Luz solar impulsiona empreendimentos em Vitória da Conquista
A maior cidade do sudoeste baiano testemunhou um aumento expressivo do mercado da energia solar fotovoltaica, que vem incentivando os investimentos e a sustentabilidade na região. 7 de junho de 2025 Murilo Trindade - Estudando do 6º semestre do curso de Jornalismo Colaborador do Site AvoadorSegundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), a Bahia lidera a geração de energia solar fotovoltaica no Nordeste, exibindo mais de 26 gigawatts de potência outorgada, ou seja, aquela que as usinas estão autorizadas a operar. Em Vitória da Conquista (BA), a expansão desse mercado sustentável, que gera energia por meio da luminosidade do sol, acompanhou o crescimento populacional e econômico do município. As placas solares estão em cima de casas, prédios, comércios, escolas, estacionamentos, em todos os bairros da cidade e também na zona rural.

Maria Ângela Piai fala sobre a experiência de ter instalado energia fotovoltaica em sua propriedade. Foto: Maria Luiza Andrade
“Ave-Maria! A gente pagava mais de três mil reais de conta de energia, e agora a gente paga, às vezes, 500 ou 400 reais”, comemora Maria Ângela Piai, bancária aposentada, que depois dos 60 anos se formou em Engenharia Agrônoma na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb) e hoje é produtora rural, referência em agroecologia.
Para manter todas as bombas, sistemas de irrigação e os maquinários utilizados na propriedade em funcionamento, é gasto um alto consumo de energia e foram as placas solares, instaladas no telhado da casa da agricultora, no povoado da Estiva, zona rural de Vitória da Conquista, que trouxeram alívio na conta de luz e no custo de produção das hortaliças.
O investimento de Dona Ângela foi compartilhado com seu marido, Solon Guimarães e os dois filhos do casal, chegando ao total de 60 mil reais, valor que ela diz compensar muito: “Foi uma beleza, uma solução. Porque se não, a gente não ia conseguir nem continuar plantando”.

Placas solares no telhado da casa de Dona Ângela. Foto: Murilo Trindade
O sentimento de economia no final do mês também é compartilhado por muitas famílias e empreendedores da cidade. É o caso do casal Vaneia Alves e João Neves, proprietários da padaria Ki Pão, no bairro Recreio. Eles se orgulham do investimento que realizaram oito anos atrás, em 2017. “Na época, aqui na cidade a energia solar tava começando. Foi um investimento alto, mas foi muito bom”, comenta Vaneia.

Padaria Ki Pão, iluminada com energia solar. Imagem da internet
As placas solares instaladas no telhado da padaria, custaram 170 mil reais, gerando hoje, uma produção de 3700 quilowatts-hora. “Antes, a gente gastava 4300 reais com energia, hoje a gente paga a taxa mínima. É o melhor investimento que tem!”, acrescenta João. Ele comenta que, nos próximos meses, pretende colocar mais placas e cobrir todo o telhado, para produzir, de forma autônoma, toda a energia necessária para manter em funcionamento os mais de cinco freezers, ar condicionado e demais equipamentos da padaria.
A energia fotovoltaica produzida na Ki Pão é direcionada a rede da Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Neoenergia Coelba), que devolve a energia para o estabelecimento em forma de créditos, cobrando na conta final, que hoje gira em torno de 1000 reias, apenas taxas de impostos (PIS/PASEP, COFINS, ICMS e contribuição para iluminação pública) e o excedente utilizado.
O pesquisador em climatologia, doutor em Engenharia Agrícola, professor do curso de Geografia e coordenador da Estação Meteorológica da Uesb, Rosalve Lucas, explica que as condições para geração de energia solar na Bahia são favorecidas por fatores climáticos, como alta incidência de raios solares e baixa umidade. No entanto, em Vitória da Conquista, com altitude média de 923 metros , e pontos específicos chegando a atingir 1100 metros, a alta predominância de nuvens pode ser um fator desfavorável.
“Aqui na estação meteorológica, nós temos um aparelho chamado heliógrafo, que mede a incidência de luz solar durante 24 horas por dia, 365 dias do ano, e constatamos que em Vitória da Conquista não temos a plenitude da energia solar durante o dia, principalmente entre os meses de maio a agosto”, expõe o professor. Apesar desse período de baixa produtividade, Rosalve reforça que é comum em todas as regiões períodos com mais ou menos incidência solar e que esse cenário não chega a ser preocupante ou inviável para o setor fotovoltaico conquistense. “Se for considerar o total de energia gerada no período de sol, a soma é favorável. Era como se você produzisse 10 e perdesse 3 ou 4, ficando 6 de saldo. É bem mais promissor que usar somente a energia hidrelétrica”, esclarece.
O professor ainda reforça o potencial sustentável da energia fotovoltaica: “Para se construir uma hidrelétrica, é preciso alterar o curso de um rio, causando um impacto ambiental severo. No caso da energia solar, apesar de ser bem menos produtiva – porque de noite não tem – o impacto ambiental é muito mais sutil”.

Professor Rosalve Lucas em frente aos modernos equipamentos da Estação Meteorológica da Uesb. Foto: Murilo Trindade
Outro pesquisador que mantém os olhos atentos aos raios solares que aquecem Vitória da Conquista é o doutor em Arquitetura e Urbanismo e professor do curso de Geografia da Uesb, Artur Veiga. Em 2019, ele, juntamente com sua orientanda, a geógrafa Wanessa Barreto, publicaram um artigo intitulado “Energia solar: Um futuro sustentável para Vitória da Conquista-BA” e chegaram à conclusão de que as condições meteorológicas da cidade, em um ano de estudo (2017-2018), demonstraram que a região possui as condições propícias para geração de energia fotovoltaica, com uma média mensal de insolação de 6,4 horas diárias, com capacidade média mensal de geração em quilowatts-hora variando de 60% a 100% e, mesmo com 100% de nebulosidade o sistema possui a capacidade de geração média de 30%.

Vitória da Conquista em um dia frio e nublado de outono. Foto: Murilo Trindade
Os pesquisadores apontam que no mundo moderno é preciso interligar a sociedade e energia, pois quase toda atividade humana depende do consumo de eletricidade. Por isso, preservar a qualidade e o equilíbrio ambiental, priorizando fontes renováveis e limpas, é um desafio para a humanidade. Arthur reforça: “Utilizar energia alternativa, como forma inicial de economia financeira, mesmo que ainda seja privilégio de poucos, por conta do alto custo de investimento, traz um retorno bastante compensador.”