Da casa à web: a inserção dos museus no espaço digital
Conheça os museus digitais em diferentes lugares do Brasil e do mundo e as possiblidades para fazer um tour sem sair de casa 10 de fevereiro de 2019 Bianca Meira, Iana Magalhães e Luana FigueredoIr ao Museu do Louvre, na França, sem precisar sair de casa ou visitar o Museu Imperial, no Rio de Janeiro, apenas com um clique. Isso é possível graças às versões dos museus disponíveis na internet. Por meio da tecnologia, de qualquer parte do mundo, o internauta pode ter acesso à história, arte e cultura de vários lugares do Brasil e do mundo.
A arquitetura dos museus passou por um processo de evolução até ocupar seu espaço na Web. Inicialmente, surgiram as Casas Museus, que em um primeiro momento pertenceram a personalidades ilustres e históricas e foram transformadas em museus. Preservam-se, assim, móveis e objetos pessoais dos antigos residentes a fim de representar seu estilo de vida.
Há também os museus que possuem arquitetura e acervo próprios, como o Masp (Museu de Arte de São Paulo). Além disso, existem os museus com estruturas abertas, são os chamados Museus Comunidades, como o Museu de Itaipu, no Paraná. Por fim, com a evolução da internet, surgiram na década de 90 os cyber museus, exclusivos do meio digital, como o Museu da Pessoa e o Muva (Museu Virtual de Artes).
De acordo com o historiador, museólogo e professor universitário da UFBA (Universidade Federal da Bahia), José Cláudio Alves, os cyber museus “podem estar em um CD, DVD ou em aplicativos na Web” porque foram criados exclusivamente para o espaço digital. “Porém, é preciso analisar o que de fato esse museu abrange e se pode realmente ser considerado um museu”, comenta.
Para o historiador, é necessário que haja um sistema que contemple conservação, educação, documentação e exposição. Então, se o espaço digital não tem todos esses elementos não se trata de um museu, mas sim de um projeto museológico. “Para ser considerado museu é preciso que haja um sistema. Tem que ter um olhar mais crítico e sistematizado, mas isso não tira o valor de projetos museológicos que exaltam a preservação da memória social”, argumentou.
Além dos cyber museus, aqueles exclusivos da Web, há ainda os museus digitais, que são aqueles com espaço físico e um complemento digital. Ambos trabalham para a preservação da memória dos povos e suas culturas. Por outro lado, segundo o professor, a digitalização dos museus físicos ainda não suporta uma quantidade significativa de informações. Os museus possuem fontes de objetos e documentos muito extensas e do ponto de vista técnico ainda há fragilidade no ciberespaço quanto à capacidade de comportar tanta informação. Isso não acontece nos cyber museus, já que eles foram criados sob a ótica virtual e exclusivos para tal.
Enquanto isso, os museus que apenas se complementam no meio digital não conseguem migrar 100% para o ciberespaço por conta da fragilidade das plataformas, afirmou José Cláudio. Ainda segundo ele, outra desvantagem do espaço digital é a perda do contato mais próximo com o material exposto, só oferecido pelo espaço físico. No “museu presencial a gente come uma pipoca enquanto anda por ele. Esse percurso não se faz na internet. O museu virtual é fonte de divulgação do museu presencial, e de alguma forma ele está preservando a memória, mas o prazer maior você encontra estando lá. São formatos diferenciados, cada um com a sua satisfação de ser e estar. Porém, nenhum vai excluir o outro, jamais”, explicou
Memorial Régis Pacheco em Conquista
A Casa Memorial Governador Régis Pacheco, um casarão em estilo neoclássico construído na segunda década do século 20, foi aberto à visitação pública em 5 de abril de 2007, após ter sido restaurado, tornando-se oficialmente um museu. O local conta a história política de Régis Pacheco, que já foi prefeito de Vitória da Conquista, além de sediar eventos culturais como oficinas e exposições de pinturas, fotografias e artes plásticas.
O museu não tem o projeto pronto para colocar seu acervo na Web. Segundo a responsável pela manutenção do Museu, Mércia Carvalho Andrade, desde a gestão do prefeito José Raimundo, em 2002, já havia sido solicitada uma pesquisa a respeito do memorial Régis Pacheco. “É um material que existe, mas ainda não está disponível na internet, pois ele ainda não foi devidamente organizado, de uma forma atrativa visualmente para as redes”, afirma.
Segundo Mércia, faltou vontade política para levar o projeto à frente. “Desde a outra gestão, faltou cuidado e organização para que o Museu estivesse na rede em sua versão virtual”. Ela defende que a iniciativa dos museus de levarem seus acervos para o público virtual é válida porque oferece ao público interessado comodidade e amplia o alcance da visibilidade à arte.
Experiência virtual do Museu Imperial
Para vivenciar a experiência de navegar por um museu online, o Avoador fez uma visita ao Museu Imperial localizado na cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro. O site do museu é de fácil acesso, interativo e simples. Logo na primeira página nos deparamos, entre diversas opções, como agendar sua visita ao museu, momentos históricos e suas mais novas aquisições, com as opções ‘visita virtual’ e ‘acervo digital’, links em que encontramos as peças expostas no museu com suas fotos e detalhes históricos. Além disso, está disponível uma imagem 360° de cômodos do museu, uma bela forma de nos transportar direto para dentro dos ambientes sem precisar ir ao Rio de Janeiro.
Segundo a equipe do Museu Imperial ao todo são 746 itens e 16.908 imagens disponibilizadas para o público virtual. Esses números são distribuídos em sete coleções: o Arquivo da Casa Imperial do Brasil, a Coleção Carlos Gomes, a Coleção Família do Conde Modesto Leal, a Coleção Família Imperial, a Coleção Sérgio Eduardo Lemgruber, a Coleção Tobias do Rego Monteiro e a Coleção Visconde de Itaboraí. Embora muitos arquivos sejam disponibilizados, na apresentação do projeto, a equipe do museu afirma que há somente uma pequena parte do seu acervo na internet.
Na aba ‘visita virtual’, temos a opção ‘tour virtual’ e ‘ambiente 360°’. Na tour virtual nos é apresentado um mapa, e com o passar do mouse pelos ambientes, descobrimos a história de cada um, juntamente com a descrição de peças que a sala abriga. Em uma visão 360 graus, descobrimos detalhes das obras, dando zoom para ter uma visita ainda mais interativa. Podemos nos guiar pela visita aos cômodos somente pela direção do mouse ou pelas teclas na parte inferior da tela. Todos os ambientes são ricos em detalhes e representam o palácio de verão do imperador brasileiro Dom Pedro II.
No link ‘acervo digital’, encontramos uma espécie de árvore genealógica do museu, com as suas artes catalogadas e disponíveis para o público. No topo da árvore, o link ‘apresentação’ fala sobre o projeto desenvolvido pelo museu de disponibilizar seu acervo na internet. Em seguida, é possível navegar por conteúdos divididos em links como museologia, arquivo histórico, biblioteca, coleções digitalizadas e artistas.
Explorando o Museu do Louvre
Também foi conhecer como é a experiência virtual do Museu Louvre. Inaugurado em 1793, o Museu é um dos mais famosos e importantes do mundo. Localizado no Palácio do Louvre, no Centro da cidade de Paris, na França, ele abriga cerca de 350 mil peças, estando aproximadamente 35 mil expostas. Algumas das obras mais importantes em exposição no Louvre são a pintura Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, e a escultura Vênus de Milo, de Alexandre de Antioquia.
O acervo é dividido em oito áreas distintas: antiguidades egípcias; antiguidades do oriente; antiguidades gregas, etruscas e romanas; arte islâmica; artes decorativas; pinturas; gravuras e desenhos; e esculturas. O imponente edifício de 160 mil metros quadrados foi primeiramente uma fortaleza no século XII, depois se tornou residência real para monarcas franceses e finalmente, ao alcançar o status de museu e ser aberto ao público, representou uma grande mudança: a arte que antes estava restrita à elite passou a estar disponível para todos.
O Louvre é o museu mais visitado do mundo, recebendo cerca de 8 milhões de pessoas anualmente. Mas para quem não pode ir à Paris e entrar no museu pela sua famosa pirâmide de cristal, é possível explorar o Louvre por meio de sua versão digital. O site oficial do Museu do Louvre oferece diversas formas de interação e acesso ao museu, desde detalhes da sua história, da estrutura física até, claro, do acervo.
Ao acessar a página, observa-se que o site está em francês. Essa pode se tornar uma barreira para pessoas que não falam a língua, mas a interface do site é simples e fácil de navegar. Além disso, no canto superior direito aparece a opção “Select language”, onde é possível alterar o idioma para o inglês, por exemplo. E ao utilizar o navegador Google Chrome, também há a opção “Traduzir esta página”, que traduz os textos para o português. Mas é importante ressaltar que o site possui muitos conteúdos de vídeo, por exemplo, e nesses casos eles estão apenas em francês ou não estão disponíveis na versão em inglês do site.
Entre as diversas opções presentes no site oficial do museu está o tour virtual, mas navegando pelo próprio site essa opção não está disponível. Para chegar até ela, é preciso usar um site de buscas – o Google, por exemplo – e pesquisar “online tours Louvre” e clicar no link em que tenha como título “Online Tours | Louvre Museum | Paris – Musée du Louvre”. Ao clicar no link, é aberta uma página do site oficial do museu em Inglês. Lá estão disponíveis três opções de tour virtual.
A primeira delas é a tour pelas Egyptian Antiquities (Antiguidades Egípcias) e para iniciar a visita virtual, basta clicar no link “Launch virtual tour”. Clicando no botão esquerdo do mouse e movendo-o para a esquerda ou direita, se tem uma visão em 360º do local. As setas maiores pretas, que aparecem ao passar o cursor do mouse pelo chão do museu, servem para mudar de um cômodo para o outro, bastando apenas clicar nelas.
Confira abaixo uma peça da exposição egípcia disponível na visita virtual do Louvre:
No canto inferior direito, há uma caixa com texto, em inglês, com informações sobre o acervo. Ao colocar o cursor do mouse sobre uma peça e aparecer um “i”, basta clicar nele para aparecer, na caixa de texto, informações sobre a obra, além de aparecer na tela uma imagem mais aproximada. Já no canto inferior esquerdo, há um mapa indicando em que parte da seção o internauta está e no qual é possível também clicar em símbolos que se parecem com pegadas para mudar de ambiente. Esse tour virtual pode ser feito facilmente e realmente passa a sensação de estar dentro do museu.
Voltando para a página oficial do Museu do Louvre, em Francês, a seção “Arts & Education” (Artes & Educação) também oferece opções para quem quer saber um pouco mais sobre o acervo e o museu em si. Dentro dela está a parte “Oeuvres à la loupe” (Obras com uma lupa) na qual é possível observar algumas obras detalhadamente, dando zoom nas imagens. Por exemplo, pode-se fazer isso com o quadro Mona Lisa, que na versão original do site está com o nome La Jaconde.
Ao clicar na opção Consultez le focus, tradução: Confira o foco, a página é aberta em uma nova guia. Para aumentar ou diminuir o zoom na obra, basta utilizar o botão de rolagem no mouse e para mover da esquerda para direita e de cima para baixo, basta manter o botão esquerdo do mouse pressionado e fazer o movimento que deseja. No canto superior direito, há um menu com as opções Observer (Observar), Comprendre (Entender) e Comparer (Comparar), com textos e vídeos que permitem que se tenha mais informações sobre a obra, como, por exemplo, explicações sobre o sorriso e o olhar de Mona Lisa.
Além das opções citadas, a versão digital do Louvre oferece muitas outras informações, como as exposições que estão acontecendo, venda de ingressos, história do museu, etc. É um site para ser explorado porque possui muito conteúdo, vídeos, imagens e textos que merecem atenção e levam o internauta em uma viagem não só a Paris, mas também pela arte, cultura e história.
Foto de capa: Pexels