Anvisa usa morte de voluntário sem relação com a vacina CoronaVac para suspender testes
Morte que causou a suspensão das pesquisas da vacina foi possível suicídio de voluntário de 32 anos em 29 de outubro 11 de novembro de 2020 Alexya LeiteA Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), suspendeu, nesta terça-feira (10/11), os testes da vacina Coronavac sob a justificativa de não haver informações suficientes sobre o “evento adverso grave” registrado em um voluntário. No entanto, a morte do paciente foi registrada, segundo laudo do Instituto Médico Legal (IML), como suicídio ou overdose de drogas, sem ligação com os testes em andamento.
O diretor-presidente da Anvisa, em entrevista ao jornal Correio da Bahia, Antônio Barra Torres, contestou suspeitas sobre interferência política na decisão. “As informações foram consideradas incompletas, insuficientes para que se continuasse permitindo o procedimento vacinal”, disse. “Quando temos eventos adversos não esperados, a sequência de eventos é uma só: interrupção dos estudos. A responsabilidade é nossa, de atestar a segurança de uma vacina e sua eficácia”.
Barra Torres, almirante indicado ao cargo pelo presidente Jair Bolsonaro, participou de uma manifestação pró-governo em Brasília na pandemia. Durante sua fala, relembrou a primeira interrupção de testes no Brasil com a vacina Astrazeneca, durante seis dias. A Anvisa declarou que não houve “nenhum relatório detalhado”, apenas uma notificação padrão – feita pelo Instituto Butantan no dia 6, mas só chegou à Anvisa ontem.
A equipe do Instituto Butantan e o governo de São Paulo declararam que a justificativa utilizada pela Anvisa para determinar a suspensão dos testes da Coronavac foi um “fator externo”, sem ligação com a vacina. A causa da morte segue sob investigação, mas as possíveis causas são suicídio ou overdose de drogas. O paciente estava na fase três dos ensaios clínicos.
De acordo o diretor do Instituto Butantan, em entrevista ao jornal Correio da Bahia, Dimas Covas, “os dados são transparentes. Por que nós sabemos e temos certeza de que não é um evento relacionado a vacina? Como eu disse, do ponto de vista clínico do caso e nós não podemos dar detalhes, infelizmente, é impossível, é impossível que haja relacionamento desse evento com a vacina, impossível, eu acho que essa definição encerra um pouco essa discussão”, declarou Covas.
O diretor do Instituto afirmou que a Anvisa tem conhecimento das informações e não poderia “burlar a ética” e “trair a confiança” que a família do voluntário depositou no instituto. Covas ainda pontuou que “foi um óbito sem nenhuma relação com vacina. Estamos tratando de um evento adverso grave que não tem relação com a vacina”.
Em publicação do jornal Folha de S. Paulo, há informação de a vítima foi encontrada sem vida pelo zelador do prédio, em 29 de outubro, com instrumentos que apontam o uso de drogas. O voluntário foi procurado pelo zelador após seu namorado de 33 anos não receber nenhuma notícias durante alguns dias.
A conexão entre a morte do paciente e a vacina já havia sido descartada pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, responsável por coordenar o grupo de voluntários do qual o paciente participava.
Fonte: Correio 24 horas/Folha de S.Paulo
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