Conquista tem mais de 50% dos lares chefiados por mulheres

Entre os grupos, as famílias monoparentais, com mulheres sem marido, têm a maior taxa, com 17,04% 5 de novembro de 2024 Arthur Vitor e Rafaella Leite

“Criar duas filhas sozinha não foi fácil. Eu assumi o papel sozinha de provedora e educadora, tanto no sentido financeiro quanto no psicológico. O divórcio com o pai delas aconteceu quando a mais nova estava com um ano e a outra com quatro”, relembrou a professora da rede estadual da Bahia, Sandra Silva, 57 anos. “Havia momentos desafiadores, sem ninguém para compartilhar as decisões e as responsabilidades. Deus foi quem me sustentou e me deu força e ainda contei com o apoio da minha família.”

Sandra Silva professora da rede estadual. Crédito: Arquivo pessoal.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Vitória da Conquista tem uma população de 193.468 mulheres, das quais 50,44% são chefes de família. Sandra faz parte do grupo de famílias monoparentais, que são sem cônjuge, mas com filhos ou enteados. Divorciada há 25 anos, ela tem uma filha de 30 anos formada em engenharia química, e outra, de 26 anos, graduada em arquitetura, ambas pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). Essa classificação familiar é a maior entre as provedoras, representando 17,04%.

No Brasil, as mulheres representam 49,1% dos responsáveis pelo provimento das necessidades do lar e do convívio familiar, enquanto os homens correspondem a 50,9%. O IBGE identificou que as pessoas pardas formam a maior proporção entre os chefes de família, com 43,8%, seguidas pelos indivíduos de cor branca, que somam 43,5%. O percentual de pessoas negras aumentou na última década, passando de 9,0% para 11,7%. Por outro lado, a proporção de pessoas identificadas como amarelas caiu de 1,2% para 0,5%, enquanto a média de indígenas variou de 0,4% para 0,5%.

A educadora social Keu Sousa, de 45 anos, é negra e veio da periferia. Mãe solo desde 2008, ela critica a romantização da maternidade por ser uma questão perversa para as mulheres.  A falta de políticas públicas que atendam às necessidades das mães ainda representa um grande desafio.

Keu Souza educadora social. Crédito: Arquivo pessoal.

“Minha renda financeira foi para o buraco, e eu tive que me reinventar. Fui professora dos meus filhos e permiti que eles participassem de todos os meus processos, e isso foi importante para humanizá-los. Criei dois homens de muito bom caráter e com um senso de humanidade; hoje sou avó e consigo ressignificar”, explicou.  “Antes, eu estava em um estado de alerta o tempo todo, parece que nós não somos corpos dignos de relacionamento e afeto. Precisamos de uma consciência social, de classe e política que crie redes de apoio para fortalecer outras mulheres.”

Diversidade familiar

Em Conquista, a porcentagem de mulheres que lideram grupos familiares com outras composições (amigos, parentes, filhos adotados por casais tradicionais ou do mesmo sexo) totaliza 12,7%. As famílias nucleares compostas por pais e filhos lideradas por mulheres representam 10,98% do total.

Maria Vitória de Jesus, de 60 anos, tem oito filhos. A lavradora mora no bairro Santa Marta, mas nasceu no povoado do Capinal, na zona rural do município. Desde a infância, assumiu responsabilidades em relação à sua família. “Comecei a trabalhar com 10 anos, fazendo serviços domésticos para vizinhos. Aos 22 anos, assumi o papel de chefe de família. Quando os filhos eram pequenos, o esforço era bem maior. Passamos por momentos difíceis, como a falta de moradia; rodei com minha família em busca de terras durante muito tempo”, contou. “Agora tenho apenas um filho em casa, e 7 dos 8 já se casaram e me deram netos. Nosso melhor momento é agora, com a força de Deus, meu marido e eu conquistamos a casa e o terreno.”

Maria Vitória lavadora. Crédito: Arquivo pessoal.

As famílias compostas por casais em união estável, com filhos biológicos ou de uniões anteriores, somam 3,69%. Já entre os casais que não possuem filhos, a porcentagem é de 6,03%.

Domicílios por sexo do responsável

Dos 160.568 domicílios da cidade, as casas correspondem a 81,18% do total, ou seja, 104.784 unidades, enquanto os apartamentos representam 15,25%, totalizando 24.682. As casas de vila e condomínios somam 3.425 unidades, o que equivale a 4,4%. Os cortiços representam 0,13% (170) e os ambientes com estruturas degradadas ou inacabadas correspondem a 0,2% (25).

Em relação às espécies de unidades domésticas, 82.419 (63,81%) são nucleares, 22.170 (17,16%) são unipessoais, 21.892 (16,95%) são estendidas e 2.685 (2,08%) são compostas. A média de moradores em domicílios é de 2,87 para mulheres e 2,86 para homens. Entre os moradores, 72.161 pessoas (55,87%) formam casais de sexos diferentes, enquanto 56.469 (43,72%) não possuem cônjuges e 536 (0,41%) estão em uniões com cônjuges do mesmo sexo.

Quanto ao número de moradores, 35.356  (27,37%) têm dois moradores, 33.337 (25,81%) vivem com três, 23.671 (18,33%) com quatro, 9.236 (7,15%) com cinco, e 5.396 (4,18%) têm seis ou mais moradores. Além disso, 22.170 (17,16%) residem sozinhos.

Faixa etária e raça

A média de moradores em domicílios varia de acordo com a idade e a cor/raça do responsável. Em relação ao grupo de idade, a média é de 3,05 para aqueles com até 17 anos, 2,49 para a faixa de 18 a 24 anos, 3 para a faixa de 25 a 39 anos, 3,05 para 40 a 59 anos, e 2,49 para pessoas com 60 anos ou mais.

Por cor ou raça, a média entre pessoas pretas é de 2,98, com 51.546 habitantes; entre pessoas amarelas, a média é de 2,96, com 387 indivíduos. Os pardos vêm logo em seguida, com uma média de 2,89 e 208.824 pessoas; indígenas têm uma média de 2,76, com 701 indivíduos; e brancos apresentam uma média de 2,74, com 109.419 pessoas.

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