Quase três anos após o início da obra, duplicação da Avenida Presidente Vargas ainda não foi entregue
Desde outubro de 2022, o projeto inacabado do Governo do Estado da Bahia tem causado transtornos à população local, além de graves acidentes que resultaram em mortes 13 de junho de 2025 Lavínia Marinho e Giovanna SouzaCom investimento de R$ 16,4 milhões, a Avenida Presidente Vargas, uma das mais movimentadas de Vitória da Conquista, passa por uma obra de duplicação desde outubro de 2022, no trecho que vai da Travessa Presidente Vargas até o Contorno Rodoviário Leste, interligando a BR-116 e a BR-415. O projeto, de responsabilidade do Governo da Bahia e viabilizado pelos deputados Zé Raimundo (PT) e Waldenor Pereira (PT), tem causado transtornos à população local, além de graves acidentes que já resultaram até mesmo em mortes.
A previsão inicial para o término da obra era junho de 2023, mas desde então o prazo foi alterado sucessivas vezes. Em agosto de 2024, a entrega mudou para outubro daquele ano. Chegado o período informado, o prazo foi estendido novamente. A Secretaria de Infraestrutura da Bahia (Seinfra) anunciou que a pavimentação seria entregue em novembro e a iluminação em dezembro de 2024. Posteriormente, foram adicionados mais três meses para a finalização.
Entre um adiamento e outro, a falta de sinalização e de iluminação adequadas na via contribuiu para uma série de acidentes, o que fez a Prefeitura de Vitória da Conquista notificar três vezes a Panvnorte Construtora, empresa responsável pela execução da obra. Uma dessas ocorrências resultou na morte do motociclista Júlio César Santos, de 37 anos, em outubro de 2024. Ele colidiu com uma caminhonete que, à noite, não viu a moto que seguia no sentido contrário da pista.

Placa da implementação da obra. Foto: Giovanna Souza
No mês de novembro de 2024, outro motociclista, Ricardo Santos, de 49 anos, morreu no local. O incidente também envolveu a colisão com uma caminhonete.
Em fevereiro deste ano, mais uma morte aconteceu no perímetro da duplicação. O operário Gildevan Oliveira veio a óbito após ser atropelado por um rolo compactador. Ele trabalhava para uma empresa terceirizada que prestava serviço para o Estado. Na época, a Seinfra lamentou o ocorrido e disse que providências seriam tomadas. O Ministério Público do Trabalho (MPT) abriu um inquérito para investigar a situação.
Diferente de Júlio César, Ricardo e Gildevan, a jornalista Lays Macedo saiu com vida do acidente que sofreu próximo da obra, em novembro de 2024. Em uma noite chuvosa, a ausência de sinalização no local fez com que ela não enxergasse um buraco aberto entre a Avenida Cláudia Botelho e a Avenida Presidente Vargas. Assim, o carro caiu na vala e precisou ser retirado por um guincho.
O acidente de Lays aconteceu em frente ao Condomínio Mirante Vitória, um entre quatro situados nos arredores da obra. Segundo o síndico do residencial, que preferiu não se identificar, os moradores da região têm sido muito afetados pelo atraso na entrega da duplicação. “A segurança foi prejudicada. A falta de iluminação e sinalização contribuem para acidentes na via, inclusive bem em frente ao condomínio”, disse.
Para uma moradora do Condomínio Alpina, que pediu anonimato, não há justificativa plausível para tanta demora na finalização da obra. “Nós passamos muitos meses com poeira diariamente nos apartamentos. Até hoje, o encardido não saiu dos corredores do prédio. É perigoso andar de carro por ali à noite, imagina para os moradores que a atravessam andando. Um absurdo demorarem tanto tempo para realizarem uma obra de 3km apenas”, desabafou.
Transtornos para motoristas e pedestres
Quem também sente os efeitos da demora na entrega da obra são as pessoas que vivem no bairro Urbis 1, em ruas situadas abaixo do trecho em duplicação. Um morador, que pediu anonimato, contou à reportagem que já presenciou um carro capotar e cair na porta de um vizinho. Ele relata que se sente inseguro e que a única solução é a finalização da obra o mais rápido possível.
Motorista de aplicativo de transporte há um ano, Eduardo Batista Melo transita muito pela região. Para ele, a falta de identificação clara das intersecções e a ausência de faixas de pedestres e placas indicativas para retornos são problemas graves. “A Rio-Bahia, que corta a cidade, por exemplo, é um trecho maior e tem um número menor de acidentes, sobretudo pela iluminação noturna e placas”, ressalta.
O transporte coletivo urbano também foi afetado pela obra incompleta. Em 25 de novembro de 2024, a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (SEMOB), por meio da Coordenação de Transporte, alterou as rotas das linhas R07 (Nova Cidade x Centro) e D32 (N.S. Aparecida x UESB) em razão da duplicação na avenida.

Via sem passeio para pedestres. Foto: Sarah Andrade
Moradora do bairro Primavera, Giulia Santana foi uma das pessoas afetadas pelas mudanças nas linhas de ônibus. Além do transtorno com o transporte, para ela, a obra tem atrapalhado a sua mobilidade enquanto pedestre. “Não tem calçada. Tem carros passando de um lado para o outro e a gente não tem onde esperar porque você chega lá e tem buracos grandes no meio”, disse.
Para Gilberto Pacheco, motorista que atua na linha D32, além da finalização imediata da obra, a implementação de um semáforo no cruzamento da Avenida Rosa Cruz com a Avenida Presidente Vargas ajudaria a diminuir os acidentes.
Justificativas para o atraso
De acordo com o deputado Zé Raimundo (PT), a escassez de asfalto nas refinarias da Bahia foi uma das causas do atraso na entrega do projeto. “As refinarias não estavam produzindo. Foi necessário, inclusive, trazer de Belo Horizonte”, ressaltou.
Quando questionado sobre a finalização da obra, o deputado afirmou que o projeto está nos momentos finais e será entregue em breve. “Nós acompanhamos a obra e quero dizer para toda a população de Vitória da Conquista que finalmente está na fase final e, logo logo, estaremos inaugurando”, explicou.
A Secretaria de Infraestrutura da Bahia (Seinfra), por meio de nota, também alegou que o projeto está em fase final, mas não informou uma data de entrega. “A última etapa, que é a de sinalização horizontal e vertical, está em execução. A melhoria da capacidade da via vai ampliar as condições de trafegabilidade no sentido do contorno leste com mais conforto e segurança. Sobre a iluminação pública no trecho, as ações permanecem em andamento”, pontuou o órgão.
A reportagem também questionou a Pavnorte Construtora, empresa responsável pela duplicação da via, sobre o cronograma da obra, a previsão de conclusão, as mudanças no projeto e o orçamento. Mas até a publicação desta matéria, não obtivemos resposta.
- Canteiros inacabados
- Sinalização precária
- Canteiros inacabados
- Via sem proteção
- Sinalização precária