A sociedade contemporânea tem apresentado sintomas provenientes do modus operandi estabelecido pelo capitalismo patriarcal. Dado o tensionamento dos debates nas esferas da representação política atual, faz-se necessário elaborar novas linguagens para tratar das questões sociais que atravessam nossos modos de vida e de produção. Cabe à universidade o exercício de sua autonomia racional para elaborar reflexões e práticas em vias de novas possibilidades de relações humanas e não humanas, bem como o desenvolvimento de saberes mais sensíveis, elaborados pelas artes.

Nesse sentido, está em andamento o projeto de extensão Performances Culturais, na Coordenação de Cultura, setor ligado à Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, campus de Vitória da Conquista, Bahia. Articulando conceitos e práticas artístico-culturais como meios educativos, por meio de linguagens e saberes diversos, o Performances Culturais concretiza-se nas seguintes atividades virtuais: Maria Bonita – podcast sobre mulheres na literatura brasileira; Entrelinhas – coluna sobre artes e culturas no site de jornalismo Avoador; Laboratório de Artes Cênicas e Performáticas – grupo de estudos sobre o corpo e práticas para o bem-estar.

Performance Estética do Silêncio nas ruas de Vitória da Conquista, em 2015. Artistas: Morgana Poiesis e Naiadi Bianchi.

Reunindo atividades desenvolvidas desde o começo de 2020, o projeto coordenado pela funcionária Morgana Poiesis conta, atualmente, com uma equipe de três monitores, estudantes dos cursos de Psicologia e de Cinema e Audiovisual da Uesb: Mariana Kruschewsky, Juliana Oliveira e Mateus Amaral. Aprovado como projeto de extensão sem ônus através de edital público, o Performances Culturais tem oficialmente desenvolvido atividades desde o mês de maio, que seguirão até o final deste ano letivo.

Após sua experiência como programa de rádio, o Maria Bonita segue em formato de podcast com edições mensais disponíveis em diversas plataformas como Anchor, Pocket Casts, Google Podcasts, Breaker, Castbox, Radio Public, Spotify, Apple Podcasts e Overcast. Maria Bonita vem apresentando a vida e obra literária de escritoras brasileiras, consagradas e contemporâneas, em sua diversidade interseccional. Diante da exclusão histórica das mulheres não apenas nas artes, como nas esferas públicas de forma geral, o podcast dá visibilidade às escritoras de vários estados do país, colaborando para a popularização da literatura e para a emancipação do gênero feminino, no Brasil.

O contexto histórico e político do país, em atual crise ambiental, sanitária, política, econômica e social, tem evidenciado a falta de acesso a fontes seguras de informações, por parte da população brasileira, especialmente com o surgimento das fake news. Assim, faz-se necessário investir em um jornalismo de qualidade e profundidade, a exemplo do site Avoador, projeto de extensão coordenado pela professora do curso de Comunicação Social, Carmen Carvalho. A coluna Entrelinhas do site tem publicado matérias sobre temas relativos à literatura e à arte contemporânea, contando com colaborações dos jornalistas Morgana Poiesis e Ricardo Santos, correspondente da cidade de Salvador.

Considerando os investimentos do poder nos corpos individuais e sociais, é possível reinvestir nesses mesmos corpos como meios de autonomia e resistência, na afirmação de suas potências singulares. Nesta perspectiva, o Laboratório de Artes Cênicas e Performáticas tem viabilizado o desenvolvimento dessas corporalidades em suas capacidades energéticas, motoras, relacionais e expressivas, necessário sobretudo no contexto atual da pandemia da covid-19, através de um grupo de estudos e práticas quinzenais, aberto para funcionários da Coordenação de Cultura e integrantes dos projetos do setor (Coral Uesb e Vida Ativa), dentre outras pessoas interessadas.

Em entrevista concedida para a coluna Entrelinhas, a estudante de Psicologia e monitora do projeto  Performances Culturais, Mariana Kruschewsky relata: “Eu sinto que o projeto abre a minha mente para reflexões e conhecimentos que estão além da minha grade curricular. Ele me coloca em um contato mais próximo com o meu próprio corpo, com o feminismo na literatura brasileira e o feminino que há em mim, traz uma sensação de bem estar através das práticas, uma sensação de empoderamento, de confiança em mim mesma, e de controle nesse momento tão conturbado da pandemia. Acredito que essa experiência e o autoconhecimento que vem dela farão de mim uma profissional melhor, mais sensível e consciente. As práticas para o bem estar, que me colocam em contato com meu corpo, são as que mais me tocam. Meu fazer profissional será repleto de encontros com o outro, e creio que conhecer a mim mesma é algo que tornará esses encontros ainda mais ricos”.

Os Estudos da Performance foram definidos na década de 1950, por pensadores como o antropólogo, filósofo e psicólogo polonês Milton Singer, o sociólogo, comunicador e etnolinguista Robert Redfield e o teatrólogo Richard Schechner, sendo a Universidade de Nova York uma pioneira nesses estudos. No Brasil, os conceitos e metodologias  interdisciplinares das Performances Culturais vêm sendo desenvolvidas por pesquisadoras e pesquisadores do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Performances Culturais, da Faculdade de Ciências Sociais, Universidade Federal de Goiás. Diversas especializações e linhas de pesquisa vêm sendo criadas com a inserção da performatividade, em programas de pós-graduação no Brasil. É nesse contexto que surge o Performances Culturais como projeto de extensão universitária, que por natureza amplia as perspectivas dos conhecimentos produzidos em salas de aula e grupos de pesquisa para a sociedade civil, aplicando as  diretrizes definidas para as ações da extensão universitária, dentre elas, a interação dialógica entre a Universidade e a sociedade, a interdisciplinaridade e a indissociabilidade do ensino-pesquisa-extensão.

As atividades do projeto de extensão Performances Culturais podem ser acompanhadas do site da Coordenação de Cultura/Proex/Uesb e pelas redes sociais, Facebook e Instagram.

*Doutora em Performances Culturais (UFG), mestra em Artes Cênicas (UFBA), especialista em Comunicação e Política e graduada em Comunicação Social (Uesb).Colunista da coluna Entrelinhas do Avoador.

Foto capa:  George Neri (Teatro Carlos Jeovah)