Mulheres à frente da produção de algodão no Oeste da Bahia

A presença feminina como um elemento distintivo na cotonicultura do Oeste baiano 23 de setembro de 2024 Maria Luiza Andrade

No extremo Oeste da Bahia, entre a intensidade dos raios solares e a imensidão do cerrado, plantações de algodão tem se expandido, o que tornou o estado o segundo maior exportador do Brasil. Na linha de frente e por trás desse desenvolvimento estão milhares de mulheres.  As histórias delas, de suas famílias e das plantações de algodão se cruzam e fazem a cotonicultura prosperar em Luís Eduardo Magalhães.

Dados do último Censo Agropecuário, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que, em 2027, a Bahia tinha 194.533 mil mulheres conduzindo atividades no campo. A presença delas está em toda parte, no executivo, na produção, na operação de máquinas. Na Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), seis mulheres fazem parte da diretoria e 60% dos cargos de coordenação pertencem a mulheres.

A produtora e sócia-proprietária do Grupo Zanotto, Alessandra Zanotto, é uma dessas mulheres que dedica a vida à produção da fibra. Ela é filha de Dionísio e Ivone Zanotto, que saíram do interior do Paraná e foram para o Oeste da Bahia em busca de terras para o cultivo. A cotonicultura a despertou para o empreendedorismo e o diferencial da participação feminina no agronegócio, “Ter mulheres hoje, no agronegócio, em papeis de liderança, na produção, em conselhos, só tem a agregar.”

Para Alessandra, que está na linha de sucessão para a presidência da  Abapa, com mandato previsto para iniciar em 2025, a mulher no agronegócio é atenta aos   detalhes, coloca em prática a empatia e uma forma eficaz de comunicação. “Estou com uma grande expectativa de dar continuidade a tudo que está sendo feito de forma bacana para os associados, para a Bahia como um todo. Mas, principalmente, inovar e aproximar cada vez mais a Abapa com a comunidade e com o Estado inteiro.”

A produtora e sócia-proprietária do Grupo Zanotto, Fernanda Zanotto, destaca o quanto as mulheres podem contribuir na cotonicultura na região do Oeste baiano, dando como exemplo a irmã Alessandra. “Tem muita mulher com vontade, tem muita área para trabalhar, e esperamos que dentro de pouco tempo o número de mulheres inseridas no agronegócio, na cotonicultura, aumente ainda mais”, disse. 

Fernanda Zanotto e Alessandra Zanotto na Unidade de Beneficiamento do Algodão Zanotto Cotton, Grupo Zanotto. Foto: Pedro Novaes

Outra mulher que faz parte das atividades de cotonicultura é a doutora em Engenharia Agronômica e coordenadora da ABR Sustentabilidade na Abapa, Yanna Costa. Para ela, as mulheres têm conquistado cada vez mais espaço no agronegócio devido ao interesse no trabalho em campo e por se adaptarem às diversas atividades do cultivo. “Está crescendo, não só na cotonicultura, mas em nível geral conseguimos ver essa inserção feminina. Mas é um trabalho de formiguinha, têm alguns desafios para superar e mostrar o que agregamos.”

Yanna Costa, coordenadora da ABR Sustentabilidade na Abapa. Foto: Pedro Novaes

No Grupo Franciosi Agro, também estão Rosângela Schettini, Glória Sancho e Carla Nunes. Elas desenvolvem projetos ambientais, agronômicos e de sustentabilidade. Formada em Engenharia Agronômica, Rosângela Schettini trabalha com sustentabilidade no setor de meio ambiente na Franciosi Agro desde 2023. “Enxerguei uma oportunidade incrível de fazer o que eu gosto na prática, de ver o agro fazendo mudança, transformação, para que cada vez mais a produtividade, o meio ambiente e respeito, se integrem”, explicou a agrônoma.

Carla Nunes, Rosângela Schettini e Glória Sancho na Fazenda Santa Isabel, Grupo Franciosi Agro. Foto: Maria Luiza Andrade

Originária de Ibipeba, também na Bahia, a advogada Glória Sancho, que  atua como gestora do setor jurídico e meio ambiental no Grupo Franciosi desde 2017, é mais uma mulher que faz a diferença no processo que envolve o cultivo de algodão. Segundo a advogada, o Grupo está em acordo com o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) para implementação de um Instituto de Pesquisa da Fauna e Flora do Oeste Baiano, com estruturas para pesquisa e centro de recebimento e reabilitação de animais silvestres da região Oeste da Bahia. “O projeto tem como um dos principais objetivos a diminuição de danos sobre a fauna e flora devido à perda de habitats para implantação de áreas agrícolas. Com isso, as ações estarão voltadas aos locais considerados de maior biodiversidade, o cerrado e a região hidrográfica do Rio São Francisco”, explicou.

A cotonicultura de Luís Eduardo Magalhães ainda financia e permite às mulheres uma formação. O “Bolsa Capacitação”, do programa desenvolvido pela Franciosi Agro, é responsável pela qualificação profissional. Uma das beneficiadas foi Carla Nunes, que conseguiu se formar em Engenharia Agronômica em 2023. Vinda da zona rural de Guanambi, ela iniciou na empresa como técnica agrícola e, atualmente, ocupa o cargo de engenheira no setor de meio ambiente.

A Bahia, como segundo maior exportador de algodão do Brasil, posição que se mantém desde 2003/2004, também pode ser considerada uma referência pela participação das mulheres. Na produção, estima-se que 75% dos empregos nas etapas de transformação da fibra sejam assumidos por elas, mas mulheres podem ser encontradas também na lavoura, na comercialização e na indústria têxtil.  Mulheres como Alessandra, Fernanda, Yanna, Rosângela, Glória e Carla não são uma exceção, mas parte de um processo natural de participação do sexo feminino na cotonicultura e o agronegócio.

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