Setembro Verde: oportunidade para refletir sobre o capacitismo que habita em todos nós

Criado em 2015, a campanha promove a discussão sobre a necessidade de inclusão das pessoas com deficiência (PCD's) na vida cotidiana 6 de setembro de 2021 Israel Peixoto

Setembro chegou, e traz não só o fim do inverno, como também o início da campanha de prevenção ao suicídio, o Setembro Amarelo. Mas além dessa campanha, há também no mesmo mês o Setembro Verde, que existe desde 1982. Essa ação busca promover a discussão sobre a necessidade de inclusão das pessoas com deficiência (PCD’s) na vida cotidiana.

À primeira vista pode soar um tanto ilógico dizer que as PCD’s sofrem preconceito, já que essa palavra, em geral, é associada à ódio e atos de agressão. Não existe “deficiênciafobia” ou “deficientefóbicos”, pelos menos não que seja de conhecimento público, mas existem os capacitistas, e você, provavelmente, pode ser um deles.

O capacitismo acontece de várias formas e todos dias. Quando a existência de pessoas com deficiência é invisibilizada, por exemplo, na construção de espaços públicos ou privados. Também quando elas são infantilizadas por meio de expressões que ressaltam determinada deficiência para ofender alguém, ou ainda,  quando as conquistas das PCD’s são reduzidas pelo simples fato de terem  alguma deficiência.

De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), de 2020, 24% dos brasileiros têm algum tipo de deficiência, mas onde estão essas pessoas? A invisibilização também acontece quando se considera normal a ausência dessas pessoas nos mais diversos tipos de ambientes. Quando, em termos linguísticos, acredita-se que o antônimo de deficiência é eficiência, quando o correto seria ineficiência. Mais complicado ainda é quando quem deveria promover políticas de inclusão das PCD’s faz exatamente o contrário, defende a segregação.  “A presença de crianças com deficiência atrapalha o aprendizado da turma em sala de aula”, disse o ministro da Educação do governo Bolsonaro, Milton Ribeiro, no dia 19 de agosto. 

Acessibilidade nos espaços

Quando você vai ao cinema ou a uma loja qualquer, encontra um atendente que sabe a linguagem de sinais? Ou esse local é de fácil acesso para pessoas com alguma mobilidade física ou visual? Por conta da falta de acessibilidade, muitas pessoas  com deficiência ficam em casa, pois os espaços existentes não foram planejados considerando as suas existências.

Esse pode até ser enquadrado como um problema histórico, mas no presente o que está sendo feito para resolver i problema?

Imagine que do dia para noite a maioria dos seres humanos ganhasse a capacidade de voar, e a partir daí, toda a sociedade seria moldada de acordo com essa nova modalidade: acesso a prédios, lugares de lazer etc. Como seria para pessoas que não podem voar? Haveria lugares pensados para elas?

A humanidade sempre foi diversa, desde de seus primórdios, e as civilizações anteriores não foram construídas pensado nessa diversidade, mas é preciso começar a mudar a realidade atual.

Capacitismo

Outras manifestações de capacitismo dizem respeito à infantilização e o uso de expressões inadequadas sobre as pessoas com deficiência. É preciso também discutir sobre isso para provocar uma mudança.

A primeira questão é o de serem tratadas como crianças, e isso vai além de se referir ao adulto mais próximos para falar sobre elas, na frente delas. Uma criança não responde por si, logo, também não pode ser igualada uma pessoa com deficiência. Essas atitudes roubam o direito da própria experiências, o direito ao corpo e a sexualidade.  Aliás, falar sobre a sexualidade das PCD’s é um grande tabu social. Deficientes não são crianças e, portanto, precisam ser escutados e atendidos em suas pautas.

Para começar,  tire do seu vocabulário as expressões: “Aleijado”, “você é cego?”, “você é mudo? não sabe falar”.  Outras expressões que precisam ser abolidas são essas “apesar da de sua deficiência, ele conseguiu isso ou aquilo”.  Essa é uma forma  capacitista de tratar as PCD’s . Pode parecer paradoxal ser preconceituoso enquanto tenta elogiar alguém, mas esse tipo de colocação reduz toda uma história de preparação e estudos a algo pelo qual pelo qual não se escolheu ser. A deficiência não pode ser ignorada, mas ela também não pode definir ninguém.

As  Paraolimpíadas 2020, no Japão, são um exemplo. Há no evento atletas de todo lugar do mundo, que se dedicaram por quatro anos em treinamentos árduos, porém a mídia, quando os apresentam realiza reportagens completamente desconexas com a trajetória dessas pessoas. Preferem apelar para a caridade. Eles não precisam de caridade!

Outros dois exemplos são Stephen Hawking e Frida Kahlo. Não importa o quão importante foram as descobertas de Hawking para o campo da astronomia, ele é mais conhecido por ter sido um cadeirante inteligente. Do outro lado, no extremo o oposto, está Frida Kahlo, uma das grandes pintoras do século XX. Frida era uma mulher deficiente, contraiu poliomielite na infância e usava cadeira de rodas para se locomover, mas ela não é vista assim. Frida Kahlo é genial demais para ser deficiente.

Há uma dualidade problemática nisso. Quando se reduz as conquistas de PCD’s às suas deficiência, é como se dissessem: “Parabéns, apesar de ter nascido numa sociedade que lhe rejeita, você conseguiu algum mérito”.  Isso é cruel.

Fique atentos aos lugares e as pessoas que lhe cercam. Será que em outra situação você poderia estar ou pertencer a todos os espaços com facilidade? Capacitismo massageiam o ego da meritrocracia, mas precisamos superá-los, construir uma sociedade para todos/todas/todes.

Israel Peixoto tem 24 anos, é técnico em agropecuária formado pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia Baiano. Escritor e poeta, teve seu primeiro poema publicado na Antologia Antologia Poética Bardos Baianos Médio Sudeste. Administra a página Ritma Poesia onde posta seus poemas interpretados pela voz de Camila Castro. Sonha em seguir carreira jornalística e pretende publicar seu primeiro livro em breve.

Uma resposta para “Setembro Verde: oportunidade para refletir sobre o capacitismo que habita em todos nós”

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