Instituições de ensino locais alcançam destaque em robótica e automação no Brasil e na Europa
Projetos desenvolvidos por alunos e professores em Vitória da Conquista se destacam em competições nacionais e internacionais 1 de agosto de 2019 Bianca Meira, Iana Magalhães, John Ferraz e Luana FigueredoEscolas de ensino fundamental e médio e instituições de ensino superior conquistenses se destacam nas áreas de robótica e automação com prêmios nacionais e internacionais. O Colégio Nossa Senhora de Fátima, conhecido como Sacramentinas, teve alunos selecionados para participarem de competições de robótica no México e na Alemanha. Os estudantes do curso de Ciência da Computação da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), campus Vitória da Conquista, já conquistaram três vezes prêmios nacionais.
De acordo com o professor do curso de Ciência da Computação da Uesb, Roque Mendes Prado Trindade, foram os alunos formados pela universidade que implementaram a disciplina de Robótica no Colégio Sacramentinas, onde o projeto recebeu o investimento necessário e, assim, fez crescer o interesse pela área. “Conquista ganhou essa tradição em robótica porque o Sacramentinas investiu razoavelmente para ganhar prêmios internacionais, e isso funcionou como uma propaganda. Todo mundo queria estudar no Sacramentinas porque lá tinha robótica. Isso foi um atrativo”, explicou o professor. Hoje, a disciplina de Robótica é ensinada também nas instituições privadas Nova Escola e Maria Salomé. O Colégio da Polícia Militar (CPM) também incorporou a robótica na grade curricular.
A forma como o ensino da robótica é aplicado nas escolas varia de acordo com a faixa etária dos alunos. As escolas de ensino fundamental e médio desenvolvem a robótica educativa, que pode auxiliar no desenvolvimento cognitivo e no processo de aprendizagem de crianças e adolescentes. Ela é utilizada com o intuito de aproximar o aluno da tecnologia e estimula a criatividade, raciocínio lógico e o trabalho colaborativo.
Já no nível de ensino superior, trata-se de uma robótica industrial. Na Uesb e no IFBa (Instituto Federal da Bahia) – onde estudantes do curso de Engenharia Elétrica participam de um grupo de estudos sobre o tema, o ensino é aliado à automação, e os alunos criam máquinas para, posteriormente, trabalharem em processos automatizados. Além das instituições superiores, o Colégio Sacramentinas também faz essa inter-relação entre robótica e automação. Entre as produções já implementadas estão: um carro autônomo, uma cadeira de rodas automatizada e robôs programados para atuarem no resgate em situações de desastre.
Apesar da relação mútua, a automação e a robótica apresentam diferenças. De acordo com o professor da área de Automação do IFBa, campus de Conquista, José Alberto Diaz, a “automação permite aprimorar um processo manual, e manualmente podemos fazer um processo que demora certo tempo. Mas, quando ele é automatizado, pode ser mais rápido. Agora, quando a gente fala em robótica, a gente incorpora a esse processo de automação um processo de inteligência, um processo de decisão, que é feito em função de situações imprevisíveis”.
As produções de robótica e automação de professores e alunos de Conquista ficam em exposição anualmente em dois eventos: a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia e a Semana de Computação da Uesb, que conta com a parceria de outras instituições, como o Sesi (Serviço Social da Indústria), o IFBA e o Cetep (Centro Territorial de Educação Profissional).
Sucatas transformadas em equipamentos
Na Uesb, os estudos sobre robótica e automação são realizados pelo curso de Ciência da Computação em parceria com o curso técnico em Informática do Cetep. Em 2018, a graduação completou 20 anos e implantou o Centro de Inovação e Pesquisa em Computação (CIPEC), com uma área de 200 m² para realização de pesquisas.
De acordo com o professor Roque, o baixo orçamento e a carência de peças tem dificultado a criação e o desenvolvimento de novos produtos. “Na universidade, a gente desenvolve o sonho, mas isso não quer dizer que a gente termina. Tentamos fazer o melhor com o que a gente tem”.
O curso de Computação da Uesb tem conseguido destaque porque tem trabalhado com materiais doados por alunos, professores e parceiros e, assim, tem construído equipamentos de automação e robótica. Entre os inventos estão, a impressora 3D que montaram e um humanoide que é capaz de ficar em pé e fazer cumprimentos de despedida. No mento estão em desenvolvimento placas para controle inteligente de casas, robôs controlados remotamente, drones, um braço mecânico para jogar xadrez e um robô que soluciona cubos mágicos. “Tudo que tem de melhor e mais bonito no mundo, a gente tenta trazer para cá”, enfatizou Roque.
O “carro chefe” do curso é o Celina, um carro elétrico com navegação autônoma, que anda sozinho. “Eu falei que a gente ia fazer um carro andar sozinho e muita gente riu. Isso foi há 15 anos, mas as pessoas já veem agora que é realidade”, destacou Roque. Na construção do veículo foram utilizadas sucatas de bebedouros, peças de armários e até mesmo uma fechadura de portão. Apesar de já estar em funcionamento, o carro ainda não possui um design atraente, mas um dos planos do CIPEC é melhorar a sua aparência e deixá-lo mais leve, trocando toda sua carcaça de metal por plásticos reutilizados de tonéis. Foto abaixo.
Outro projeto desenvolvido pelo CIPEC, dessa vez em parceria com o CETEP, é um vendedor de trufas feito a partir de um caça-níquel doado pela Polícia Civil. O equipamento funciona como uma máquina tradicional de vender comida. A intenção é aprimorar o projeto e fazer também uma cafeteira e uma máquina de fotocópias a partir de caça-niquéis para uso comercial e, assim, arrecadar verbas para financiar pequenas despesas do centro de tecnologia.
O curso de Ciência da Computação da Uesb já ganhou três edições do Prêmio Arlindo Fragoso de Tecnologia e Inovação que é promovido pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (CREA-BA) e tem o objetivo de fomentar a cultura empreendedora por meio do desenvolvimento de projetos de pesquisa na área de tecnologia. Um deles foi resultado de uma parceria com o Curso de Agronomia no desenvolvimento de um equipamento para irrigação automática. A ferramenta inteligente reconhece quando a terra está seca por meio de um medidor de umidade, reduzindo o gasto de água.
Há também a Maratona de Programação, um evento realizado desde 1996 pela Sociedade Brasileira de Computação. Nessa competição são formados times de três alunos de graduação e pós-graduação na área de Ciência da Computação. Na primeira etapa, esses times concorrem regionalmente, e os melhores passam para a etapa nacional, onde são selecionados para concorrerem nas finais mundiais. De acordo com Roque, os alunos de Ciência da Computação sempre conseguem garantir o primeiro lugar nas regionais e já alcançaram a marca de 22° segundo lugar no ranking nacional, entretanto, apenas os 10 primeiros colocados passam para a fase internacional.
Tecnologia e projetos sociais
O Instituto Federal da Bahia (IFBa), campus de Conquista, também realiza projetos nas áreas de automação e robótica. O principal responsável pelas produções é o grupo de estudos GIPAR (Grupo de Inovação e Pesquisa em Automação e Robótica) criado há cinco anos. Atualmente, o grupo é coordenado por três professores da área de Automação e Controle: Cléia Santos Libarino, José Alberto Diaz e João Erivando Soares. O GIPAR possui 20 participantes, estudantes do curso de Engenharia Elétrica do próprio instituto, entre eles bolsistas e voluntários.
Os principais projetos desenvolvidos pelos alunos do IFBA são: Seleção de Frutas, Robô de Resgate, Robô Med, Cadeira de Rodas e o Projeto Smart Camaro. Cada um com seu objetivo busca ser um projeto autônomo e que atenda a necessidades sociais.
O Robô Med, por exemplo, foi criado para ajudar pessoas com dificuldade de locomoção a tomar o seu remédio na hora certa. No horário indicado, o alarme toca e o remédio exato é liberado. Além disso, mostra alguns sinais vitais, como temperatura e batimentos cardíacos. No momento, o projeto está fixo, mas o objetivo é torná-lo móvel e, posteriormente, autônomo.
Antes de colocar em prática todos esses projetos, professores e alunos têm que lidar com as burocracias do sistema público de ensino. De acordo com os coordenadores do grupo GIPAR, essa não é uma tarefa fácil e as dificuldades com o financiamento dos projetos são muitas. “Às vezes, alguns editais até disponibilizam o valor do projeto submetido, mas a burocracia do sistema público é tão grande que acontece de não conseguirmos usar o dinheiro. Então, nós, professores, nos unimos para dividir os gastos. É a única solução para não deixar nossos alunos frustrados”, explicou Cléia Libarino. Para o professor José Alberto, “o dinheiro oferecido nos editais é muito limitado. Temos muita vontade de criar mais projetos e de envolver mais os alunos, mas falta equipamento, falta material. Temos que trabalhar sempre de forma limitada”.
Mesmo com a falta de suporte para o desenvolvimento dos projetos, o grupo GIPAR continua a incentivar alunos do ensino médio e superior na produção de automação e robótica. De acordo com Carine Ramos de Almeida, estudante do curso de Engenharia Elétrica do Ifba e integrante do grupo GIPAR desde 2016, a vivência nas pesquisas tem permitido ampliar a perspectiva e o conhecimento e até mesmo estimulado a sua a criatividade, a perspicácia e a flexibilidade na resolução de problemas. “Pesquisamos novas tecnologias, aprendemos como lidar com elas e aplicamos no desenvolvimento de determinado sistema, automatizando processos no intuito de melhorar a vida das pessoas.”
Robôs de resgate
No colégio Sacramentinas, segundo o coordenador da área, Hugo Santos Dias, os alunos têm, a partir do sexto ano, uma disciplina de Robótica que possibilita o estudo de programação e montagem com programas mais básicos e, noo oitavo ano, há uma introdução aos conhecimentos mais avançados,
A robótica já levou os alunos da Sacramentinas para o México, Holanda, e Alemanha, para participar da RoboCup, evento mundial que acontece uma vez por ano. Dentre as modalidades do campeonato, o colégio já competiu em duas, cada uma composta por três alunos. Soccer (futebol) e Rescue (resgate), de 30 de junho a três de julho de 2016. A participação dos professores nas competições é financiada pela escola enquanto que os custos dos alunos ficam por conta dos pais ou responsáveis.
Em competições como a Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR), entre as atividades a serem desenvolvidas, estão dos robôs programados para fazer tarefas. Em geral, são simulações de resgate em situações de desastre. Quanto mais avançado o estudante, mais difícil é a competição e o resgate a ser feito.
É o aluno que constrói, programa e desenvolve todo o projeto. Durante a competição, o professor não interfere em nada, só acompanha o aluno supervisionando-o e orientando-o. O robô é autônomo, ou seja, ele é programado anteriormente para executar determinada tarefa e durante essa execução não há interferência humana. “A gente sempre faz o robô para que no futuro, em desastres onde um humano não consiga chegar com segurança, o robô possa ir identificar que tem uma vítima e trazer a informação para a equipe de resgate”, explica Esdras Alves, estudante do segundo ano do ensino médio da Sacramentinas.
“A ideia é a tecnologia caminhar a tal passo que no ano de 2050 haja um time de robôs que sejam capazes de jogar autonomamente contra a campeã vencedora da Copa do Mundo. A expectativa dos organizadores é de que o time de robôs vença. Essas competições de Robótica seguem essa linha de aprimoramento tecnológico”, finaliza o professor Hugo.