Advogada é xingada por vizinha de “macaca negra” no Condomínio Vog Capriccio
A vítima sofreu os ataques após solicitar a uma vizinha moradora que retirasse o carro que ocupava a sua vaga de garagem 21 de junho de 2022 Victória Meira AmaralNa última sexta-feira (17/06), a advogada e conselheira seccional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) seccional de Vitória da Conquista, Yldene Martins da Silva, de 41 anos, foi vítima de injúria racial dentro do condomínio onde mora, o Vog Capriccio. Ela foi chamada de “macana”, “urubu”, “mula preta” e “égua negra” por uma mulher que mora no mesmo local.
De acordo com a vítima, os xingamentos aconteceram após ela pedir à outra moradora que tirasse o veículo da sua vaga da garagem no condomínio. “Eu fui até ela para pedir para fazer a retirada do veículo, me identificando como a dona da vaga. E naquele momento, ela se recusou e começou o discurso de ódio, carregado de injúrias raciais:macaca, mula preta, égua negra, urubu preto.”
No momento seguinte às agressões, Yldene lembra que procurou manter a calma e solicitou novamente à mulher que liberasse a vaga, o que a deixou ainda mais exaltada, Além das expressões racistas, a outra moradora pegou a sandália e tentou avançar em direção à advogada, dizendo: “eu vou dar uma surra nessa égua negra”.
Foi então que a advogada decidiu ligar para a Polícia Militar. “Eu estava em estado de choque que quase não consegui pegar o celular dentro da bolsa e discar o número da polícia”. Após a ligação, a PM foi até o local do ocorrido, mas não encontrou a autora da agressão. A vítima fez o boletim de ocorrência no Distrito Integrado de Segurança Pública (Disep).
“Foi muito nojento. Lamentável.”, disse Yldene a respeito da situação que viveu. “Naquele momento, conforme ela ia falando os animais, eles iam passando na minha mente, quando ela me chamou de macaca, de mula preta, de urubu. Ela me chamou de égua, cachorra, cadela negra. Se você me perguntar sobre o sentimento que eu espero, é o de justiça.”
Desde as agressões, a advogada tem recebido o apoio da Comissão de Promoção da Igualdade Racial da entidade da subseção da Ordem em Vitória da Conquista, , e da Seccional baiana da OAB. A entidade de Conquista divulgou no sábado (18|06), uma nota em solidariedade a Yldene. Na publicação, a entidade lamenta o tratamento racista que muitos negros ainda sofrem no Brasil. “É inadmissível que no Brasil, maior nação negra fora do continente africano, tenhamos que conviver com práticas cotidianas de opressão que negam direitos e tentam rebaixar o ser humano pela cor da sua pele, origem, raça ou etnia. Como ressalta a filósofa e antropóloga Lélia Gonzalez, “Enquanto a questão negra não for assumida pela sociedade brasileira como um todo: negros, brancos e nós todos juntos refletirmos, avaliarmos, desenvolvermos uma práxis de conscientização da questão da discriminação racial neste país, vai ser muito difícil no Brasil, chegar ao ponto de efetivamente ser uma democracia racial.”
A presidenta da Comissão de Igualdade Racial da OAB de Conquista, Maria Aparecida Carvalho, está acompanhando a situação. Segundo ela, o ato da denúncia é muito importante, mas ainda é de difícil acesso a todas as vítimas. “Por causa do racismo estrutural, atos de racismo e injúria racial são disfarçados de brincadeira, e até os que sofrem com isso não conseguem perceber que são vítimas. Há ainda o fato de que a maior parte da população pobre no Brasil é negra. Para você abrir um processo hoje é caro, porque tem que contratar um advogado. Então muitas pessoas acabam não tendo a oportunidade de entrar com uma ação.”
Em relação à ação do condomínio sobre o acontecido, a vítima contou que o síndico do Vog Capriccio lidou com a situação como uma briga entre vizinhas, e que o mesmo tentou coagi-la a não falar publicamente sobre o assunto. “Foi uma forma de querer me calar e silenciar, dizendo que o que ocorreu, não adiantaria denunciar porque não teria resultado. Mas, mesmo ouvindo tudo isso do meu sindico, eu levei o caso adiante.”
Após a divulgação da nota da OAB, o condomínio se manifestou sobre a violência ocorrida no local. “Até sábado, eu estava invisível para o condomínio. E de repente hoje, segunda-feira, eles reconhecem soltando uma nota de repúdio, dizendo que repugnam qualquer tipo de preconceito racial e agressão, seja ela verbal ou física, e que esperam que seja apurado. Quando um ato de racismo é silenciado, isso dá força para que haja a manutenção dele na sociedade.”
Em nota, a administração do Condomínio Vog Capriccio repudiou qualquer ato discriminatório racial ou de qualquer outra natureza. E ainda, afirmou que acredita na justiça através da ação direta da PM de Vitória da Conquista e do poder judiciário. “Estamos certos de que, através dos órgãos competentes, essa ocorrência será devidamente apurada, investigada, testemunhas ouvidas e os culpados devidamente punidos.”
Foto destacada: Reprodução redes sociais
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