A facebookização do Instagram e a amazonização do Facebook
Durante a pandemia da covid-19, o home office e o excesso de tempo livre de milhões de pessoas obrigaram o Facebook a antecipar três mudanças profundas nas duas redes sociais 17 de junho de 2020 Paulo RebêloVocê já viu como está o Instagram na versão desktop, sem usar o celular?
Não dê atenção ao visual, pois as mudanças são sutis, quase insignificantes. Apenas comece a usar no computador.
Se a sua memória tecnológica estiver em dia, talvez você perceba como a usabilidade está parecida às primeiras versões do Facebook em meados de 2006.
O home office planetário e o excesso de tempo livre de milhões de pessoas, por causa da pandemia de Covid-19, obrigaram o Facebook a antecipar três mudanças profundas nas duas redes sociais que ditam a opinião pública do mundo.
A primeira delas é a facebookização do Instagram.
Agora não é mais necessário um celular ou aplicativos externos de gestão para executar uma série de funções antes não permitidas (ou dificultadas) no computador.
Em resumo: além de poder responder mensagens privadas de um jeito muito mais simples e rápido, também ficou mais fácil comentar nos posts alheios e se engajar em discussões sem fim e sem sentido em fotos alheias. Olá, eleições.
A turbinada na usabilidade para computador afeta diretamente os produtores de conteúdo e os influenciadores digitais. Ficou mais fácil encontrar assuntos diferentes entre posts, vídeos, IGTV e marcações.
Explorar, navegar e pesquisar hashtags deixaram de fazer parte do teste para se tornar monge zen-budista.
Com teclado, mouse e um monitor grande, a sutileza da interface resulta num ganho de produtividade imenso para profissionais, agências, assessorias e influenciadores.
Ao mesmo tempo, pode ser o início do fim do Instagram como aquela rede social mais elitizada, menos afetada e um pouco mais imune às guerras ideológicas e embates discursivos infinitos que transformaram o Facebook nesse velho oeste dos últimos seis anos.
É bom para os políticos, mas talvez não seja bom para a política.
É bom para os influenciadores, mas talvez se torne péssimo para as marcas em busca de influência a baixo custo.
Do outro lado, mas dentro do mesmo quintal, o Facebook agora oficializa a invasão do terreno ocupado originalmente pela Amazon e pelo eBay, além de concorrentes como o Mercado Livre e até mesmo o Magazine Luiza nestes tempos recentes.
A amazoniação do Facebook atende pelo nome de Facebook Shops e já está liberado.
Anunciado anos atrás e com várias experimentações e mudanças de percurso, agora o Facebook se apresenta como o lugar “mais rápido e mais fácil” para qualquer pessoa ou empresa vender absolutamente qualquer coisa.
Tirem as sogras da sala, por favor.
Estamos falando de venda direta. Não se trata mais de anunciar produtos no feed ou fazer classificados em grupos. O Facebook Shops é uma plataforma completa e gratuita de comércio eletrônico, com foco em celular e dispositivos móveis.
E óbvio, com toda a integração possível entre Facebook e Instagram. Com aquela facilidade de uso que levou nossos pais e avós a criar uma conta (e usar) esse danado do feice.
Para as agências de tecnologia (oi, Paradox Zero!) a adaptação com ferramentas mais poderosas e soluções mais avançadas de métricas para e-commerce continua a ser possível. Será por meio da integração que o Facebook finalmente permite com ferramentas externas de comércio eletrônico, como Shopify, WooCommerce, BigCommerce, Tienda Nube, Freedonomics, entre outras.
O Facebook Shops já está habilitado para algumas contas e pelos próximos 30 dias deve ser permitido para quase todos os mercados.
A terceira e última adição profunda no modo de usar as redes sociais é a compra em tempo real a partir dos Stories e lives do Instagram.
Ainda em testes, o experimento deve ser oficializado pelo Facebook a partir de julho e você vai poder fazer sua live com produtos “tagueados” ao vivo, que aparecem no vídeo, para que os usuários façam a compra compulsiva dali mesmo, com dois toques na tela do celular, direto da sua lojinha do Facebook Shops.
Pelo visto, esse novo normal depois da pandemia de Covid-19 vai ser pago em dólar.
*Paulo Rebêlo é Mestre em Políticas Públicas, Mestre em Gestão de Mídia, diretor da Paradox Zero e editor na Paradoxum.