Emprego formal cresce em Conquista nos dois primeiros meses de 2021
A cidade conseguiu gerar empregos recuperando as perdas de postos de trabalho dos primeiros meses de pandemia 2 de junho de 2021 Luciana PaulaAs medidas de isolamento social adotadas no mundo todo impactou a vida dos trabalhadores. Muitos simplesmente se viram desempregados, outros tiveram que se adaptar à rotina de home office. Mesmo quem seguiu atuando presencialmente se viu diante de mudanças com a adoção de medidas sanitárias como o uso de máscaras, os protocolos de higienização com álcool gel e distanciamento social. Por fim, muitos trabalhadores também tiveram que se adaptar a medidas de flexibilização como a redução de jornadas e cortes no salário.
Essa nova realidade não impactou a economia de cada localidade da mesma forma. As cidades mais voltadas ao turismo foram as que mais sofreram. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estimou que o setor turístico encolheu 80% no mundo todo em 2020. Por outro lado, o saldo de vagas no Brasil foi positivo no período, porque municípios, a exemplo do conquistense, conseguiram retomar a geração de empregos formais.
O crescimento no emprego formal em Vitória da Conquista não significa que a cidade ficou imune aos efeitos econômicos da pandemia de covid-19. Entre março e junho de 2020, apresentou-se números negativos, chegando ao seu pior resultado em abril, com 1935 desligamentos. A recuperação começou tímida em julho do ano passado, com o saldo positivo de 404 empregos formais, atingindo seu pico de crescimento em janeiro de 2021, com 902 novos postos de trabalho. Na comparação com os dois primeiros meses do ano passado, houve crescimento de 34% em janeiro e de 51% em fevereiro.
Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), da Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia, a Bahia liderou crescimento dos empregos na região Nordeste no período. Em janeiro deste ano, Salvador foi a maior geradora, com 4.032 novos postos, seguida por Feira de Santana com 1052 novos postos e Vitória da Conquista com 671. Já os três municípios com pior desempenho foram Camaçari, que registrou perda de 343 postos, Dias D´Ávila com menos 180 postos e São Gonçalo dos Campos com menos 161 postos.
No entanto, mesmo com esse crescimento no número total de trabalhadores registrados, a Bahia segue sendo o Estado com maior percentual de desempregados da região, com 21,3% de taxa de desemprego. Esse último dado foi publicado recentemente (27/05) pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o IBGE, nos três primeiros meses de 2021, a Bahia, junto a Pernambuco, teve o maior percentual de desempregados do país.
A taxa de desocupação se refere a pessoas de 14 anos ou mais que não trabalham e estão à procura de emprego, em relação ao total de pessoas que estão trabalhando. Observando-se os dados do Novo Caged e o IBGE, tudo indica que o saldo positivo no crescimento do número absoluto de trabalhadores com emprego formal não foi suficiente para mudar a posição do estado no percentual de desempregados em comparação com o resto do país. De acordo com o IBGE, uma das explicações para isso seria o aumento do número de trabalhadores que estavam inativos e passaram a procurar trabalho, o que corresponderia a 1,386 milhão de pessoas que se somariam ao número total de desempregados no Estado, somente no primeiro trimestre deste.
Na comparação com a região Nordeste, ainda que o IBGE aponte grandes índices percentuais de desemprego em diversos estados, segundo o Novo Caged, o número absoluto de empregos formais na região também cresceu, sendo registrada retração apenas em Alagoas e Paraíba. Os dados mais recentes disponíveis são referentes ao mês de março de 2021 e podem ser acessados no sumário executivo que reúne informações de diversas bases como os sistemas eSocial, Caged e Empregador Web.
Segundo esse sumário do Novo Caged, no último mês de março, a retomada do emprego formal foi impulsionada sobretudo pelo setor de Serviços com 95.553 novos postos no país, seguido pela Indústria geral, com 42.150 vagas; a Construção, com 25.020 vagas; o Comércio, com 17.986 vagas; e por fim a Agropecuária com 3535 vagas. Vale a pena ressaltar que no setor de Serviços, quem impulsionou o crescimento foi a àrea da “Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas”, com 55% das vagas do setor, sendo que a área de Alojamento e Alimentação fechou o mês com menos 28.575 vagas.
Vulnerabilidade de jovens e mulheres
Além de ponderar sobre o desempenho de cada área, é importante observar algumas categorias de trabalhadores que mais foram afetadas pela pandemia: os jovens e as mulheres. As trabalhadoras foram as que mais perderam empregos durante esse período. Segundo o Centro de Estudos de Economia do IREE (Instituto para Reformas das Relações entre Estado e Empresa) a variação de trabalhadores que deixaram a força de trabalho, entre o último trimestre de 2019 e o terceiro e último 2020, foi de 14% de mulheres contra 8% de homens, ou seja, quase o duas vezes mais mulheres tiveram que parar de trabalhar. Entre as razões apontadas pelas entrevistadas, 26% responderam que deixaram o emprego para cuidar de afazeres domésticos, filhos ou outros parentes, enquanto apenas 2% dos homens alegaram ter abandonado o trabalho pelas mesmas razões.
Outro grupo que sofre para se inserir no mercado de trabalho diante da pandemia são os jovens. Segundo pesquisa da Cuso Internacional, com dados da Organização das Nações Unidas, um a cada seis jovens perderam o emprego desde o início da pandemia na América Latina. Além de um impacto direto na vida desses jovens, muitos dos quais foram obrigados a interromper os estudos pela falta de recursos, esse quadro impacta na economia das famílias de modo geral. Nos Estados Unidos, por exemplo, em julho de 2020, 52% dos jovens de 18 a 29 anos residiam com os pais, contra 36% nos anos 2000, e 40% em 2010, segundo dados do Pew Research Center. Esse cenário de incertezas e recessão foi o estopim para que jovens colombianos tomassem as ruas de Bogotá, reivindicando melhores condições de emprego e renda.
Desta forma, é importante que as políticas públicas para a geração de emprego, durante e após a pandemia, sejam promovidas com foco nesses dois grupos prioritários. Os níveis de renda das mulheres têm um impacto direto na qualidade de vida, saúde e educação de seus dependentes, e também é preciso considerar que a dependência financeira é um dos fatores agravantes da violência doméstica. Já os jovens precisam ser priorizados não apenas para que não representem um impacto negativo na economia de suas famílias, mas também pela necessidade de equilibrar o balanço entre trabalhadores ativos e inativos para a manutenção do sistema previdenciário, sobretudo diante da tendência e projeção futura de baixa na taxa de natalidade em nosso país e em todo o mundo.
*Jornalista e historiadora. Desenvolve pesquisa sobre a Radiodifusão Pública no Brasil. Doutoranda em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Colunista do site Avoador.