Com despejo de esgoto e descarte de lixo, Rio Verruga é um dos mais poluídos do Brasil

“Estima-se que 30% das edificações do centro da cidade despejam resíduos sólidos e líquidos diretamente no canal principal do rio”, aponta especialista. Moradores dos arredores denunciam mau cheiro e falta de fiscalização. 1 de agosto de 2024 Lays Macedo

Em 2011, um estudo da Fundação SOS Mata Atlântica apontou o Rio Verruga, que nasce em Vitória da Conquista, como um dos cursos d’água mais poluídos do Brasil. Mais de 13 anos depois, a situação não é diferente. Moradora do Loteamento Alto da Boa Vista, Natália Sena observa diariamente o estado crítico do rio e as consequências de sua degradação. “Infelizmente, nós que passamos todos os dias sobre estas águas, lidamos de perto com uma poluição que é muito nítida”, conta.

Com a nascente situada na Reserva Florestal do Poço Escuro, o Verruga corta a zona urbana do município de forma subterrânea, percorrendo os bairros Guarani, Cruzeiro, Alto Maron e Centro. A partir da Avenida Bartolomeu de Gusmão, seguindo em direção a Recreio, Candeias, Boa Vista e Universidade, o canal por onde passa o rio não é coberto por cimento. O espaço com água está a céu aberto.

Junto com os filhos pequenos, Natália vive em uma localidade onde há um trecho descoberto do rio. Todos os dias ela precisa atravessar uma ponte construída sobre as águas do Verruga. “O lixo, a água suja e o mau cheiro atraem insetos e animais nocivos. Os governantes não vêem que a falta de limpeza nos canais de acesso é perigoso para quem está por perto”, desabafa.

O odor e a sujeira que as pessoas conseguem notar ao passar pelo rio são consequências diretas da ação humana sobre as águas. “Estima-se que 30% das edificações do centro da cidade despejam resíduos sólidos e líquidos diretamente no canal principal do Rio Verruga”, explica o pesquisador da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb) e doutor em Geografia, Altemar Amaral Rocha.

Natália precisa atravessar uma ponte sob trecho do Rio Verruga diariamente. Foto: Lays Macedo

Justiça determina despoluição

Não são apenas as pesquisas que apontam o despejo irregular no Rio Verruga. Os próprios residentes dos arredores relatam presenciar a poluição das águas. Esse é o caso de Carlos Farias, morador da área conhecida como “Baixa do Facão”. “Na Avenida Bartolomeu de Gusmão, a gente passa por ali e vê entulho sendo jogado às margens. Ninguém fiscaliza. Tem esgoto também, que de vez em quando estoura, desce sujando tudo e se junta ao lixo descartado de forma irregular”, denuncia.

De acordo com Rosalve Lucas Marcelino, professor do curso de Geografia da Uesb e técnico em Engenharia Agrícola, com o despejo de esgotos e de lixo sólido no rio, ocorre uma quebra do equilíbrio ecossistêmico. “Isso faz com que suas águas sejam praticamente um grande “esgoto fluvial”, e assim o rio perde toda a sua ictiofauna (espécies de peixes que existem numa determinada região biogeográfica), além de se tornar um ambiente aquático estéril e sem vida”, esclarece.

A situação do Verruga é tão crítica que, em março de 2023, a Justiça determinou que a Embasa e a Prefeitura de Vitória da Conquista adotem medidas para despoluir o rio. A determinação atendeu a pedidos apresentados pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) desde 2010. Segundo o processo, a poluição é causada pela drenagem das águas pluviais e por ligações clandestinas de esgoto.

Naquele ano, o governo municipal e a Embasa recorreram da sentença. Apesar disso, em decisão em segundo grau, a Justiça obrigou as partes envolvidas a despoluir as águas. Também foi estabelecido um prazo de dois anos para execução de um Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (Prad) e determinado o pagamento de indenização por dano moral coletivo no valor de R$500 mil.

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Ligações clandestinas de esgoto e descarte de lixo são os principais problemas que afetam o Rio Verruga. Fotos: Lays Macedo.

Um mês após a determinação judicial, a Prefeitura publicou uma nota oficial sobre o assunto. De acordo com o texto, a gestão estava adotando medidas efetivas “a exemplo de fiscalização contínua, restauração de áreas degradadas, desenvolvimento da educação ambiental, entre outras iniciativas”. A Embasa também se posicionou. Em comunicado à imprensa, a empresa prometeu que o trabalho de identificação dos imóveis que direcionam esgoto bruto para as águas começaria naquele abril de 2023.

Falta de ações efetivas

Mais de um ano após o processo movido pelo Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), especialistas e moradores seguem apontando o alto nível de poluição do rio. Apesar de ter anunciado a implementação do Parque Natural Municipal do Verruga, por meio da Lei nº 2.907/2024, até a publicação desta reportagem, a gestão Sheila Lemos (UB) não respondeu aos questionamentos do Conquista Repórter sobre o que tem sido feito atualmente para despoluir as águas e combater o despejo irregular de esgoto.

Nos anos de 2023 e 2024, respectivamente, foram inaugurados o Orquidário e a Catedral das Flores como parte do Parque Municipal. Ambas as estruturas, situadas nas proximidades da Rua Marcelino Rosa, no Recreio, estão numa região da cidade considerada “nobre”. Por outro lado, as populações dos bairros populares cercados pelo Verruga, como o Alto da Boa Vista, se queixam do odor que exala do rio.

De acordo com o geógrafo Rosalve Lucas Marcelino, as regiões consideradas “marginalizadas”, para as quais o Poder Público dá pouca atenção ou age com desleixo em relação à oferta de serviços públicos, abrangem as áreas localizadas às margens do Rio Verruga. “De certa forma, essa postura influencia as pessoas que vivem nesses locais a também poluírem suas águas, contribuindo mais ainda para a degradação do rio”, destaca o professor.

Segundo especialista, estima-se que 30% das edificações do centro da cidade despejam resíduos sólidos e líquidos diretamente no canal principal do Rio Verruga. Foto: Lays Macedo

Para o pesquisador Altemar Amaral Rocha, além de medidas para a despoluição do Verruga, é preciso que o Poder Público recomponha a mata ciliar do rio. “É necessário também ampliar as áreas de preservação de suas nascentes secundárias que estão localizadas no espaço urbano da cidade, como por exemplo, a nascente do Panorama; a nascente do Primavera, ao lado da Estrada da Barra, indo em direção à Uesb; a Nascente do Morada dos Pássaros, dentre outras em Vitória da Conquista”, finaliza.

O Conquista Repórter também solicitou posicionamento da Embasa acerca das medidas adotadas para evitar o despejo de esgoto no Rio Verruga, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.

 

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