Uma gari orgulhosa do seu trabalho
Como gari, ela encontrou na profissão coragem e força para viver a vida com leveza 19 de dezembro de 2020 Júlia AndradeUma cidade precisa tanto de um prefeito para gerir a administração pública como também dos e das garis. São esses trabalhadores que cuidam do lixo das ruas, avenidas e de cada morador. Denise Fernandes Oliveira, 54 anos, é uma dessas profissionais da Prefeitura de Vitória da Conquista e tem orgulho da atividade que exerce há nove anos.
Natural de São Paulo, Denise viveu por lá até os 10 anos, e quando a mãe de sangue faleceu, a tia a trouxe para morar em Conquista, onde vive até hoje. Seu primeiro emprego foi em casa de família, cuidando de um idoso, depois trabalhou em uma fábrica de salgados e o terceiro e atual é o de gari. Ela tem dois filhos adultos que têm vidas independentes moram cada um em sua casa.
Quando passou no concurso de gari da Prefeitura, ela contou que demorou para ser chamada e isto a deixava desesperada e ansiosa. Sua tia, que virou sua mãe pedia para que tivesse calma e dizia que “tudo tem a hora certa para acontecer”. Ela retrucou então “Oh mãe, já pensou se eu recebesse minha casa e meu trabalho, tudo junto?” E foi assim que aconteceu, Denise conseguiu o trabalho e três meses depois a casa também.
Atualmente é dessa casa, localizada no bairro Miro Cairo, que ela sai cedo todos os dias, para chegar ao trabalho às 7 horas. No depósito municipal, Denise encontra os colegas e pega os materiais e equipamentos para realizar a limpeza e coleta de lixo nas ruas de Conquista. “A gente brinca demais, somos unidos. É tanto que quando eu estou tô de férias e, eu não aguento, eu tenho que ir no depósito para ver eles.”
Nas cidade, ela que varreras ruas e avenidas, coloca os resíduos em um saco de lixo e deixar em alguma calçada para o caminhão do lixo recolher à noite. O único problema é o desconhecimento da população acerca de como é o processo de limpeza. Por conta disso, segundo Denise, já foi chamada a atenção por algumas pessoas que se incomodaram com o saco de lixo no meio fio.
Durante a pandemia, esse trabalho não foi alterado, os garis continuaram a trabalhar todos os dias para manter a cidade limpa. Para isso, Denise e os colegas não receberam nenhuma roupa ou equipamento especial. Eles usam as máscaras que compram com recursos próprios e os mesmos equipamentos de proteção de sempre: luvas e botas.
Quanto ao preconceito em relação ao trabalho, ela contou que um ex-colega, que trabalhou também na fábrica de salgados, fez o concurso na mesma época do dela e foi chamado, abandonou o serviço porque tinha vergonha de varrer as ruas. Segundo ela, até hoje, alguns preferem trabalhar pela noite para não serem reconhecidos. “Eu não tenho isso não, estou trabalhando, não estou matando nem roubando. Trabalho é honra, não importa o que seja. Eu gosto que me vejam trabalhando.”
Além de atuar como gari, Denise também ajuda o companheiro em um bar que montaram juntos. “A iniciativa foi dele, mas eu gosto de preparar petisco nos fins de semana. Quando tem churrasco, ele fica encarregado”, comentou. Ela o conheceu no próprio condomínio, quando ele tinha uma casa alugada no lugar, e já estão juntos há três anos. “Como diz o povo, amor à primeira vista”, suspirou e deu uma risada.
A convivência entre o casal é de alegrias e projetos em comum. “Ele faz palhaçada demais, eu passo o dia todinho rindo.” Eles dividem todas as despesas e tem conquistado uma tranquilidade financeira.”Eu vou comprar a minha moto, e ele já comprou um carro.”
Denise é gari e está satisfeita com o trabalho que realiza, deixa a cidade limpa e tem uma renda garantida todos os meses. Deixa uma mensagem leve para quem precisa vencer os desafios da vida diária: “A gente vai levando a vida. né? Se a gente for levar tudo a ferro e fogo, a gente não vive. Para que tristeza? Eu não tenho tempo para isso”, finalizou.
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Foto: Júlia Andrade