Câncer de mama: informação e acesso a exames salvam vidas

Em Conquista, a Carreta da Saúde oferecerá mamografias, raios-X e ultrassonografias até o dia 31 no Centro Cultural Glauber Rocha. Já Governo da Bahia disponibilizará 30 mil mamografias nas policlínicas do interior baiano 25 de outubro de 2024 Por Rafaella Leite

“Foi um choque. Chorei, mas levantei a cabeça. O nódulo era profundo e precisei fazer uma cirurgia para retirar a mama rapidamente. Fiz seis sessões de quimioterapia, e esse foi o momento mais difícil, pois é um tratamento muito agressivo, mas minha mãe e minhas irmãs me deram todo apoio. Na segunda vez, tirei um quadrante da outra mama, mas não pude mais fazer quimioterapia devido a uma doença no coração. Então, retirei. Hoje, graças a Deus, estou curada”, disse Francisca de Cássia Brito, de 56 anos, de Vitória da Conquista. 

Francisca de Cássia Brito venceu o câncer de mama. Crédito: arquivo pessoal

Cássia é aposentada e já enfrentou dois diagnósticos de câncer de mama ao longo de sua vida. O primeiro foi em 2001, quando notou a alteração durante um autoexame enquanto tomava banho. O segundo ocorreu em 2016, e em ambas as situações, foi necessário realizar a retirada das mamas.

A campanha nacional do “Outubro Rosa”, instituída pela Lei nº 13.733, busca conscientizar a população sobre o câncer de mama, uma das principais causas de morte entre mulheres, superando os cânceres de colo do útero e pulmão. Em 2023, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estimou aproximadamente 74 mil novos casos para todo o país em 2024. Na Bahia, até julho, foram registradas 2.705 internações, sendo 2.679 mulheres e 26 homens. Entre janeiro e outubro, ocorreram 919 mortes em decorrência da doença, com 907 mulheres e 12 homens, de acordo com dados da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab).

O câncer de mama se origina nas células mamárias e, geralmente afeta mulheres entre 40 e 69 anos, sendo influenciado por fatores como desequilíbrios hormonais, predisposição genética, exposição à radiação e obesidade. Os sintomas mais comuns incluem o surgimento de nódulos, alterações na forma dos seios, mudanças na pele e secreções sanguinolentas. Embora seja raro, a doença também pode acometer pessoas do sexo masculino, com uma taxa de incidência de aproximadamente 1 a cada 100 homens. 

Até este mês, em Conquista, conforme dados do DataSUS, o Sistema Único de Saúde realizou 1.269 exames de mamografia, dos quais 1.263 foram feitos em mulheres e 6 em homens. Nos resultados, 356 mulheres apresentaram risco elevado, 144 desconheciam a gravidade e 763 não tinham riscos identificados. Entre os homens, apenas 1 teve risco elevado, 2 não sabiam de seu estado e 3 não apresentavam riscos.

Os exames histológicos totalizaram 314, com 57 mulheres apresentando alto risco, 24 sem identificação e 231 sem nenhum risco. Dois homens também realizaram esse exame, mas os resultados não indicaram gravidade. Já os exames citológicos, que somaram 32, foram realizados exclusivamente em mulheres. Dentre esses, 4 apresentaram risco elevado, 4 não foram identificados  e 24 não mostraram riscos.

Mastologista comenta sobre desafios enfrentados no tratamento do câncer de mama. Crédito: acervo pessoal

Segundo o médico mastologista, André Veloso, professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), as chances de cura são maiores com um diagnóstico precoce. No entanto, disparidades no acesso ao tratamento entre as redes pública e privada, além dos efeitos do isolamento social e familiar, representam desafios a serem superados principalmente na vida das pacientes. “As mulheres muitas vezes têm dificuldade em realizar a mamografia, a biópsia e, frequentemente, não conseguem a reconstrução mamária de imediato, tendo que sair para buscar tratamento em outras cidades. É necessário um acompanhamento multiprofissional; o preconceito, a queda de cabelo e o afastamento de familiares e amigos geram um grande impacto.”

Alarmante

De acordo com o INCA, 57% das mulheres negras e 10% das pardas enfrentam formas mais agressivas de câncer de mama triplo negativo e possuem maiores chances de mortalidade em comparação às mulheres brancas. No SUS elas representam 76% dos usuários. Conforme um estudo do Instituto do Câncer de São Paulo, a incidência de câncer de mama em mulheres brasileiras com menos de 40 anos é de 15%, um índice superior ao observado em outros países. Esse número chega a ser o dobro do registrado nos Estados Unidos, onde a média é de 5%.

Em fevereiro de 2024, a fisioterapeuta Rahab Vieira, recebeu o diagnóstico de câncer de mama hormonal do tipo luminal B após exames de rotina. Ela relatou ter passado por três cirurgias — duas na mama e uma no braço — e enfatizou que o diagnóstico precoce foi fundamental para sua recuperação. Além disso, Rahab fez um apelo às mulheres destacando a importância da conscientização e da detecção precoce da doença.

Rahab Vieira fala sobre as dificuldades enfrentadas durante o tratamento, que foi concluído em setembro. Crédito: acervo pessoal

“Foi um câncer muito inicial, de um centímetro e meio. Depois das cirurgias, fiz quatro ciclos de quimioterapia e 15 sessões de radioterapia. Para mim, a pior parte foi lidar com os efeitos colaterais. Devido a uma infecção, precisei ficar em isolamento, mas Deus não me desamparou em nenhum momento. Recebi um apoio gigantesco da minha família e dos meus amigos. O câncer nunca é uma decisão de vida; é apenas um diagnóstico, mas não é um destino. Não existe idade para ter câncer; não há classe social, não há religião. Precisamos ter cuidado e prevenir; quanto antes se descobre, mais fácil é conseguir um tratamento eficaz.”

Exames e autocuidado

A Carreta da Saúde, uma iniciativa da prefeitura municipal, estará realizando mamografias, raios-X e ultrassonografias gratuitas no Centro Cultural Glauber Rocha até o dia 31 de outubro. Além desses serviços, outros atendimentos rotineiros também estarão disponíveis à população. A distribuição de senhas terá início às 7h, com atendimento até as 17h durante a semana. No sábado, o atendimento ocorrerá das 7h ao meio-dia. Neste mês, aqueles que não possuem o pedido médico para realizar o exame preventivo poderão solicitá-lo diretamente aos profissionais de saúde da carreta.

A Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres (SMPM) de Vitória da Conquista realiza em sua sede e no Centro de Referência Albertina Vasconcelos (CRAV), uma série de ações preventivas e educativas voltadas para o diagnóstico precoce e a conscientização sobre o câncer de mama. A iniciativa inclui palestras informativas sobre os serviços de atendimento gratuito e a rede de apoio disponível e promove o autocuidado e o empoderamento das mulheres que enfrentam a doença.

O governo do estado oferecerá 30 mil mamografias gratuitas nas policlínicas regionais de saúde, tanto na capital quanto no interior. A campanha atenderá municípios como Vitória da Conquista, Jequié, Guanambi, Feira de Santana, e mais 19 cidades. O agendamento será feito pelo site oficial da campanha, com atendimentos de segunda a sábado, das 7h às 18h.

Para participar, as pacientes devem ter entre 40 e 69 anos, não ter realizado mamografia no último ano e não ter passado por cirurgia de mama. No dia do exame, é necessário apresentar documentos como RG, CPF, cartão do SUS e comprovante de residência. O serviço de mamografia da Parceria Público-Privada (PPP) de Imagem, disponível nos hospitais estaduais de Vitória da Conquista, Jequié e Guanambi, oferecerá 90 exames e promoverá ações educativas.

Direitos

A Lei nº 13.896/2019, do Senado Federal, estabelece que o SUS deve realizar exames para a detecção do câncer de mama em até 30 dias, sendo necessária apenas a apresentação da solicitação médica. O SUS também garante pela Lei nº 12.732/2012 que procedimentos oncológicos, medicamentos e insumos para o tratamento do câncer de mama sejam oferecidos em até 60 dias após o diagnóstico, o direito à reconstrução das mamas também é assegurado com a Lei nº 9.797/1999. Já o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) concede auxílio-doença por incapacidade temporária e permanente.

As legislações federais e estaduais também oferecem isenção de impostos, como IPI, ICMS, IOF e IPVA, para a compra de veículos adaptados, além de possibilitar a quitação do financiamento da casa própria para mulheres com câncer de mama. Outros benefícios incluem a prioridade especial em processos judiciais e administrativos, direito ao transporte coletivo urbano gratuito e a liberação do saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

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