#MãeQueEscreve | Puerpério: o outro lado do arco-íris
Essa fase tão delicada após o parto é a menos comentada entre as mulheres, mas uma das mais difíceis para quem inicia na maternidade 3 de fevereiro de 2020 Mariana AragãoO puerpério é intenso, bonito, doloroso no corpo, na mente e na alma. É monumental, mas, às vezes, invisível, é tudo e não é nada ao mesmo tempo. É uma mistura de emoções opostas e sensações primitivas, tem luz, sombra e todas as cores. O puerpério é o contrário ao que imaginei, é a realidade aumentada com todos os sentidos em seu ponto mais agudo, com a natureza em plena floração. É viver um dia de cada vez, amar pelas entranhas, aprender a língua da lua e ver o rosto de uma mãe acordada em cada estrela. É aprender a agradecer, perdoar, amaldiçoar e fazer as pazes.
O pós-parto não é como o pintam, é tudo o que ninguém nos mostra. É o que se esconde por trás das portas de uma sala quente com o cheiro de uma mãe recém-nascida. O binômio mãe-bebê vive a experiência transformadora e dolorosa de esquecer expectativas, filtros e opiniões e apenas se rendem a essa vida compartilhada entre lençóis, lágrimas e leite. O puerpério não é glamouroso. É a primeira lição para aprender a viver no mundo imprevisível da maternidade, de aceitar mudanças, de procurar apoio, de receber ajuda, de definir prioridades, de cuidar do que é importante e liberar todo o resto.
A solidão é brutal, principalmente na madrugada, no silêncio, no escuro. A gente vê a vida passar pela janela, percebe que o mundo continua vivendo e que as coisas continuam seguindo seu curso. A gente se sente literalmente fora do mundo, o tempo não passa para a mulher puérpera. É um momento intenso de amor e de luto. A perda da identidade e da individualidade não acontece com sutileza. A gente sente, sente na pele. Sente no cochilo que não deu para terminar, nas unhas que não conseguimos pintar, nos planos que a gente adiou. Agora existe um bebê completamente indefeso e dependente, que não compreende que ele e a mãe são pessoas distintas. Não por acaso, ele é a pessoa que mais amo no mundo.
Talvez o puerpério seja o tempo que uma mãe tem para reconstruir essa identidade que se encontra tão fragilizada. Talvez ele seja um mergulho profundo e intenso em nossa própria alma. Talvez seja apenas o processo de se tornar mãe, de entrar em uma nova realidade. Tempo de perceber que neste novo espaço cabe a mulher-mãe, mãe e, talvez, seja esse o momento em que elas se misturam. Talvez seja um encontro com as nossas sombras.
Foto destacada: Arquivo/Avoador
Bravo, Mary! Excelente texto! Você relata tudo que toda mãe vive e sente, mas não consegue externar dessa forma tão forte e carregada de emoção. Umas por não ter o dom ou a sensibilidade de escrever os sentimentos com tanta precisão, e outras, talvez, por falta de tempo mesmo.
Parabéns, Mary!
Deus abençoe a sua linda família! Bjs
Que texto lindo, Mary. ❤
Que relato emocionante, Mariana!