Jovens empreendedores deslancham o mercado de aplicativos

9 de junho de 2017 Paula Joane

Com 168 milhões de smartphones ativos no Brasil, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas de 2016, o mercado de aplicativos desperta o interesse de jovens empreendedores pelo país.  Em Vitória da Conquista, não é diferente.  Nos últimos cinco anos, foram criados apps para atender a demanda local, como o aplicativo para pedir pizza, como também para públicos específicos, como o direcionado para deficientes auditivos.

Segundo o doutor em Ciência da Computação e engenheiro de softwares, Fábio Moura, a tendência para o uso de sistemas para dispositivos móveis é de crescimento. Para ele, essa ascensão possibilitou que pequenos desenvolvedores de software possam concorrer de igual para igual com grandes empresas. Mesmo com poucos recursos é possível disponibilizar a sua aplicação para um vasto número de usuários”, diz Fábio e completa dizendo que todo esse cenário também promove a criatividade.

Um dos exemplos de empreendedorismo é o de Raíra Carvalho, programadora, de apenas 20 anos, que criou o software Librol.  Sua ideia surgiu ao observar, ainda durante o ensino técnico, o quão difícil era para um colega deficiente auditivo acompanhar o conteúdo do curso. Não havia um nada fácil e acessível para dar auxílio ao colega. Com base nessa experiência, ela criou em 2013, o aplicativo que está disponível para notebooks e dispositivos móveis.  

O Librol é uma ferramenta que traduz textos em Português para a Libras, sem uso de sinais. De Conquista, Raíra levou o seu software para São Paulo, onde o apresentou na Campus Party,  de 2016. O projeto foi premiado como melhor projeto da maratona de negócios na área de educação e ficou em primeiro lugar na Campus future, ambas categorias de premiação da Campus Party.  “A gente conseguiu pensar numa coisa muito óbvia, mas que ninguém tinha conseguido pensar”, conta Raíra ao comentar sobre uma conversa que tivera com outros estudantes no evento.

IMG-20170527-WA0009

Conversão de Português para Libras em versão software do Librol. Foto: Reprodução.

A ferramenta é concebida como software de computador e a ideia é que seja instalado nos computadores das universidades. O principal objetivo é trazer para o dia a dia as traduções, principalmente no âmbito acadêmico. E Raíra já pensa no futuro: “quem sabe não chega ao ENEM, já que é uma prova complicada e seria bom ter uma prova adaptada para os deficientes auditivos”.

A equipe do Librol conta atualmente com quatro pessoas e o aplicativo está em fase de teste em escolas de São Paulo, portanto ainda não está disponível para download. A versão protótipo ainda apresenta dificuldades em traduzir expressões, mas os estudos e aprimoramentos estão em andamento e apresentam resultados satisfatórios. Em Conquista, o teste ocorreu, em 2014, no Instituto Federal da Bahia (IFBA), e conseguiu mais de 80% de aproveitamento. Apesar disso, Raíra conta que na cidade o projeto não recebeu muito apoio, mas o projeto foi abraçado na capital paulista. Há previsão de que em junho seja disponibilizada a primeira versão para uso na internet.

 

Outro aplicativo criado em Conquista foi desenvolvido pelos jovens empreendedores de Érico Rodrigues, 28 anos, e Victor Deodato, 22 anos, ambos estudantes de Administração, Vinícius Guimarães, 28 anos, já graduado em Sistema de Informação e Marcelo Aires, 28 anos, mestrando em Ciência da Computação. Eles fizeram um app para dar a praticidade a quem gosta de pedir comida via delivery. A ideia surgiu depois que observaram a necessidade de algo assim na cidade. “O TheLivery surgiu a partir de uma leitura de mercado”, conta Marcelo, um dos co-criadores, citando ainda que eles mesmo sentiam dificuldades quando o assunto era pedir comida por telefone.

Equipe The Livery

Equipe The Livery. Victor Deodato, Érico Rodrigues, Vinícius Guimarães e Marcelo Aires (esquerda para direita). Foto: Arquivo Pessoal.

O aplicativo tomou forma a partir da soma do conhecimento de cada um dos criadores. Érico é da área de vendas e marketing, Victor de administração e atendimento, já Marcelo e Vinícius entendem de programação e banco de dados. O resultado é que o empreendimento deu certo e hoje, além dos quatro fundadores a equipe ainda conta com mais cinco colaboradores na área de atendimento, marketing e design e desenvolvimento.

O software já atende a 11 cidades.  Segundo Marcelo, ele é bem aceito pelo público alvo. “Já temos 16 mil downloads. Com um pedido via telefone acontecem alguns problemas, como o telefone estar ocupado, erro de comunicação, falta de cardápio, e essas coisas que não acontecem no aplicativo”, defende o programador.

Além do público, os empresários têm aderido aos aplicativos. Taigra Aiam é gerente de uma lanchonete que aderiu ao serviço via internet. A casa trabalha com dois serviços de pedidos por celular, inclusive o elaborado pela equipe de Marcelo. Segundo Taigra, os pedidos mantiveram os números, cerca 90 por dia. A diferença é que quem pedia por ligação, hoje pede pelo smartphone. No entanto, o aplicativo expandiram as localidades dos pedidos, e ainda agilizou os atendimentos. “Eu acho melhor os aplicativos. Basta dar três cliques e realizamos o pedido. Antes, as linhas telefônicas ficavam ocupadas ou o cliente enrolava ao fazer o pedido”, comenta Taigra.

De acordo com dados disponíveis no Play Store – loja de aplicativos – o software de pedidos delivery desenvolvido pela equipe de Marcelo é o app mais baixado na cidade, com cerca de 10 mil downloads. Para quem está inserido nesse mercado, é fundamental acompanhar o buzz, ou seja, o burburinho das novidades tecnológicas, para realizar análises de tendências e de tempo de existência dos apps.

Conquista conta ainda com empresas especializadas no desenvolvimento de aplicativos. É o caso da Maquinamara, que desde 2014 já criou cerca de 10 apps.  Victor Willer Barbosa, 26 anos, é sócio do empreendimento. Segundo ele, a maioria dos trabalhos já realizados pela empresa foram para fora da cidade. No entanto, nos últimos 10 meses, ele percebeu um gradativo crescimento da demanda local. “Acredito que as empresas começaram a perceber o poder que as ferramentas de aplicativos podem ter, se forem bem usadas”, diz o desenvolvedor.

No mercado dos apps, boas ideias podem significar muitos cliques. Segundo a App Annie, companhia analista de mercado, a previsão é que até o final de 2017 sejam realizados 82,2 bilhões de downloads de aplicativos no mundo. Não existe uma métrica por cidade para medir o número

de download, já que as lojas de aplicativos não fazem essa verificação. Cabe aos desenvolvedores, sejam estudantes, de garagem ou os já inseridos no mercado, ficarem atentos aos clicks nas lojas on-line e trabalharem para que esse empreendimento local ganhe cada vez mais espaço.

 

Foto destacada: Paula Joane/Site Avoador.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *