Entenda a evolução no caso dos assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips

Perícia confirmou que corpos encontrados são do jornalista inglês e do indigenista brasileiro; terceiro suspeito do crime se entregou na manhã deste sábado (18) 18 de junho de 2022 Victória Amaral, Rângel Mendes, Mariana Oliveira

Na manhã deste sábado (18/06), Jeferson da Silva Lima foi preso pela Polícia Federal como terceiro suspeito de envolvimento na morte de Bruno Pereira e Dom Phillips. A participação de uma terceira pessoa no crime já era cogitada pelas autoridades, que investigam pelo menos cinco envolvidos. Outros dois suspeitos também estão presos: Amarildo da Costa Oliveira, o “Pelado”, e Oseney da Costa Oliveira, conhecido como “Dos Santos”. 

Jeferson, conhecido como “Pelado da Dinha”, teve um mandado de prisão emitido em seu nome na sexta-feira (17/06), mas estava foragido. Hoje (18/06), ele se entregou na delegacia de Atalaia do Norte, no Amazonas, e foi ouvido pelo delegado responsável pelo caso, Alex Perez Timóteo. Em entrevista ao G1, Alex afirma que Jeferson tem participação direta no assassinato, desde a emboscada, até o ocultamento dos cadáveres. “Conforme todas as provas, todos os depoimentos colhidos até o momento, ele estava na cena do crime e participou ativamente do duplo homicídio ocorrido.” 

Jeferson ainda será interrogado na delegacia de polícia de Atalaia do Norte e depois encaminhado para audiência de custódia. No dia 16 de junho, a Polícia Civil do Amazonas cumpriu um mandado de busca e apreensão na casa de outro suspeito do crime, que fica na região onde Bruno e Dom foram assassinados.



Corpos encontrados são de Dom Phillips e Bruno Pereira

O exame de arcada dentária realizado pelo Instituto Nacional de Criminalística de Brasília confirmou, na sexta-feira (17/06), que os remanescentes humanos encontrados próximo ao Rio Itaquaí, na quarta-feira (15/06), são de Dom Phillips. Na manhã deste sábado (18/06), a Polícia Federal afirmou que o outro corpo encontrado é do indigenista Bruno Pereira. 

Os restos mortais do jornalista inglês e do indigenista brasileiro chegaram na quinta-feira (16/06) em Brasília, depois que um dos suspeitos informou à Polícia Federal onde havia enterrado os cadáveres, aproximadamente a 3,1 quilômetros do local do crime. A dupla desapareceu no último dia 5 de junho, no Vale do Javari, no Amazonas.

De acordo com a CNN Brasil, a Polícia Federal conseguiu identificar o material achado no local indicado por Amarildo da Costa Oliveira, o “Pelado”, com o auxílio de características da arcada do jornalista, enviadas pela família de Phillips. 

O corpo do indigenista também foi identificado por meio de análise na outra arcada dentária encontrada pela polícia. Ainda segundo a perícia, os dois foram assassinados com armas de caça. Bruno foi atingido por três tiros, enquanto Dom foi morto com um tiro.

Amarildo está em prisão preventiva desde o dia 9 de junho, por suspeita de envolvimento no desaparecimento da dupla. O irmão de Amarildo, Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como “Dos Santos”, também foi preso pelo mesmo motivo, na terça-feira (14/06), em Atalaia do Norte (AM). Em depoimento à PF, “Pelado” afirmou que o jornalista e o indigenista foram assassinados, por denunciarem pesca ilegal na região. Segundo a CNN, o suspeito acrescentou que outra pessoa foi responsável por atirar na dupla, que não teria planejado o crime e que não havia um mandante.

 

Relembre o desaparecimento

Bruno e Dom desapareceram no dia 5 de junho, após viajarem para a localidade conhecida como Lago do Jaburu, próximo ao rio Ituí, com o objetivo de visitar a equipe de Vigilância Indígena do local. Dom Phillips escrevia um livro sobre a Floresta Amazônica e estava na companhia de Bruno para entrevistar os indígenas.

Eles deveriam retornar para a cidade de Atalaia do Norte no mesmo domingo (05/06), mas desapareceram. Foram vistos pela última vez na região do Vale do Javari, que fica entre a comunidade ribeirinha de São Rafael, onde o indigenista havia agendado uma reunião, e a cidade para qual deveriam voltar. 

Os dois chegaram a São Rafael às 6 horas. O percurso de volta após a reunião duraria aproximadamente duas horas. A demora da viagem fez com que duas equipes da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) dessem início às buscas, na tarde do domingo (05/06). De acordo com a coordenação da Univaja e o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI), Bruno era “experiente e profundo conhecedor da região, pois foi Coordenador Regional da Funai de Atalaia do Norte por anos”. 

No dia 6 de junho, a Univaja e o OPI divulgaram o desaparecimento de Dom e Bruno. A Polícia Federal e o Ministério Público Federal começaram a investigar o caso. Equipes da Marinha e Exército foram acionadas para ajudar nas buscas. De acordo com a Univaja e o OPI, em nota à imprensa, o indigenista recebeu ameaças na semana anterior ao desaparecimento.



Bilhete anônimo que ameaçava o indigenista Bruno Pereira foi entregue uma semana antes do seu desaparecimento. Foto: Reprodução/O Globo

 

Suspeito confessou ter esquartejado, queimado e enterrado os corpos de Bruno e Dom

No dia 9 de junho, vestígios de sangue foram encontrados numa lancha usada pelo suspeito Amarildo da Costa de Oliveira. A polícia chegou até Amarildo através de denúncias de moradores ribeirinhos da região, que avistaram, no dia do desaparecimento (05/06), o suspeito passar de barco logo atrás da embarcação de Bruno e Dom. A lancha foi encontrada durante as buscas por evidências na casa do pescador. 

Dois dias depois, a Univaja encontrou uma outra embarcação na área de buscas pelos desaparecidos. Elésio Marubo, procurador jurídico da entidade, disse que o barco poderia pertencer a Amarildo. 

Ao longo das buscas pelos desaparecidos, foram encontrados alguns objetos pertencentes a Bruno Pereira e Dom Phillips. Os bombeiros encontraram uma mochila, um notebook e um par de sandálias. Uma nota emitida pela Polícia Federal no dia 12 de junho, divulgou os objetos encontrados na mochila: um cartão de saúde, uma calça preta, um chinelo preto e um par de botas de Bruno, além de roupas e um par de botas de Dom. 

De acordo com o coordenador da Equipe de Bombeiros em Atalaia do Norte, Barbosa Amorim, o material foi encontrado próximo à casa do suspeito. Os pertences estavam amarrados em uma árvore. 

Na quarta-feira (15/06), a Polícia Federal levou Amarildo à região em que Dom e Bruno teriam desaparecido. Lá, ele indicou onde estavam os corpos e disse ter esquartejado, queimado e enterrado Bruno e Dom. Os remanescentes humanos encontrados no local foram levados para perícia na quinta-feira (16/06). O corpo de Dom Phillips foi identificado na sexta (17/06) e o de Bruno Pereira neste sábado (18/06), através de exames nas arcadas dentárias.

 

Testemunhas afirmam ter visto Amarildo e Oseney perseguirem embarcação de Bruno e Dom

Os irmãos Amarildo da Costa Oliveira, o “Pelado”, e Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como “Dos Santos”, foram presos durante as investigações sobre o desaparecimento do indigenista brasileiro, Bruno Pereira, e do jornalista britânico, Dom Phillips, na Amazônia, ocorrido no dia 5 de junho.

Amarildo foi preso no dia 7 de junho, por outros motivos. No início das investigações feitas pela polícia, os agentes chegaram até ele por meio de depoimentos das testemunhas do caso, que disseram ter visto o suspeito ameaçar Bruno Araújo Pereira.

Durante as buscas na casa de Amarildo, a Polícia Militar do Amazonas (PM-AM) encontrou munição de uso restrito das Forças Armadas e drogas, o que levou à prisão em flagrante do pescador. Sua prisão preventiva foi decretada no dia 9 de junho, por suspeita de envolvimento no desaparecimento de Bruno e Dom. O irmão de Amarildo, Oseney, foi preso temporariamente na última terça-feira (14/06), suspeito de participação no crime.

Um relatório da Polícia Federal (PF) sobre o caso, enviado ao ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), mostra trechos dos depoimentos de “Pelado”, que admitiu ter visto Bruno no dia do desaparecimento, e de testemunhas oculares que os viram perseguir a embarcação de Bruno e Dom, conforme revelado pelo GLOBO.

Após Amarildo confessar ter enterrado a dupla, os dois irmãos foram levados até o local de buscas, para ajudar a localizar os corpos. De acordo a Polícia Federal, o pescador afirmou à PF que os corpos de Dom Phillips e de Bruno Pereira foram esquartejados, queimados e enterrados, mas que não era o responsável por atirar na dupla. A declaração foi dada em depoimento na madrugada do dia 15 de junho. 

A Polícia Federal informou que Amarildo foi transferido para Manaus nesta sexta-feira (17). A informação foi confirmada em primeira mão pelo jornalista Valteno de Oliveira, da Band. A transferência ocorreu após a polícia confirmar que os restos mortais encontrados no Vale do Javari são do jornalista britânico Dom Phillips. O segundo suspeito por envolvimento no crime, Oseney, irmão de Amarildo, permanece em Atalaia do Norte.  

A Univaja rebateu a nota emitida nesta sexta-feira (17) pela Polícia Federal. O comunicado da PF diz que “não há mandante ou organização criminosa” por trás do assasinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips. Já a entidade indígena diz, em nota, que não concorda com essa afirmação da polícia.

Em nota detalhada, a Univaja reforça dizendo que “a PF desconsidera as informações qualificadas, oferecidas pela Univaja em inúmeros ofícios, desde o segundo semestre de 2021, período de implementação da EVU (Equipe de Vigilância da Univaja)”.

 

Quem eram Bruno Pereira e Dom Phillips?

Bruno Pereira era um dos indigenistas mais experientes da Fundação Nacional do Índio (Funai), respeitado especialista em povos isolados do Brasil e reconhecido como defensor das causas indígenas. Já atuou como coordenador regional da Funai, em Atalaia do Norte-AM, justamente onde foi assassinado.

Em 2018, se tornou coordenador geral de Índios Isolados e Recém Contatados da Funai e chefiou a maior expedição para contato com os indígenas isolados dos últimos 20 anos. Graças a seu trabalho, mais de 60 embarcações de garimpo ilegal foram queimadas. O que deveria resultar em reconhecimento para Bruno, acabou em demissão. Naquele mesmo ano, ruralistas ligados ao presidente Jair Bolsonaro (PL) agiram para que Bruno fosse demitido de seu cargo, o que resultou na sua exoneração, em 2019, pelo então Ministro da Justiça, Sérgio Moro.

Após a demissão, Bruno foi convidado para ser consultor da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). De acordo com a entidade, ele sofria constantes ameaças de garimpeiros, madeireiros e pescadores, por causa do seu trabalho desempenhado, junto às tribos indígenas na região. Bruno era casado com Beatriz de Almeida Matos, antropóloga, e tinha três filhos.

O jornalista Dominic “Dom” Phillips era natural do condado de Merseyside, na Inglaterra, mas se mudou para o Brasil em 2007. Ele morava em Salvador, com a esposa, Alessandra Sampaio, e trabalhava voluntariamente como professor de inglês numa comunidade periférica da capital baiana. 

Dom escrevia um livro, com o título “Como salvar a Amazônia?”, no qual abordava temas relacionados à Floresta Amazônica e sua autossustentabilidade. Por esse motivo, ele viajava pela região, para documentar e entrevistar nativos daquele local, principalmente indígenas. 

Natural do condado de Merseyside, na Inglaterra, o jornalista Dominic “Dom” Phillips se mudou para o Brasil em 2007. Além do jornalismo, ele trabalhava voluntariamente como professor de inglês numa comunidade periférica de Salvador-BA, cidade onde morava com a esposa, Alessandra Sampaio.

Dom escrevia um livro, com o título “Como salvar a Amazônia?”, no qual falava sobre a Floresta Amazônica e sua autossustentabilidade. Por esse motivo, o jornalista viajava pela região, para documentar e entrevistar nativos daquele local, principalmente indígenas.

O jornalista britânico, Dom Phillips, dava aulas gratuitas de inglês para jovens da periferia de Salvador (BA), onde morava desde 2007. Foto: reprodução/ redes sociais

O britânico sempre declarava seu amor pela Amazônia. Sua última publicação no Instagram mostrava uma viagem de barco pelas águas amazonenses com a legenda “Amazônia sua linda”. Ele era um dos principais jornalistas da imprensa internacional a reportar o avanço de crimes ambientais na região amazônica, sob o governo do atual presidente Jair Bolsonaro. 

O jornalista escreveu reportagens no Brasil por mais de 15 anos, além de inúmeras matérias e contribuições sobre a floresta e seus exploradores para o jornal britânico The Guardian. Além deste, Dom já trabalhou para o The New York Times, o Washington Post e o Financial Times. 

Phillips e Bruno já tinham realizado outra expedição juntos pela Amazônia, em 2018.

 

O que as mortes de Bruno e Dom representam? 

O assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips fez com que, nos últimos dias, os olhos do mundo fossem direcionados para a criminalidade na Amazônia. O caso é mais um capítulo do histórico de violência na região do Vale do Javari, no oeste do Amazonas. Durante todo processo de investigação, o atual governo Jair Bolsonaro (PL) foi alvo de muitas críticas e acusações, o que só agravou após declarações infelizes do presidente sobre o caso. 

https://twitter.com/UNHumanRights/status/1535214378227838978

 

 

Enquanto Dom e Bruno ainda eram dados como desaparecidos, o presidente Bolsonaro deu uma declaração sobre o assunto em entrevista ao SBT. “Realmente, duas pessoas apenas num barco, numa região daquela completamente selvagem é uma aventura que não é recomendada que se faça.” Bruno trabalhou por anos na Fundação Nacional do Índio (Funai) e, antes de desaparecer, trabalhava na União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), a qual declarou que o indigenista conhecia muito bem a região por onde viajava. 

“Esse inglês era mal visto na região, ele fazia muita matéria contra garimpeiros, a questão ambiental. Então, naquela região que é bastante isolada, muita gente não gostava dele. Ele tinha que ter mais do que redobrado a atenção para consigo próprio”, afirmou Bolsonaro, em entrevista ao canal da jornalista Leda Nagle, na manhã de quarta-feira (15/06).O posicionamento do presidente foi fortemente criticado por profissionais da imprensa e organizações jornalísticas.

A presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Natalia Mazotte, em entrevista ao Uol, criticou a forma como Bolsonaro lida com jornalistas. “Não é a primeira vez que o presidente da República trata o jornalismo como, no mínimo, um incômodo. E sempre com muito desrespeito.”  

Na mesma entrevista, Maria José Braga, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), disse que Bolsonaro não está à altura do cargo que ocupa e que descredibiliza o trabalho dos jornalistas. “Essa é a tática de Bolsonaro: atacar para não dar as respostas que lhe cabe dar como chefe de governo.”

https://twitter.com/delucca/status/1538169564290244612

https://twitter.com/marciatiburi/status/1536323351907639297

https://twitter.com/demori/status/1537486551223046147?t=qliRFhQmhmm6fwFYJDLjFQ&s=08

Bruno era um respeitado indigenista, com ações realizadas diretamente na floresta, em conjunto com indígenas. Defendia e lutava pela demarcação de terras, além de proteger as já legalmente demarcadas. Denunciava o garimpo, o desmatamento e a pesca ilegal. Dom era um jornalista inglês que escrevia e denunciava para o mundo sobre os atos criminosos que aconteciam na Amazônia. Em sua última viagem por lá, entrevistou os povos originários para que eles pudessem falar sobre a região.

A morte deles representa uma perda significativa para o Brasil. Além de ser um exemplo do que pode acontecer com aqueles que lutam pelo fim da exploração ambiental no país e pela ampliação das vozes dos que sofrem com ela, mostra o descaso das autoridades governamentais em relação a tudo que envolve a preservação da Floresta Amazônica. 

 

Imagem de destaque: G1 (Reprodução)

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