Parque Lagoa das Bateias está abandonado pela Prefeitura de Conquista

A vegetação do parque não tem sido aparada, há lixo espalhado por todo o espaço e um cheiro forte causado pelo esgoto a céu aberto 12 de novembro de 2022 Carolina Lapa, Denilson Soares, Tainá Aleixo e Tiago de Lima

O Parque Municipal Urbano Lagoa das Bateias, localizado na zona Oeste de Vitória da Conquista, foi criado como uma área de lazer, com espaço para a prática de esportes e atividades comerciais, mas encontra-se abandonado. O empreendimento, denunciam moradores e comerciantes do local, não tem recebido manutenção nem investimentos da Prefeitura da cidade, que tem preferido realizar melhorias nos bairros “nobres”, como na Avenida Olívia Flores, do Candeias. A vegetação no parque não tem sido aparada, há lixo espalhado por todo o espaço e um cheiro forte causado pelo esgoto a céu aberto. 

“O que era para ser uma área de lazer, você vê mais como uma área abandonada”, desabafou o eletricista Samuel Vieira, 54 anos, que mora há 26 no Urbis II, localizado na Lagoa das Bateias. Ele também mencionou os transtornos gerados em tempos de chuva na região, época em que a água acaba se acumulando nas ruas. “Quando fizeram essa pista, fizeram mal planejada. Devido ao movimento de carros ser constante, a água escorre toda . Se não fosse o muro, a água entrava toda para dentro de casa”. 

Este slideshow necessita de JavaScript.

O pedreiro, Vanilton Ferreira Santos, 72 anos, e o catador de recicláveis Manoel Soares dos Santos, 51, ambos moradores do Bairro Remanso, zona Oeste da cidade, região onde fica atualmente a Lagoa das Bateias era uma fazenda, conhecem o passado do parque.  O primeiro relembrou que o local era uma fazenda que existia desde meados dos anos 1970.  De acordo com ele, havia uma nascente de água nas terras dessa fazenda, que ficava no entorno da lagoa, que, até então, era pequena. Já Manoel destacou a qualidade da água. “Antes, a água que brotava dessa nascente era limpa, cristalina, e muitas pessoas lavavam roupas, tomavam banho e pescavam ali.”

No entanto, com a criação do esgoto, em 2004, a então “água limpinha” deixou de existir. A lagoa passou a ser depósito para descarte do lixo e escoamento de esgoto dos bairros próximos, como Urbis II, Urbis IV, Urbis V, Santa Cruz, Vila Serrana, Senhorinha Cairo e Miro Cairo. Desde aquela época aos dias atuais, o problema só tem aumentado: o mau cheiro para quem passa ou mora perto do parque. 

Este slideshow necessita de JavaScript.

Samuel, Vanilton e Manoel reclamam da falta de investimento no local e comparam com outros locais da cidade, como a Avenida Olívia Flores. “A Prefeitura só da atenção aos bairros nobres”, lamentam. De acordo com o site da Prefeitura de Vitória da Conquista,  pelo menos R$ 12 milhões já foram investidos em obras de infraestrutura e serviço na cidade, dentre elas, estão as obras de drenagem e pavimentação no Bairro Bruno Bacelar, o Estádio Municipal da Zona Oeste, conhecido como Murilão, que fica no mesmo bairro, que tem previsão de entrega para este mês de novembro. Outra região com obras realizadas foi o loteamento Renato Magalhães, que fica na zona Sul da cidade. Já na zona Leste, foram investidos R$ 1.344.558, 40, na terceira etapa da modernização da Avenida Olívia Flores, que inclui o fechamento do canal,  que foi transformado em calçada com pista de caminhadas, paisagismo, nova iluminação e maior acessibilidade.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Em 2021, segundo divulgação da Câmara Municipal de Vitória da Conquista, houve a homologação do resultado da licitação do projeto Executivo das obras de recuperação do parque. O vereador Fernando Jacaré (PT) disse a obra é “um compromisso do governo Rui Costa com Vitória da Conquista” e que sairá no próximo ano.  O eletricista  Samuel Vieira contou que há profissionais que visitam o parque, mas que nenhuma obra ainda está em execução para melhorias.  “Uma verba tinha sido solicitada ao governo federal,  e disseram que tinha sido ajustada/liberada, que já tinha até uma empresa para fazer a obra. Por enquanto, só vemos o topógrafo ali fazendo medição, mas na prática não vemos nada”.

Comércio prejudicado 

O movimento dos moradores na prática de esporte no parque também contribui para gerar renda aos comerciantes da área.  No entanto, com o abandono do parque, o número de pessoas diminuiu e tem dificultado a sobrevivência do comércio na Lagoa das Bateias. 

Este slideshow necessita de JavaScript.

Segundo a dona de um dos quiosques do parque, Noélia Dias, 62 anos, que tem o espaço há 16, “o movimento era outro” quando chegou à lagoa. “As pessoas iam para o parque se divertir, brincar no parquinho reservado para as crianças e compravam os meus produtos”. Ela, que vende salada de frutas, picolés, sorvetes, geladinhos, cervejas e água, também conta que teve que mudar o planejamento com relação ao estoque de seus produtos, por causa da alteração no fluxo de pessoas no local ao longo dos anos. “Hoje, esse movimento decaiu. Não pode mais fazer igual antes, entendeu? Porque se eu pegar e estocar igual era antes, terei perdas na certa… Eu já perdi mercadorias como cervejas, refrigerantes, salada de frutas… Os produtos estragaram por não ter quem comprasse”.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Para Noélia, um dos motivos para a perda de movimentação no parque, além do esgoto, é a falta de limpeza da vegetação e a ausência de manutenção dos brinquedos do parquinho. “O parque está lá pela misericórdia, eles não querem consertar os brinquedos, e criança gosta de parquinho pra brincar.  Antes, os brinquedos eram todos sem defeitos e o mato capinado; mas, hoje, ou estão cobertos por terra e lixo, ou estão quebrados e cobertos por mato.”  A solução então para o retorno da clientela, defendeu Noélia, seria consertar os brinquedos e fazer a manutenção do parque. “Só assim os clientes poderiam voltar a comprar no meu quiosque.”

Este slideshow necessita de JavaScript.

Outro comerciante insatisfeito com a situação da lagoa é o dono do bar, Geraldo Barbosa da Silva, 43 anos, que leva seu nome artístico: Gera Cigano. Segundo ele, a Prefeitura promete revitalizar o parque e ajudar os comércios a crescer, mas fica apenas na promessa. 

Uma das grandes dificuldades que Gera cigano enfrenta de tempos em tempos como dono de bar são as chuvas, que tem provocado estragos ao redor da lagoa. “Acaba alagando isso daqui tudo.” Outro transtorno apontado pelo comerciante são os animais peçonhentos trazidos pelas chuvas, como escorpiões, cobras, aranhas. “Eles saem das taboas e vão para a pista onde as pessoas fazem exercícios ou para a frente das casas próximas ao parque.” Sua expectativa é que um dia as promessas de revitalização e melhoramento da lagoa sejam cumpridas. “Se tivesse mais arrumadinha, bem ornamentada, seria bem melhor.” 

Parque Lagoa da Bateias: surgimento e evolução

Até os anos 1990, o local onde hoje é o Parque Lagoa das Bateias era uma área  ocupada por pessoas de baixa renda, com casas construídas em terrenos inadequados, encharcados e sujeitos à inundação. Com o decreto 8.594/96, publicado em 30 de maio de 1996, no governo do prefeito José Pedral, a Lagoa das Bateias passou a ser área de preservação ambiental, e passou ser proibido a construção de casas em locais de risco pelos moradores.  A normativa buscava equilibrar o nível de recebimento de água da chuva no entorno dos bairros e os alagamentos provocados pelas chuvas. 

Em 2004, no governo de José Raimundo Fontes, surgiu o Programa Urbanização, Regulação e Integração de Assentamentos Precários, lançado pela Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista. O programa implementou a urbanização da Lagoa das Bateias, delimitando área de charco, locais onde a água não é profunda, reassentamento e regularização de residências em situação de risco, construção de pista em seu entorno e canais de escoamento de água e esgoto na serra que desce em direção a ela.

Três anos depois, foi aprovada pela Câmara Municipal e sancionada pelo prefeito José Raimundo a lei nº 1.410, de 5 de junho de 2007, que instituiu o Código Municipal do Meio Ambiente. Por meio do Artigo 23 do novo Código, passou a ocorrer na cidade a integração de espaços protegidos, como as áreas de preservação, o que elevou a área de preservação ambiental Lagoa das Bateias a Parque Lagoa das Bateias. 

Com essa mudança, o local passava a ser mais uma opção de lazer aos moradores da cidade, especialmente da zona Oeste. A então regulamentação também era uma forma de obrigar a Prefeitura a se responsabilizar em manter o parque limpo, mato cortado, os brinquedos consertados, campos organizados e as cercas no lugar.

Em 2008, foi incorporado ao parque mais um equipamento público, o Museu de Animais, no final do mandato do prefeito José Raimundo Fontes (PT). A proposta era de motivar que mais pessoas fossem ao local, especialmente estudantes, que teriam ali animais de diversas espécies empalhados para conhecerem.

Há um ano o museu está fechado, sem nenhum uso. O local conta apenas no momento com um funcionário, que é o responsável pela a manutenção . Por conta disso, a visitação está “temporariamente” suspensa. “Tiraram os bichinhos empalhados daí. Tiraram tudo, jogaram fora. Era a diversão do pessoal. O pessoal gostava de ficar na janela olhando”, relembrou Noélia Dias.

Este slideshow necessita de JavaScript.

A equipe do site Avoador responsável por esta apuração entrou em contato com a Prefeitura de Conquista, nos canais disponibilizados pela Secretaria de Comunicação, em busca de respostas em relação às reclamações dos moradores e comerciantes, mas, até a publicação desta reportagem, não houve nenhuma resposta. 

https://youtube.com/shorts/TqFf10zp8As?feature=share

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *