Sintomas de pele da covid-19 mostram que a população negra é ignorada pela dermatologista
A infecção causada pelo novo coronavírus causou em alguns pacientes manchas nos pés e mãos 23 de setembro de 2020 Janaína BorgesApós pacientes diagnosticados com a covid-19 aparecerem com manchas nos pés e mãos, dermatologistas dos Estados Unidos passaram a discutir sobre a ausência de mais pesquisas com a pele negra, que tem especificidades na hora do tratamento.
Entre os meses de março e abril, algumas pessoas com a doença nos EUA apresentaram bolhas roxas e vermelho vivo nos dedos dos pés e das mãos, os chamados “pés da covid”. Desse novo sintoma, percebeu-se a falha dos estudos da dermatologia em peles pardas e negras, porque os estudos traziam mais estudos com pacientes brancos.
A médica e diretora do programa de cores da pele da Universidade da Califórnia, em San Francisco, Jenna Lester, revisou 130 imagens dos efeitos da covid-19 na pele encontrados em publicações científicas e constatou que a maioria vinha de pessoas brancas. “O reconhecimento de padrões é a base da dermatologia, e grande parte dele se resume a uma questão de treinamento do olho para reconhecer certos tons que o levam a pensar em determinadas doenças. Acontece que esses matizes são afetados por outro, aquele que o cerca, ou seja, na pele escura podem parecer diferentes. Se você for treinado para procurar algo de uma tonalidade só, não vai reconhecer se vir aquilo em outra amostragem.”.
O problema vai mais além dos “pés da Covid”, a dermatologia ainda possui dificuldades com as peles pardas e negras, com a maioria dos livros que servem de referência para o diagnóstico de doenças de pele não incluírem fotos de pessoas de cor. “Sabemos que, se a pele escura não estiver bem representada nas imagens, não só os dermatologistas mas os médicos de outras especialidades terão menos condições de fazer um diagnóstico adequado”, relatou o professor assistente de Dermatologia da Universidade de Connecticut, Hao Feng.
Com a propagação da covid-19, os dermatologistas criaram um registro internacional para classificar exemplos de demonstrações dermatológicas da doença com mais de 700 casos. Entretando, somente 34 são de pacientes hispânicos e 13 de negros. A pele é por onde os dermatologistas observam e buscam pistas para doenças. Por isso, segundo Feng, é necessário que o médico tenha experiência em múltiplos tons de pele. “Posso dizer, por experiência própria na clínica, que muita coisa passa batida porque o profissional não reconhece o processo da doença na pele mais escura.”
Fonte: O Globo
Foto reprodução