Mudanças nas diretrizes de remoção de conteúdo falso no YouTube não barram a desinformação sobre vacinas contra a covid-19

Ao todo 65 vídeos, metade deles monetizados, propagam desinformações sobre as vacinas, além de apresentar 3,8 milhões de visualizações 29 de outubro de 2020 Carolina Lapa

Uma análise feita pela União Pró-Vacina (UPVacina), que tem como objetivo criar e compartilhar conteúdos informativos e educacionais sobre a importância das vacinas, com base em links e canais compartilhados nos principais grupos antivacina do Brasil comprovou a falta de eficiência da plataforma em cumprir essa nova política. A monetização dos vídeos está permitindo que tanto os autores quanto o próprio YouTube se beneficiem financeiramente do material.

O estudo encontrou e mapeou 65 vídeos que somam cerca de 3,8 milhões de visualizações, publicadas entre 2 de março e 21 de outubro por 37 canais diferentes com aproximadamente 3,1 milhões de inscritos. Entre os principais temas, mentiras tradicionalmente utilizadas pelos grupo antivacina, como presença de células de fetos abortados na composição dos imunizantes e uso dessas substâncias para inserir microchips ou alterar o DNA humano com o propósito de controlar a população.

Outras já se inserem no contexto da pandemia, como uma suposta negociação da vacina contra covid-19 antes mesmo do conhecimento da existência do novo coronavírus. No total, são quase 30 horas de vídeos.

É fundamental destacar que desde 20 de maio, o Youtube afirma ter uma política de informações médicas incorretas relacionadas à covid-19. A plataforma diz não permitir o envio de conteúdo que contrarie orientações da Organização Mundial da Saúde ou autoridades de saúde locais sobre tratamento, prevenção, diagnóstico e transmissão da doença. No início de outubro, houve uma atualização importante proibindo a desinformação sobre vacinas contra covid-19.

Um vídeo publicado originalmente na plataforma que se tornou o conteúdo com maior repercussão em redes sociais em setembro, alvo de análise da UPVacina lançada no início de outubro, foi desmonetizado e posteriormente banido. Porém, menos de 8% dos vídeos analisados no estudo atual continham qualquer tipo de alerta da plataforma e quase metades deles (31) está monetizado.

A UPVacina destaca que a questão se torna extremamente crítica porque, além de possibilitar a disseminação em larga escala desse tipo de conteúdo, o YouTube também viabiliza financeiramente esse sistema, ao lucrar com a desinformação e repassar parte do valor aos produtores. O vídeo com mais acessos nesta última análise tem cerca de 940 mil visualizações e também segue monetizado. É uma entrevista em espanhol feita por um canal chileno com uma médica argentina sobre a pandemia da covid-19 e o desenvolvimento de vacinas.

Entre as afirmações absurdas estão o patrocínio, pela fundação Bill e Melinda Gates, da produção de vacinas com o objetivo de infectar pessoas com um suposto vírus capaz de destruir um possível gene ligado à capacidade de acreditar em religiões. A reincidência da produção de desinformação também comprova a ineficácia do cumprimento das políticas de remoção de conteúdo do YouTube.

A análise da UPVacina constatou que apenas dois canais foram responsáveis pela produção de 15 vídeos com conteúdo falso no período analisado, que geraram quase 1,2 milhão de visualizações. Esses canais somam 539 mil inscritos e todos os vídeos produzidos por eles presentes na análise estavam monetizados.
Para os integrantes da UPVacina, é necessário esse movimento das plataformas, mesmo que tardio e fruto de pressões, para mitigar sua participação como eixo de sustentação no grande mecanismo da desinformação.

Imagem destaque: Pexels

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