uma questão diferente porque, às vezes, eu deixo de ser jornalista e me torno torcedor. Eu não consigo me segurar e torço mesmo. Isso é um caminho diferente porque o Jornalismo sempre foi imparcial, sempre pregaram pela imparcialidade. Eu trabalhei no jornal Lance!, cobri o Vasco, cobri o Fluminense, ou seja, eu já fiz trabalhos com os clubes rivais, e fui totalmente imparcial, sem emoção, fazendo só o “correto”, da forma que o jornalismo pede. Mas, desde que eu entrei na Fla TV, não é só jornalismo, é jornalismo com entretenimento.
RM-JI – Qual foi o seu primeiro entrevistado importante? Você ficou nervoso?
JM – A primeira matéria mesmo que eu fiz foi a chegada do Pablo Marí (ex-zagueiro do Flamengo) e do Gerson (ex-volante do Flamengo) no aeroporto. Eram meus primeiros dias, primeira semana de Fla TV, e eu nunca tinha colocado a cara de verdade na imagem. Eu já era jornalista, já tinha trabalhado no Lance! durante dois anos, mas eu só fazia reportagem sem imagem, só gravava com o celularzinho o áudio e depois escrevia. Fiquei muito nervoso, mas também deixei fluir. Uma coisa que eu faço bastante no meu jeito de fazer jornalismo, eu deixo aflorar esse meu lado torcedor bastante, porque eu pergunto o que quero saber, porque sou um torcedor também, então eu tenho essa noção do que a torcida quer saber. Então eu estava bem nervoso quando o Gerson e o Marí chegaram, mas deu tudo certo, foi interessante, entrevistar o Jorge Jesus (ex-técnico do Flamengo) foi muito difícil também, porque sei lá ele tem uma alma grande assim que te intimida. Você fica com medo de falar com ele. No começo, eu ficava muito nervoso, já sofri críticas também na internet, mas hoje eu estou bem tranquilo, até porque eu já tenho uma certa intimidade com os jogadores, com o presidente, com a diretoria, e as coisas fluem naturalmente.
RM-JI – Recentemente, você teve no SBT, foi sua primeira vez na televisão aberta? Foi uma experiência boa?
JM – Como convidado, foi a primeira vez. O pessoal lá do SBT me chamou, e eu fiz minha participação. Eava até meio nervoso, porque é um público diferente daquela da Fla TV, que óbvio 99% são Flamenguistas, e é um público de internet, que é um público diferente, mas tive uma repercussão legal.
RM-JI – Você chegou a entrevistar o Zico, que é tido por muitos torcedores como o jogador mais importante da história do Flamengo, como foi essa experiência?
JM – O Zico foi o cara que eu mais tremi para entrevistar. Dei “migué” falando que não ia entrevistar, e a produtora Adriely, que é a produtora da Fla TV, que fica atrás das câmeras, falou “não, você tem que entrevistar”. Fiquei com medo e nervoso porque, desde pequeno, sempre ouvi que ele era uma lenda, um fenômeno e também vi os vídeos dele jogando. Ele passa uma energia incrível, é muito gente boa. Mesmo eu estando nervoso, ele mesmo me dava uma “zuada” para quebrar o clima. No final, deu tudo certo.
RM-JI – Como foi estar no trio elétrico com os jogadores na comemoração do título da Libertadores da América?
JM – Ali foi onde eu percebi que as coisas tinham acontecido pra mim. Eu tinha acabado de chegar na Fla TV e eu não sabia se as coisas iam dar certo ou não, mas, quando eu me vi em cima do trio elétrico fazendo matérias e entrevistas, eu chorei, porque percebi que o jornalismo me levou a lugares que nunca imaginei. Eu realizei não só um sonho profissional, mas um sonho pessoal de uma forma incrível, épica. Ali, para mim, na conquista da Libertadores, foi o melhor dia da minha vida. Ali eu falei: “Cara, tomei a decisão certa de ter feito jornalismo, isso aqui já pagou tudo, todas as inseguranças, dúvidas”. Deu tudo certo no momento certo e na hora certa.
Considerações finais:
Qual conselho você dá aos estudantes do curso de Jornalismo da Uesb que pretendem seguir no jornalismo esportivo?
“Pode ser até um papo meio clichê, mas confia no teu potencial, confia no que você imagina, no que você pensa. Consuma bastante conteúdo, veja outras coisas. Eu acho que é só confiar no teu potencial, confiar nas tuas ideias. Se você tiver uma ideia boa, você pode conseguir fazer dar certo. Então o que eu tenho a dizer é para cada um seguir o seu caminho mesmo, as próprias ideias e não desistir”
– João Mércio
Foto do destaque: Tirada durante a entrevista