Estudantes do “Mais Futuro” enfrentam dificuldades para conseguir estágio
Após a conclusão de 66% da graduação, as bolsas oferecidas pelo programa são suspensas até que o aluno seja convocado para ocupar uma vaga de estágio, o que pode demorar meses 25 de novembro de 2019 Bianca Meira, Letícia Portela, Luana Figueredo e Tamiris BatistaEntre o fim da assistência estudantil do programa estadual “Mais Futuro” e a seleção para uma vaga de estágio remunerado, que garante a permanência para estudar, alguns estudantes da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb) estão aguardando até seis meses para conseguir um estágio remunerado.
É o caso da estudante de Agronomia da Uesb, Isamara Borges, que há seis meses foi encaminhada para o estágio e está sem remuneração. “O que mais chateia é que não existe uma regra clara sobre o tempo de espera, alguns colegas meus esperaram dois meses e já foram chamados. O “Mais Futuro” sempre me ajudou com as despesas de aluguel, transporte e alimentação, mas esse intervalo até sair a lista de selecionados para o estágio é desgastante”, desabafou.
Criado pelo governo da Bahia em 2015, a partir da Lei Nº13.458, o Programa “Mais Futuro” oferece auxílio financeiro para garantir a permanência de estudantes de baixa renda nas universidades estaduais. Na Uesb, de acordo com Assessoria de Acesso, Permanência e Ações Afirmativas, existem 1.962 universitários que necessitam do auxílio de programas de assistência e permanência. No “Mais Futuro”, eles recebem esse apoio até concluírem 66% da graduação e, após este período, são encaminhados para estágios em suas respectivas áreas. Nesse momento de transição, as bolsas são cortadas e o aluno só volta a receber quando é convocado para ocupar uma vaga, o que pode demorar meses.
A coordenadora da AAPA (Assessoria de Acesso, Permanência e Ações Afirmativas) da Uesb, Selma Matos, explicou que a universidade está buscando uma solução para o problema junto ao governo estadual. “Fizemos a proposta de que esses estudantes possam ser inseridos em atividades de pesquisa e extensão da universidade, como monitoria e tutoria, ao invés de estágio, para que eles possam receber por isso. Eles poderiam se inserir em projetos contínuos. Essa é uma proposta que fizemos ao governo para que o aluno não fique tanto tempo sem recurso”.
São duas modalidades para quem deseja se habilitar ao programa e o aluno interessado deve possuir o cadastro social do governo federal, o CadÚnico, do qual participam famílias de baixa renda que recebem menos de um salário mínimo por pessoa. O auxílio básico, direcionado para aqueles que moram até 100 km de distância do campus no qual estudam, e o auxílio de permanência ou moradia, voltado para estudantes de cidades a mais de 100 km da universidade, são as possibilidades oferecidas pelo programa. No primeiro tipo de assistência, o cadastrado recebe, por oito meses do ano, o valor de R$300,00, já no segundo, a bolsa é de R$600,00 por mês, mesmo em períodos de recesso acadêmico.
Última convocação “Mais Futuro”
Nos dias 8 e 19 de novembro, foram divulgadas pela Uesb as listas de convocação de estagiários pelo programa “Mais Futuro”. Na primeira chamada, foram contemplados 162 candidatos, e na segunda, 17 estudantes, sendo 94 do campus de Vitória da Conquista, 69 de Jequié e 16 de Itapetinga. Neste mês, apenas 179 foram selecionados para ocupar uma vaga de estágio e receber remuneração.
Carmela Scipioni, estudante de Engenharia Florestal, assim como Isamara, é aluna da graduação na Uesb e passou por dificuldades depois que a sua bolsa foi suspensa e ela não foi contemplada com uma vaga de estágio. “Me disseram que eu não ficaria desassistida quando a bolsa fosse suspensa, mas não foi isso que aconteceu. Fiquei quatro meses sem qualquer remuneração e indo quase todos os dias no setor cobrar uma posição. Eles só me pediam para ter paciência porque não dependia deles”, desabafou.
A coordenadora da APPA, Selma Matos, reconhece que o “Mais Futuro” precisa de adequações, e, por isso, a universidade está em negociação com o governo. “Está em discussão um projeto de lei para alteração de algumas regras do programa. Estamos pressionando o governo nesse sentido. Até o final deste mês de novembro, estaremos nos reunindo com a Secretaria de Educação”, explicou.
Segundo dados da APPA da Uesb, em 2010, 35 pessoas entravam na universidade pelo programa de ações afirmativas, em 2018, esse número aumentou para quase 500 pessoas. Por isso, para Selma, é preciso investir na permanência das bolsas da própria instituição, e não somente em programas. “No momento, a universidade discute a possibilidade dos estudantes oriundos do “Mais Futuro” receberam bolsas que surjam por meio das políticas de assistência da Uesb”, explicou.
Os estudantes que ainda não foram contemplados com uma vaga de estágio e têm dificuldade em permanecer no curso por causa do corte do auxílio, podem se habilitar ao PRAE (Programa de Assistência Estudantil), é o que recomenda a coordenadora da APPA. Segundo Selma, 700 beneficiários do Mais Futuro não estão cadastrados ao PRAE, programa que avalia os perfis socioeconômicos dos discentes e oferece bolsas-auxílio de permanência, moradia, alimentação e vagas para a residência universitária.
Foto de capa: Reprodução/Mais Futuro