Público lota Glauber Rocha no último debate dos candidatos à reitoria da Uesb
Confronto é marcado por ironias e disputa entre as torcidas das chapas 8 de abril de 2018 Afonso Ribas, Victória LôboO Teatro Glauber Rocha ficou pequeno para o público de mais de 300 pessoas que compareceu na noite dessa quinta-feira, 5, ao último debate dos candidatos à reitoria da Uesb, em Vitória da Conquista. As chapas “Alternativa Acadêmica”, “Renova Uesb” e “Tempo de Replantar Sonhos” também levaram suas torcidas organizadas. Foi um confronto de propostas e projetos de universidade, em meio a gritos de ordem de um público atento.
Alunos, técnicos universitários e professores começaram a chegar no auditório cerca de 30 minutos antes do horário que estava previsto para o início das atividades, 19h. Quando o debate começou, todos os assentos do Teatro já estavam ocupados e boa parte do público teve que o acompanhar de pé.
O debate foi dividido em quatro partes. Na primeira delas, foi feita a apresentação das chapas, com 10 minutos para o pronunciamento dos candidatos de cada uma. Na segunda parte, eles fizeram perguntas entre si e, por último, o público levantou as suas questões, a partir de um sorteio. Ao fim do evento, os candidatos fizeram as suas falas de encerramento.
Daniel Melo foi o primeiro concorrente ao pleito eleitoral a chegar no Teatro para o debate. Em entrevista ao Avoador, ele disse que a expectativa, antes do início do confronto com os demais candidatos, era de tensão devido à grande responsabilidade de discutir a universidade. “Nós temos uma conjuntura que não é muito boa, principalmente orçamentária e financeira, e isso gera uma preocupação. Mas, com muita serenidade, eu espero, caso for eleito, tentar, junto com os três segmentos da Uesb e com a sociedade, dar um novo olhar para a nossa universidade”, afirmou. Ainda segundo Melo, os debates anteriores nos campi de Jequié e Itapetinga tiveram uma discussão qualificada, respeitosa e laica.
Para a candidata Márcia Lemos, os debates são processos pedagógicos extremamente importantes para toda a comunidade universitária e requer o máximo de participação. “Esse é um momento em que questões como financiamento, descentralização e gestão administrativa e orçamentária devem ser pautadas, mas, essencialmente, é um momento delicado da conjuntura nacional onde precisamos debater também as liberdades, a permanência estudantil, a evasão, que hoje é uma problemática grave a ser enfrentada, e não temos dúvida que a comunidade acadêmica fará a melhor escolha no dia 11”, disse. Lemos afirmou ainda que os demais debates tiveram perguntas adequadas às necessidades de esclarecimento dos votantes e elogiou o comportamento dos plenários como bastante democrático e participativo.
Luiz Otávio foi o último candidato a chegar ao Glauber Rocha. Sua chapa, a “Renova Uesb” tinha a maior torcida presente no auditório. Pouco antes de subir à mesa de debate, ele conversou com o Avoador sobre a importância desse período de campanha eleitoral para a universidade. “Pelo menos de quatro em quatro anos, nós temos a possibilidade de discutir os problemas da nossa instituição de uma forma aberta e transparente, com oportunidades para todos os candidatos, estudantes, professores e técnicos manifestarem suas inquietações, expectativas e pensamentos sobre a Uesb. Então, precisamos aproveitar e valorizar”, comentou. A sua expectativa para a disputa com os demais concorrentes ao pleito eleitoral era de um debate “franco, honesto e com respeito aos diferentes posicionamentos”.
O confronto entre os três candidatos à reitoria, entretanto, foi marcado por momentos tensos e por uma troca acentuada de ironias na mesa de debate. Márcia Lemos, por exemplo, afirmou que Luiz Otávio teria ligações políticas com o governador Rui Costa e com o deputado José Raimundo Fontes, o que, segundo ela, impediria que, caso eleito, o candidato assumisse a postura de enfrentamento necessária com a atual gestão do estado. A insinuação de Lemos se deu durante uma pergunta em que ela citou a nomeação de Otávio como conselheiro estadual pelo governador em seu histórico político. “Preocupa-me que o diálogo que o senhor se propõe a fazer com o governo do estado resulte numa cumplicidade com o governo exatamente como vem acontecendo na gestão anterior”, disse a candidata. Em sua defesa, Luiz Otávio afirmou que a sua nomeação como conselheiro não possuiu mérito político, mas caráter fiscalizador para servir à sociedade civil. Ele ainda acrescentou que as concorrentes da Chapa 3 deveriam ter relações privilegiadas com o ex-governador Jaques Wagner para ter recebido tal informação. Ambas as falas renderam direito de resposta para os dois candidatos.
Outro momento marcante do debate aconteceu durante a pergunta de um aluno componente da torcida da Chapa 2 direcionada à Daniel Melo sobre a avaliação do candidato em relação ao desempenho da Uesb no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). A polêmica se deu porque Melo não soube o significado da sigla quando questionado, já que o estudante não a havia dito e nem mesmo soube explicar depois. O significado só foi esclarecido, posteriormente, por uma outra aluna apoiadora da Chapa 2 também sorteada para fazer uma pergunta.
Entre os discentes, foi clara uma divisão de torcidas entre Luiz Otávio e Márcia Lemos. Ocupando a frente do auditório e representados pelo Azul da Chapa 2 e pelo Amarelo da Chapa 3, os alunos contribuíram para esquentar a disputa entre os dois candidatos, entoando gritos de guerra e manifestando apoio aos discursos de um e de outro. A torcida verde, por sua vez, do candidato Daniel Melo, foi menor, e ficou mais ao fundo do Glauber, sendo composta, basicamente, por técnico-analistas e alguns professores da universidade. A briga entre as torcidas foi maior, principalmente, no momento em que, durante a fala de abertura de Márcia Lemos, a internet caiu no auditório, impedindo a contagem do cronômetro. Levou mais de dez minutos até que o debate fosse prosseguido.
Apesar dos contratempos e momentos de euforia e tensão, o confronto cara a cara entre os candidatos serviu para professores, técnicos e estudantes conhecerem as propostas e projetos para a universidade apresentados pelas chapas. A professora Adriana Amorim, do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas, contou que estava em dúvida entre duas chapas e o debate “clareou tudo o que ela precisava saber para decidir em quem votar”. “Entendi a diferença de uma universidade popular e uma universidade elitista”. Saulo Souza, que trabalha na biblioteca, também conseguiu definir o seu voto após a quinta-feira. Segundo ele, “o debate foi muito propositivo”. Já a estudante Aline Gusmão, do curso de Ciências Socais, considerou que foi possível perceber as “propostas que podem consolidar uma educação de qualidade para a Uesb”. O servidor Wellington Nery, que trabalha na Assessoria de Comunicação da universidade, por sua vez, concordou ao dizer que “é nesse momento que a gente entende quem é que está no dia a dia transformando, construindo e lutando por uma Uesb cada vez mais forte, universal e participativa”.
O professor Alexandre Galvão Carvalho, do Departamento de História, destacou que a discussão sobre a universidade, que passa por financiamento, autonomia, transparência e gestão, não deve se restringir a só esse momento. “É importante que a comunidade acadêmica continue discutindo esses projetos que estão sendo debatidos agora”, disse. O que Miro Conceição, professor do Departamento de Estudos Agrícolas e de Solo, considerou ser um amadurecimento para a Uesb: “em outros momentos a discussão se polarizava para questões pessoais, e não ajudavam a crescer e, muito menos, a construir um projeto de universidade”.
Foto destacada: Arquivo/Site Avoador.