Informalidade: uma saída para driblar a crise econômica
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2018, 24 milhões de brasileiros trabalhavam como autônomos 28 de fevereiro de 2019 Naylla Peixoto e Taíne RodriguesSeguro-desemprego, salário pago até o quinto dia útil do mês, licença maternidade/paternidade, 13º salário e férias são alguns dos direitos do trabalhador empregado formalmente, de acordo com as normas da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). No entanto, essa não é a realidade da maioria dos brasileiros. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2019, o número de trabalhadores no mercado informal é o maior desde 2012. “Enfrentamos a crise econômica mais violenta dos últimos anos, com inúmeras empresas fechando e, com isso, o número de desempregados saiu de 5 milhões em 2012/2013, para quase 14 milhões em 2017/2018”, relatou o professor do curso de Economia da Uesb, Ronan Soares dos Santos, que também é economista.
Sem perspectiva de conseguir trabalho com carteira assinada, muitos brasileiros acabam na informalidade, em subempregos. Felipe Gomes, 23 anos, é um desses trabalhadores. Há dois anos ele trabalha vendendo frutas em um carrinho pelas ruas do Centro de Vitória da Conquista. “Eu era operador de produção, mas a empresa demitiu. Aqui, foi o único trabalho que achei. Já coloquei currículo em um bocado de lugar, e não fui chamado.” Felipe não trabalha em um ponto fixo, pois, na Ceasa (Central de Abastecimento), a concorrência é muito grande. “Fica um carrinho do lado do outro, não tem como trabalhar não”, explicou.
De acordo com Ronan, as atividades informais, conhecidas como bicos, fazem parte do setor terciário da economia, e incluem, por exemplo, as atividades desenvolvidas por vendedores ambulantes, lavadores de carro, entregadores de pizza, pedreiros, encanadores entre outros. No Brasil, segundo o IBGE, o perfil desses trabalhadores do setor informal é caracterizado como de escolaridade baixa, sem formação profissional. Outra pesquisa do mesmo instituto, a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), realizada em 2018, identificou que 2,3%, equivalente, a 24 milhões de pessoas, estavam trabalhando como autônomos no país. Para o economista, com o “alto índice de desemprego, aumenta consideravelmente o número de ambulantes nas ruas, pois as pessoas precisam sobreviver”.
Remuneração na informalidade
O trabalhador informal nem sempre ganha menos do que aquele que dispõe de carteira assinada. No entanto, a falta da garantia dos direitos trabalhistas gera insegurança no dia a dia. É o caso da sócio-proprietária de uma barraca de cachorro-quente, no Centro da cidade, Ana Caroline Barros, 24 anos. “A maior dificuldade é a instabilidade. Posso estar aqui hoje, mas amanhã posso sofrer um acidente, ter algum problema de saúde e não vou estar coberta”. Por outro lado, segundo ela, a remuneração que consegue, ao vender cachorros quentes, é um valor bem próximo do que receberia se tivesse em um emprego registrado. “Por mês, eu consigo tirar pouco mais de um salário mínimo, que seria o mesmo valor que ganharia trabalhando em uma empresa formal, com a desvantagem de não ter a carteira assinada.”.
Lucas Silva, 23 anos, autônomo, possui uma barraca de acessórios na Avenida Lauro de Freitas há cerca de cinco anos, e busca uma nova oportunidade no mercado de trabalho, ainda que considere a atividade informal mais lucrativa. “Já entreguei currículo, só que até agora nada. Mas aqui tem sido melhor que o trabalho antigo de carteira assinada, às vezes, tiro até mais que um salário”, revelou.
O vendedor de água de coco, José Roberto, 49 anos, que há 13 anos tira a sua renda do trabalho informal é mais uma história desse cenário de informalidade que acabou se tornando uma permanente fonte de renda. “Perdi o emprego, fiquei sem opção, e aí tive que montar a minha empresa. Pensei em outras coisas, mas preferi a água de coco. Você está empregado e perde o emprego, e aí, vai fazer o quê? Procura outro, e não encontra. Você vai tem que se virar, correr atrás de alguma coisa”, desabafou.
Ronan afirma ainda que não existe solução fácil ou mágica para o problema do desemprego. As pessoas desempregadas ou com subempregos precisam que o país volte a crescer. “Dentre as políticas que o governo dispõe, a principal delas deve ser a diminuição dos juros, para que os microempreendedores possam fortalecer suas pequenas empresas e, consequentemente, gerar mais empregos para que as pessoas voltem a investir”.
Foto de capa: Letícia Portela/Avoador