Robson Jesus: o homem mais rápido a viajar todos os países do mundo
Conhecido nas redes sociais como “O nego vai longe”, o brasileiro viajou o mundo por 2 anos e 42 dias 25 de março de 2025 Rian BorgesRobson Jesus, conhecido nas redes sociais como “O nego vai longe”, é mais um brasileiro que superou as dificuldades da infância e conseguiu destaque nacional. Em 2024, ele foi reconhecido pelo Guinness World Records, popularmente Guinness Book, como o homem mais rápido a viajar por todos os 196 países que são reconhecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Robson cresceu em uma favela em Osasco, onde vivia com a mãe, que era empregada doméstica, e os irmãos. Desde cedo, começou a trabalhar como empacotador de frangos em um supermercado e, a partir de ilustrações nas embalagens dos alimentos, começou a despertar o sonho de conhecer o mundo.
A trajetória começou há pouco mais de dois anos, depois da pandemia de Covid-19, quando Robson iniciou o planejamento da aventura. Sem condições financeiras, Robson insistiu e perseguiu o sonho com apenas a sua mochila presa às costas.
Durante as viagens, ele começou a gravar vídeos para as redes sociais, compartilhando a rotina e cultura dos países que visitava. A produção desses conteúdos foram se tornando virais, o que lhe fez ser reconhecido pelo público digital. Com o crescente número de seguidores, Robson se tornou influenciador digital, o que lhe permitiu bancar financeiramente o restante da sua viagem.
Robson, o homem mais rápido a percorrer o mundo. Fotos: Arquivo Pessoal
Depois de viajar por 196 países, o “influencer”, além de produzir conteúdos para as redes sociais, vem realizando palestras pelo Brasil. Nesta semana, ele está em Vitória da Conquista, onde iniciou um roteiro de viagens que percorrerá nove cidades da Bahia. O site Avoador aproveitou a visita de Robson à cidade para realizar um bate-papo com viajante. Confira abaixo a entrevista.
Avoador – Qual foi a sua motivação para começar a viajar pelo mundo?
Robson – Tudo começou quando eu tinha 10 anos de idade. Eu trabalhava no mercadinho perto da minha casa e eu ficava ali empacotando os frangos e eu começava a ver as figuras, né? Do avião, do canguru, do urso, da neve. E ficava sonhando já em um dia poder conhecer, andar de avião, conhecer a neve, viver aqueles animais ao vivo. Eu meio que fui plantando a semente no meu coração, né? A semente da viagem, da curiosidade. Só que a probabilidade de isso acontecer é muito difícil, porque eu sou um cara que vende uma realidade muito pobre, abandonado pelo pai com cinco anos de idade. Até os oito anos de idade eu dividi uma cama de solteiro com mais dois irmãos. Por muito tempo eu já tive uma refeição por dia e morando na maior favela da cidade, qual é a chance disso acontecer? É muito pequeno. Na pandemia, eu estava muito inquieto com aquela situação, vários entes queridos morrendo. Eu olhei para uma amiga minha e falei: “Eu vou realizar aquele sonho de criança, de quando eu tinha 10 anos. Eu vou visitar todos os países do mundo e vou conhecer o urso, vou andar de avião, vou conhecer a neve.” E aí ela pegou e me apoiou, falou assim: “Isso, vai mesmo, vai ser muito legal”. Ela começou a me falar palavras de afirmação. Aquela palavra de afirmação começou a me motivar, mas aí até eu acreditei no meu sonho. E aí eu decidi, comecei a organizar tudo, fiquei 8 meses escrevendo o projeto, só com um detalhe, eu não tinha dinheiro.
Avoador – Quando o senhor decidiu viajar pelo mundo, já pensava na possibilidade de obter o recorde do Guinness Book?
Robson – Já sim, quando eu comecei a planejar durante esses oito meses, um dos objetivos era ganhar o recorde. Porque, dentro do meu planejamento, eu me fiz três perguntas: quanto custa viajar o mundo, quem viajou todos os países do mundo e como viajar todos os países? E dentro dessas respostas, eu descobri que de uma população mundial de 8 bilhões de pessoas, só 150 pessoas tinham visitado todos os países do mundo. E dessas 150 pessoas, nem uma era pessoa preta, então eu seria a primeira pessoa preta do mundo. Então eu falei, o Guinness vai ser isso, vou levar a questão da representatividade, vou buscar esse espaço lá e ainda mais, o negão preto vai ser um brasileiro. Então fui para cima, decidi colocar o Guinness para essa questão racial. E aí, durante o percurso, foi bem legal porque eu pude palestrar e falar até um pouco mais sobre essa motivação.
Avoador – Qual foi o primeiro país da viagem e por quê?
Robson – O primeiro país foi a Tailândia. Eu comecei para o sudeste asiático por três motivos. Primeiro pela distância. Normalmente a galera que viaja pelo mundo, ou ela começa pela Europa, ou pela América do Sul, porque é mais perto, a comida, a questão do idioma, então se precisar voltar para o Brasil está mais fácil, se quiser desistir está mais fácil. Aí eu decidi começar por um lugar mais longe, porque se eu conseguir passar para os lugares mais longe, depois o que vim vai ser lucro. Segundo, a Tailândia é um dos poucos países do mundo que o nosso real vale alguma coisa. Eu com 10 reais lá eu conseguia fazer uma refeição. O terceiro é por causa do inglês. Como eu venho da periferia, eu tenho um português um pouco limitado. Eu cresci com os “manos”, com os “bro”, com gíria, com um português muito básico. Só que eu fui aprendendo outras línguas, eu fui aprendendo inglês. Meu inglês era ruim pra caramba. Então eu falei: “vou para um lugar que o inglês também é ruim”. Na Tailândia, a galera fala o inglês ruim. Eu pensei, ruim por ruim, vai dar tudo certo, todo mundo vai se entender. Então o idioma foi também um dos motivos de eu ter escolhido a Tailândia e lá eu pude praticar muito mais o meu inglês também.
Avoador – Qual foi a maior dificuldade que o senhor passou nesses países?
Robson – Eu tive algumas dificuldades em questão de comunicação, em questão de alimentação, em questão de segurança. Então, por exemplo, quando eu estava atravessando a fronteira do Quênia pra Etiópia, teve situação que o ônibus foi parado durante a madrugada, no meio do deserto do Quênia, onde rebeldes colocaram a arma na nossa cara, na minha e de outros turistas que tinham dentro do ônibus, falando que ia dar tiro na gente. Então, foram situações que eu fiquei com muito medo mesmo e foi uma das poucas vezes durante a viagem que eu falei: “o que eu estou fazendo da minha vida?”.
Avoador – O que cada cultura dos países que visitou lhe ensinou para a sua vida no Brasil?
Robson – Eu acho que eu trouxe muito a questão religiosa, principalmente. Apesar do Brasil ser um país muito religioso e eu ser um cara de muita fé, eu aprendi com o budista que a gente não precisa se apegar a bens materiais. Porque eu tinha uma única peça de roupa que passou por mim por todos os países do mundo. Era uma peça que eu estava guardando, porque a cada dois, três meses eu trocava de roupa. E quando eu cheguei no país 193, minhas roupas foram roubadas e levaram essa blusa junto. Cara, eu fiquei muito puto, fiquei muito triste, eu queria achar essa menina de qualquer forma pra devolver minha blusa, porque era a única peça que visitou todos os países do mundo. Só que depois de muitas horas eu lembrei da cultura budista, que é uma cultura que não se apega a bens materiais, eles pregam isso, a gente não se apegar. Desde então, eu tenho uma vida mais minimalista, uma vida muito mais leve, sem me apegar a muitas coisas mais materiais.
Avoador – Qual o país mais bonito que visitou?
Robson – Cara, eu visitei muitos países ricos e lindos como Dinamarca e Suíça. Me senti no filme, mas Seychelles, no continente africano, é um lugar muito caro, é um dos países mais caros do mundo, mas é um lugar também incrível.
Avoador – Qual a cultura que mais o marcou?
Robson – Acho que Malawi eu tive experiências muito legais, principalmente o que é viver em senso de comunidade e que de fato a felicidade é a nova riqueza. Lá eu fiquei no campo de refugiados com mais de 5 mil congoleses da guerra do Congo, e ali eu ficava com a galera que sobrevive com 25 reais por mês, que é 5 dólares que a ONU dá pra eles. Então imagina você viver com 5 dólares por mês, quase que impossível, né? Só que a galera lá sobrevive, a galera não reclama, a galera não rouba um outro, a galera não briga, a galera vive numa harmonia, numa paz muito boa, um se ajudando o outro, um planta tomate, o outro planta alface, um costura, outro ensina a vender as roupas, um dá aula de inglês, o da aula de francês. De fato, lá eles vivem em um senso de comunidade. Detalhe, sete horas da manhã, todo mundo de pé fazendo um momento ecumênico deles, orando, agradecendo, rezando, pulando, dançando, de uma forma incrível que eu não vi em nenhum lugar do mundo. Então, para mim, de fato, ali eles provaram que a felicidade é a nova riqueza.
Avoador – E qual costume mais estranho que conheceu?
Robson – Acho que foi no Turcomenistão. O Turcomenistão é um país da Ásia Central. Lá é um país gerido por um presidente muito autoritário. A cor favorita do presidente é branco. Por esse motivo, todos os carros e todas as casas precisam ser brancas. Porque ele gosta da cor branca. Homens não podem ter barbas. Crianças não podem jogar videogame. O país não pode ter ópera. Então, enfim, é um país que chega a ser bizarro os tipos de lei que tem lá. É um país muito rico. Lá tem a maior roda gigante fechada do mundo. Detalhe, todos os dias que eu estive lá, a roda gigante estava funcionando muito bem, todo acabado a ouro.Só que não tinha ninguém. É um país totalmente abandonado.
Avoador – O senhor pretende continuar viajando o mundo? Pensa em bater novos recordes de viajante?
Robson – Eu quebrei um recorde recentemente, não entrou no Guinness ainda, mas estou aguardando a aplicação. Eu me tornei o primeiro brasileiro e fui a maior dupla a fazer a maior viagem de trem do planeta. Então, acabei de passar 40 dias dentro do trem por 15 países, foram mais de 20 mil quilômetros de trilho. E a ideia é aplicar e trazer mais esse recorde para o Brasil. E viajar sim, mas viajar com mais qualidade, com mais lentidão e com mais propósito. Então, agora estou viajando no Brasil com o propósito de ser um agente de mudança, de levar a minha mensagem, de levar um pouco da minha experiência para a vida de outros jovens e adultos do nosso país.
Avoador – No jornalismo, assim como a sua experiência viajando o mundo, as conexões, o conhecimento de outras culturas é essencial. Aproveitando que o senhor está em Vitória da Conquista, onde temos um um curso de Jornalismo, gostaria de deixar alguma mensagem para os futuros jornalistas?
Robson – Primeiro é que vocês vão ter uma profissão muito importante. Vocês estão se informando num curso que é extremamente importante. Eu vi, durante minha viagem de volta ao mundo, a importância do jornalismo de trazer fatos concretos, de fato o que está acontecendo na vida das pessoas ao redor do mundo, geopolítica… Eu não tinha essa noção, então depois de eu começar a conhecer alguns países, eu vi a importância dessa comunicação. Então vocês, futuros jornalistas, fizeram a melhor escolha que vocês poderiam ter, que é participar, que é agregar, que é ajudar a população através do trabalho de vocês.