Bairros Urbis IV e V: entre a renovação da feira livre e o perigo de uma valeta mal construída
A periferia tem muito o que contar, desde a solução que virou transtorno até a feira que movimenta a economia em Conquista 28 de setembro de 2021 Mariana Oliveira, Denilson Soares, Catarine FerrazNa periferia da Zona Oeste de Vitória da Conquista, mais precisamente nas Urbis IV e V, duas situações chamam a atenção: um canal de drenagem que incomoda e uma feira livre que acomoda. Duas facetas desses dois conjuntos habitacionais geograficamente vizinhos, que hoje são chamados de bairros, e que representam as contradições e o desleixo com a estrutura das localidades fora do circuito central da cidade.
A sociedade de economia mista “Habitação e Urbanização da Bahia S.A.”, conhecida pela sigla Urbis, foi responsável pelo crescimento habitacional de várias cidades baianas há mais de 50 anos. Composto de casas populares, os dois bairros são praticamente irmãos gêmeos. Ambos nasceram há cerca de 40 anos, um ao lado do outro, dentro do bairro Zabelê, na periferia de Conquista. Cerca de 10 anos depois que a Urbis V surgiu, veio a feira livre, ainda no chão de terra. E só no final dos anos 90 foi construído o canal para drenagem da água da chuva na Urbis IV.
Localizada no coração do conjunto habitacional Urbis V, a feira é considerada uma mão na roda tanto para os residentes das duas Urbis, quanto para outros bairros do entorno. “A feira é sortida, dá pra comprar de tudo”, disse a professora universitária, Ana Cláudia Reis Rocha, 53 anos. Com a reforma da feira, vieram também melhorias significativas, não só para os feirantes, como também para a clientela.
Porém, na região das duas Urbis também existem problemas que se arrastam há anos. O canal de drenagem situado no conjunto Urbis IV, apelidado de “valetão” pelos moradores, devido ao tamanho considerado exagerado, veio para escoar a água das chuvas e deixar os moradores satisfeitos e seguros. Mas, na prática, a enorme valeta trouxe novos transtornos e é motivo de revolta entre os moradores do bairro. Eles reclamam da falta de cobertura do canal, o que leva a acúmulo de lixo, água parada, esgoto e até acidentes automobilístico com mortes.
Uma feira para chamar de sua
Com o aumento dos habitantes dos dois conjuntos, outras construções começaram a se instalar naquela região. Hoje, a Urbis IV e V de Conquista possuem farmácias, supermercados, quitandas, padarias, escolas públicas e privadas, academias de ginástica, praças, lojas de roupas, bares, entre outros pontos comerciais, o que facilitou e muito a vida dos moradores, que agora já não precisam se deslocar até outros bairros para usufruir destes serviços.
Um deles foi a reforma realizada na feira da Urbis V, a qual trouxe melhorias significativas, não só para os feirantes, como também para a clientela. Segundo Ana, a feira da Urbis V é importante “para movimentar o comércio e para possibilitar que os moradores não precisem ir até o Centro ou ao bairro Brasil” quando precisam fazer suas compras de verduras, legumes e frutas.
Flávia Dias da Silva, 35, desempregada no período da reportagem, mudou-se há aproximadamente dois meses de São Paulo para Conquista e já frequenta a feira livre da Urbis V, mesmo morando no Loteamento Cidade Maravilhosa, bairro vizinho. “Venho para comprar o básico, verduras, frutas, legumes. Eu acho o preço bom.” Já a costureira Zení Moreira Alves de Azevedo, 73 anos, dos quais há 39 destes reside na Urbis IV, contou encontrar todos os tipos de verduras, frutas e biscoitos na feira. “Comecei a frequentar ano passado. Antes ia no CEASA [Central Estadual de Abastecimento, localizada no Centro da cidade]. Nós não tivemos nenhum transtorno com a feira até o momento”. A costureira resolveu começar a comprar na feira da Urbis V, mais próxima de sua casa, depois da reforma.
A reforma que veio para incluir
Em 11 de agosto de 2020, o até então prefeito de Vitória da Conquista, Herzem Gusmão, assinou uma Ordem de Serviço que autorizava a instalação de equipamentos de cobertura para o local, obra que já havia sido anunciada pelo gestor no ano anterior. Antes disso, a feira, que durante anos não possuía nem mesmo pavimentação, foi asfaltada e pintada, além de ter recebido uma ornamentação com canteiros e melhor iluminação. A construção foi entregue no dia 6 de dezembro do mesmo ano e, até então, os comentários com relação à reforma são, em sua grande maioria, muito positivos.
Morador do bairro Cidade Maravilhosa, Renan Rosa Santana, tem 35 anos, é cadeirante há cinco e está aposentado pelo INSS (Instituto Nacional de Serviço Social) por invalidez. Ele disse que, antes do calçamento, evitava frequentar a feira, que, mesmo com a reforma, ainda tem dificuldade de se locomover. “Olha, ainda com a pavimentação eu preciso de um apoio, minha filha vem comigo, né? Quanto mais antes.” No entanto, Renan não deixa destacar o quanto a reforma melhorou o local em todos os sentidos, especialmente para os idosos e as pessoas com deficiência.
A nova pavimentação também beneficiou o restante do público da feira, que antes também tinha dificuldade para se locomover no local. É o caso de Ana, que frequentava a feira antes da pandemia da covid-19. “Não havia proteção para sol ou chuva e o piso irregular era ruim pra caminhar e puxar o carrinho”.
Não somente o bairro Cidade Maravilhosa se beneficiou com a feira livre na Urbis V, como também os moradores de outros bairros vizinhos: do Vila Serrana – que já foi até cenário do filme Central do Brasil (1998), de Walter Salles, do Miro Cairo e os do bairro Ibirapuera, como é o caso de Joabe Goes, 55. O mestre de obras faz suas compras na feira da Urbis V acompanhado de uma bicicleta. Mas, assim como a costureira Zení, também não frequentava a feira antes da reforma. “Eu achava um pouco desorganizada, nem a pavimentação tinha direito, era um poeira e tal, uma pracinha jogada. Agora ficou ótimo”, ressaltou Joabe.
Se a feira é de muita serventia aos moradores dos arredores, para as pessoas que dela tiram seu sustento é ainda mais importante. Sua pavimentação e cobertura evoluíram as condições do local de trabalho de pessoas que, mesmo com a crise e a pandemia, precisam estar ali, todos os domingos, para sobreviver. Maria de Fátima Lopes Novaes, 61 anos, é feirante na Urbis V há mais de cinco anos e se lembra de quando tudo começou. “Primeiro foi na terra, depois calçamento e, depois, veio a ‘coberturazona’ pra nóis. Às vezes, ali em cima vazava esgoto, mas consertaram.”
“Antes era muito difícil aqui por conta que a gente não tinha cobertura, não tinha pavimentação, não era asfaltado, a gente trabalhava no meio da terra, no tempo. A gente tomava sol, chuva, a mercadoria perdia mais a qualidade, era muito difícil mesmo”, relembrou a feirante Márcia Cristina Pereira Amaral, 39, há mais de dois anos no local. Em sua barraca, a feirante conta com a ajuda de sua filha Daiane Ellen Amaral Rocha, de 14 anos.
O processo para conseguir a reforma do local só foi adiante graças à uma organização formada pelos próprios feirantes. Uma comissão formada por cerca de seis pessoas é responsável por administrar a feira e ir em busca de seus direitos. A feirante Carmen Araújo, 56 anos, é membro do Conselho dos Feirantes da Urbis V. Segundo ela, os primeiros passos para conseguir a cobertura foi pedir ao prefeito Herzem, que chegou a participar de uma reunião com os membros do conselho, que se queixaram da falta de estrutura. “A gente expôs o jeito que a gente trabalhava, que não era justo, aí ele prometeu que ia fazer a cobertura”.A promessa de Herzen foi vista com descrença, por não ser a primeira, já que tinham recebido a mesma resposta de outras gestões, sem sucesso até então. A notícia de que realmente a cobertura sairia em 2020 foi recebida com surpresa e incredulidade pelos feirantes. “Só acreditei quando li o contrato. Ele [o prefeito] falou que ia começar na terça-feira, o pessoal que tava na reunião não acreditou! Depois de três dias, já começou a botar o material e tá aí, realizado”, recorda a feirante conselheira.
A feira atual, que incorporou até a tecnologia nas vendas, é um contraste com o passado mais tradicional. Jair dos Santos, 27 anos, vende na feira da Urbis V produtos derivados de laticínios e de goma, como biscoitos e tapioca. Sua barraca aceita cartão de crédito e PIX como pagamento. “Eu iniciei com esse projeto de colocar cartão, colocar a máquina. Algumas já estão tendo cartão, e PIX, nessa feira aqui, só eu tô tendo”, explicou o feirante. Se por um lado Jair gosta da inovação, por outro, ainda está apegado às antigas origens. “O movimento até era melhor antes [da reforma], parece que quando você faz uma reforma, aquilo parece que muda, perde a característica de vir a feira, aquela feira que era mais simples, né?”
Valeta da Urbis IV: um perigo
De acordo com a Prefeitura de Conquista, o município possui um relevo considerado plano com suaves ondulações e apresenta altitude máxima entre 1.000 e 1.100 metros na região da Serra do Periperi, localizada ao norte da zona urbana. Por conta dessa altitude, a cidade tem um clima tropical amenizado, sendo uma das cidades com as temperaturas mais baixas da Bahia durante o inverno, tendo registrado 6,2ºC em 2006. Quando chove forte, vira motivo de preocupação para a cidade. É que, com o crescimento acelerado do município sem um planejamento adequado, enxurradas e alagamentos são recorrentes durante o período chuvoso há muitos anos.
Em 21 de abril deste ano, por exemplo, choveu tanto na cidade, que alguns bairros da Zona Oeste ficaram sem energia elétrica – inclusive a Urbis IV. Antes disso, em 8 de março, a chuva intensa alagou ruas e avenidas de Conquista, bem no horário de saída dos trabalhadores, às 18h, prejudicando ainda mais o trânsito na cidade. Por causa de enxurradas como essas, que chegavam a alagar casas, engolir carros e ilhar pedestres, o município precisou construir, ao longo dos anos, alguns canais para a drenagem das águas das chuvas. Esses canais também são conhecidos por valetas.
Durante a gestão do prefeito Guilherme Menezes (PT), entre 1997 e 2004, um desses canais foi implantado na Urbis IV, na Via Local, segundo o corretor de imóveis Carlos Alberto Prado, 64 anos. A reportagem perguntou à Prefeitura o ano exato de construção do canal neste bairro, mas até o momento da publicação não obteve resposta. O que era para resolver a questão das enxurradas e alagamentos, acabou trazendo outro problema: acúmulo de lixo, água parada, esgoto a céu aberto, mau cheiro e pragas. É que o canal foi construído sem cobertura. “Os próprios moradores acabam colocando os esgotos e lixo para cair na valeta”, denuncia a costureira Zení.
A professora aposentada do Estado, Olga Luiza Reis Rocha, 54 anos, lembrou que a população do conjunto não foi informada da construção do canal pela Prefeitura ou qualquer órgão responsável. Simplesmente decidiram construir, mesmo depois dos protestos e de reuniões realizadas com os moradores. O motivo dado para a construção do canal eram as chuvas constantes e os alagamentos das residências, porém, segundo a aposentada, não havia necessidade de construir a valeta do tamanho que fizeram. “Fizeram um negócio errado, que aí sim a água passou a descer para tudo que é lado, descia água aí? Sim, mas não era esse horror para fazer uma valeta que cabe um rio dentro”, disse Olga.
Carlos contou que até acidentes já ocorreram no canal. Isso aconteceu por causa do tamanho exagerado do canal e do retorno, deixado apenas no final da Via Local, no encontro com a Avenida Sérgio Vieira de Mello, onde fica o colégio CAIC (Centro Municipal de Educação Profº Paulo Freire). “Já morreu gente, que moto já caiu aí [na valeta], já morreu gente. Caiu vários carros”, relembrou.
A aposentada também recordou de acidentes ocorridos na valeta. “Não tem retorno em cima. [Para fazer o retorno de carro ou moto] você tem que ir até a pista lá em cima do CAIC, para poder retornar. Já teve vários acidentes à noite por causa disso, com Uber, com moto.”
Os moradores e comerciantes da Urbis IV contam que, antes da construção do canal, havia uma espécie de praça na Via Local, considerada uma área de entretenimento pelos moradores. “O espaço onde hoje é esse ‘valetão’ na urbis IV era uma área que os moradores usavam como lazer. E, durante um tempo, a Prefeitura tinha um projeto de shows nos bairros e quando era aqui, a vez do nosso bairro, o show era exatamente em cima desse espaço”, relembrou a professora universitária Marta Luciana Reis Rocha, 49 anos.
“Isso aqui era fechado, as crianças brincavam de bola aí dentro, era igual uma praça, a gente fazia bingo aqui. Isso aqui [canal de drenagem] não existia não, moço. Naquela época, eles fizeram essa esculhambação. Desvalorizou o nosso conjunto”, desabafou Emanuel F. Santana, 63 anos, aposentado, morador do bairro Urbis IV desde do seu início em 1981.
Insatisfeitos com a obra faraônica sem cobertura, Olga e Carlos acrescentam mais um problema causado pela forma como o canal foi construído: a divisão da Urbis IV em duas partes, o que dificultou o acesso para pedestres. Se para os carros já é complicado ter que descer toda a Via Local para fazer o retorno no lado que sobe, para quem vai a pé é uma procissão. Só é possível atravessar a valeta andando por uma ponte no início da via, onde mal tem residências, e outra já no final da via, o que cansa só de olhar. De acordo com os dois, essa segunda ponte só existe porque “não sei quem, graças a Deus, foi lá e botou fogo e derrubou a ‘pinguela’ de madeira que tinha. Aí depois disso, [a Prefeitura] colocou uma ponte, que nunca foi terminada, as laterais são abertas. As crianças vivem pulando de um lado pro outro, ainda mais correndo o risco de cair”, recordou a professora aposentada.
Para o dono do Mercado Progresso, localizado bem em frente a esta segunda ponte no final da valeta, Sizínio José do Couto, 53, o principal problema do canal de drenagem é ter sido construído sem cobertura, o que permite acúmulo de lixo e água da chuva e, por conta disso, o aparecimento de pragas no local. “Muita muriçoca, muito rato, mau cheiro, porque desce uma água fedida lá de cima, lá do morro, não sei da onde vem, e passa aqui com um fedor danado, esse é um dos principais [problemas].” Emanuel concorda com o comerciante: “para começar [os problemas], o esgoto que jogam aí dentro, muita gente joga, o mau cheiro é insuportável principalmente do lado de lá [esquerdo], onde o vento sopra do sul para o norte”.
Não há previsão da Prefeitura resolver o problema da valeta
O bancário aposentado, Cilônio Vieira, 70 anos, que mora na Urbis IV há 40 anos, disse que essa situação do canal já foi denunciada à Embasa, mas nenhuma resposta foi dada ainda. “Agora mesmo está correndo esgoto a céu aberto. Esse esgoto só trouxe problemas para nossa comunidade. E prometeram, inclusive em governos passados, cobrir, como agora estão fazendo lá do lado leste, na Avenida Olívia Flores, mas ficou simplesmente na promessa”, disse. Ele explicou que a água que corre no canal de drenagem é de esgoto doméstico, e não da chuva. Esse esgoto a céu aberto é motivo de doenças, como a dengue.
Em fevereiro deste ano, o vereador Ricardo Pereira (PCdoB), conhecido como Ricardo Babão, apresentou à Câmara Municipal de Conquista uma indicação para o fechamento e cobertura dos canais de drenagem da Urbis IV (incluindo trecho de acesso para Lagoa das Bateias), Vila Serrana e Avenida Brumado. Em março, a proposição foi enviada para a Prefeitura.
Segundo o vereador, sua solicitação foi analisada, porém, a atual gestão municipal informou faltar recursos para começar as obras de fechamento do canal no momento. “Já tivemos reuniões com as nossas demandas. E o que o governo alega neste momento é que não tem o recurso pra fazer.” Diante da resposta da Prefeitura, ele disse que buscará outros recursos, como financiamento, emendas parlamentares e ajuda de deputados. “Eu acho que a esperança, o velho ditado, a esperança é a última que morre.”
A reportagem também procurou a prefeitura para prestar esclarecimentos sobre o motivo do canal ter sido construído sem cobertura e de quando pretendem cobri-lo, mas, até o momento da publicação da matéria, não fomos respondidos.
Segundo o vereador, ele pede melhorias para aquela área desde o seu primeiro mandato, porém sem sucesso. Ricardo também citou o quanto é triste ver a Avenida Olívia Flores, que fica em uma área nobre da cidade, no bairro Candeias, receber mais atenção da prefeitura, enquanto o canal de drenagem da Urbis IV é deixado de lado.
Para o vereador, a valeta foi uma obra extremamente necessária por causa da falta de estrutura da cidade para escoar as fortes chuvas. “O canal tinha que ser feito. A cidade vai crescendo e Conquista não foi programada para a chuva. Mas tinha que ser feito coberto, fechado né.” Ricardo acredita que, com o fechamento do canal da Urbis IV, o problema da falta de saneamento seria resolvido e a população ainda ganharia uma nova área de lazer. “Ficaria uma avenida bonita, fazer uma calçada pra as pessoas caminharem e fazer a prática de seus exercícios, seu esporte, naquela localidade.”
Os moradores sonham com a mesma coisa. Para a costureira Zení, a valeta precisa ser tampada, já que foi feita de forma exagerada. “Poderia ter sido menor e coberta, para manter o bairro sem o mau cheiro do esgoto e lixo. Depois que foi feito esse canal, não teve mais alagamentos nas casas das pessoas, quando chove”, desabafou ela. Em concordância com a costureira, Olga reforça a necessidade de um revestimento. “Nós perdemos a praça. Temos uma valeta monstruosa no meio. Tem utilidade, mas não precisava ser daquele tamanho.”
Urbis: quase seis décadas de história
Em meados dos anos 1960, o governo da Bahia autorizou, por meio da lei 2.114/1965, a criação de uma sociedade de economia mista que teria como objetivo planejar e construir habitações e conjuntos habitacionais para a população com menos recursos e que não tivessem acesso ao mercado imobiliário. A sociedade recebeu o nome de “Habitação e Urbanização da Bahia S.A.”, com sede na capital baiana, que depois se espalhou por todo o estado. Mas a empresa ficou conhecida mesmo pela sua sigla, Urbis. E para a população em geral, Urbis virou sinônimo de bairro periférico, composto de casas populares construídas umas ao lado das outras, com áreas que variam e podem chegar até 200m².
A princípio vinculada à Secretaria do Trabalho e Bem Estar Social e depois liquidada pela lei 7.435 de 1998, tendo suas atribuições repassadas a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), a Urbis foi responsável pela expansão urbana de Salvador e outras cidades baianas, como é o caso de Vitória da Conquista.
Situada a 509 km da capital do estado, a terceira maior cidade da Bahia (ficando atrás apenas de Salvador e Feira de Santana) fará 181 anos em novembro de 2021. Localizada na região sudoeste do estado, a “Suíça Baiana” (um dos apelido de Conquista, neste caso, devido ao clima frio e seco da região) possui a 5ª maior economia da Bahia, com um Produto Interno Bruto (PIB) em 2018 de mais de 7 bilhões de reais, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O comércio e o setor de serviços são os principais setores que movimentam a economia do município.
A “Jóia do Sertão Baiano” (outro apelido) conta com uma população de 343.643 pessoas, segundo a estimativa do IBGE para 2021. Conquista tem seis Urbis espalhadas em seu território urbano periférico. Duas delas – as vizinhas Urbis IV e V – estão situadas no bairro Zabelê, zona Oeste da cidade. Segundo o último Censo do IBGE em 2010, a população urbana do Zabelê era de 21.970 habitantes, o que representa pouco mais de 6% da população total do município.
Os dois conjuntos foram construídos praticamente na mesma época, no início da década de 1980. Distante aproximadamente 2,8 km do centro da cidade – uns 40 minutos de caminhada -, a região onde hoje é a Urbis IV ainda não fazia parte do itinerário do transporte público municipal naquele tempo. A professora universitária Marta Luciana Rocha relata que, quando se mudou para a Urbis IV com sua família, o conjunto já havia sido inaugurado 2 anos antes.
Nessa época, a região ainda não contava com linhas de ônibus disponíveis. “O ônibus ia até à Avenida Brumado, um pouco antes do complexo policial. Ele virava e entrava na Urbis III. Então, quem morasse aqui no conjunto [Urbis IV] tinha que descer ali no complexo policial e vir andando, independente da hora.” explica a professora. Hoje em dia, três linhas de ônibus, com saída no bairro Vila Serrana, passam pela Urbis IV – a R01, com destino ao Centro, a D30, que vai até o campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb) e a P50, com destino a Urbis VI. Tem também a linha P54, que vai do bairro Morada Real para o Miro Cairo e passa pela Urbis IV.
Quando começou a morar no conjunto, Marta disse que o ônibus circulava apenas onde hoje se localiza a valeta. Depois de um ano, o transporte ampliou seu trajeto e passou a transitar pela rua J da Urbis IV, onde ela mora. “Ele passava pelo final da rua, descia, saía na primeira rua, e aí continuava o trajeto dele. Somente com a inauguração da Urbis V foi que aumentaram a quantidade de ônibus, né, e o trajeto mudou também.” Atualmente, o ônibus não passa mais na Rua J. Ele entra na Via Local pela Av. Brumado e sai na Av. Sérgio Vieira de Mello.
A professora contou também que a Urbis vizinha foi construída poucos anos depois que se mudaram para a IV. Com casas muito pequenas, de apenas três cômodos, o conjunto Urbis V recebeu um apelido um tanto quanto inusitado: “o formato da construção fazia com que as pessoas falassem ‘óh, isso parece um cachorro sentado!’, e o apelido da urbis V durante muito tempo foi esse, por causa das casas minúsculas, num formato que lembrava um cachorro sentado.” Em vez de ruas com nomes de letras, como é o caso da Urbis IV, a Urbis V é composta por caminhos numerados, nos quais em alguns não entram carros, e Vias Locais, por onde passam os automóveis.
A grande família Reis Rocha, a qual Marta pertence, mora há aproximadamente 38 anos na Urbis IV, todos na mesma rua. Atualmente, a professora e o marido, o soteropolitano autônomo Matheus Araújo, 26 anos, dividem uma casa própria e a tutela de quatro gatinhos na rua J da Urbis IV. Ao lado direito de Marta e Matheus, vive uma das duas irmãs dela, a professora Ana Cláudia Rocha. Na casa em frente às das irmãs, moram nove pessoas, todos parentes das duas professoras. Entre os nove residentes, estão a irmã mais velha que completa o trio, a professora aposentada Olga Luiza Rocha, e o corretor de imóveis Carlos Prado, tio das três.
Marta lembrou que não existia nenhum tipo de construção onde hoje é a Urbis IV. “De um lado da Avenida Brumado só tinha a Urbis II, a Urbis III e o complexo policial. Não havia nenhuma casa comercial. Do início da Urbis II até a Urbis IV não havia nada, só mato.”
A reportagem foi produzida a partir de uma parceria do site Avoador com a Agência Mural de Jornalismo das Periferias.
Atualização: A Secretaria de Mobilidade Urbana de Vitória da Conquista enviou uma nota ao Avoador no dia 6 de outubro de 2021. Segundo a gestão municipal, o canal de drenagem pluvial da Urbis IV foi construído aberto por não haver impedimento para esse tipo de construção e que este é o melhor formato para manutenção e limpeza e para a captação das águas da chuva. A nota afirma também que não encontrou registros de reclamações dos moradores da Urbis IV em relação a este canal. Confira a nota na íntegra abaixo.