O garçom elegante do semáforo
Para chamar a atenção da clientela e ter um diferencial, ele vende água e amendoim nas principais avenidas de Conquista devidamente fardado 17 de fevereiro de 2019 Brenda Tomáz Xavier e Tamires TavaresDe camisa social branca, calça preta, sapato social e uma gravata borboleta, é assim que Anderson Ribeiro, conquistense, 29 anos, sai de casa durante a semana para ir trabalhar, às 7h. Com sua moto e um carrinho de metal, onde são colocadas as mercadorias que serão vendidas, ele sai do bairro Alto Maron em direção à Avenida Siqueira Campos, um dos seus locais de trabalho, para atuar como vendedor ambulante.
Um vendedor ambulante nada comum, sua elegância chama a atenção. Daí o porquê de quem o vê pela primeira vez pode até confundi-lo com um empregado de alguma das boutiques chiques situadas na Siqueira Campos. Entre um carro e outro, devidamente fardado de garçom, o que faz mesmo é oferecer água mineral e amendoim em uma bandeja aos motoristas enquanto o sinal está em vermelho. “A água e o amendoim do futuro”, diz ele sobre seus produtos, cujo dinheiro arrecadado garante o presente e o futuro do vendedor, da esposa e do seu filho, de dois anos de idade.
Quando o movimento na Siqueira Campos reduz, Anderson vai para a Avenida Juracy Magalhães: “o que não pode é ficar parado”. Ele trabalha nessa atividade há dois anos e a ideia de vestir roupa de garçom surgiu de um vídeo que viu nas redes sociais de um vendedor ambulante de São Paulo trabalhando assim. “Só o fato das pessoas estarem abraçando o meu trabalho e reconhecendo que é uma forma honesta de trabalhar, pra mim, já é um ganho muito grande. Além disso, sempre estou em contato com muitas pessoas. É gratificante conhecer pessoas novas. Elas se tornam algo diferente para a nossa rotina e nosso crescimento”, enfatizou.
Ele inicia a labuta às 7h, dá uma parada para almoçar com a família ao meio dia, e logo depois retorna e fica até 17h. Quando dá esse horário, Anderson deixa a Siqueira Campos e vai para a sua casa se preparar para vender lanches, doces e bugigangas em frente ao colégio Adelmário Pinheiro, contando com a ajuda da esposa. Já nos finais de semana, o vendedor não abre mão de descansar e desfrutar da companhia do filho.
Anderson começou a trabalhar aos 17 anos e já passou por diferentes empregos, como auxiliar de pedreiro e funcionário de uma loja de informática. Ele cursou somente o ensino fundamental, mas conta que não foi por falta de oportunidade. Apesar de ter largado a escola cedo, ele ainda cultiva o hábito da leitura, sendo os seus livros favoritos os de empreendedorismo e autoajuda. É dessas leituras que ele tira o repertório que o acompanha com um sorriso: “a felicidade da gente é a gente que faz”, “a gente tem que se sentir bem, tem que viver bem” ,“quando alguém te despreza, o mundo te abraça”.
O vendedor reconhece a importância dos estudos e afirma que continuará trabalhando para dar ao seu filho todas as oportunidades que os seus pais um dia o deram. Anderson diz que não pretende voltar a estudar, pois isso significaria abrir mão do que ele está conquistando agora: “Assumir uma responsabilidade significa ter que abrir mão de outras e eu não posso fazer isso”.
“Anderson Ribeiro Conquista”, como prefere ser chamado, contou ainda que escolheu esse codinome para homenagear a cidade que o emprega e prestigia a sua criatividade. “Se um dia chegar muito longe e ficar muito conhecido, quero ser associado à minha cidade natal.” E segurando um pacotinho de amendoim na mão, enfatizou o seu orgulho pelo trabalho que realiza: “Tem gente que sente vergonha de sair pra vender um amendoim, vender uma água, mas eu não sinto vergonha! Estou trabalhando de forma honesta e esse é o meu sustento!”.
Foto destacda: Brenda Tomáz Xavier/Avoador