Menopausa e os impactos na vida das mulheres

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2030, serão um bilhão de mulheres passando pela menopausa no mundo 23 de novembro de 2023 Ayla Lima, Chris Estephane Caires, Letícia Meira e Victória Meira

“Eram ondas de calor que faziam minha roupa ficar molhada de suor. Eu me sentia sem graça porque não fazia diferença se eu saía de casa arrumada, pois sempre que chegava nos locais, eu já estava pingando. Eu trabalho em uma cidade muito quente e já chegava na sala de aula ligando o ar condicionado para evitar passar pela situação,” contou a professora da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), Cláudia Meira, 54 anos. 

Alguns desses sintomas também foram vivenciados pela dona de casa, Cida Andrade, atualmente com 57 anos, disse sentir os sintomas desde os 48 anos. “Calor, calor muito grande. O calor é o que mais me perturba. Porque ele é insuportável, é de repente, é como se uma coisa ruim entrasse na gente.”

“Eu me sentia sem graça porque não fazia diferença se eu saía de casa arrumada, pois sempre que chegava nos locais, eu já estava pingando.” Cláudia Meira. Foto: Acervo Pessoal

Já a servidora pública, Meiriam Novaes, 50 anos, tem sofrido com outro sintomas trazidos pela a menopausa. “Dificuldade de perder peso e da retenção de líquido, que eu não sei se tem muito a ver.  A lubrificação íntima também diminuiu bastante e a secura vaginal também é bem característico.” 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2030 serão um bilhão de mulheres passando pela menopausa, mas a maioria das mulheres ainda tem pouca ou nenhuma informação sobre essa fase da vida.  Sem entender o que passa em seu próprio corpo, durante o climatério, a fase, entre climatério, pré-menopausa até a pós menopausa,  que pode durar de 10 a 30 anos. Ou seja, um terço da vida da mulher é vivida na menopausa.

Essa fase é um momento de transição na vida das mulheres,  marcada por uma série de transformações que envolvem tanto o corpo, quanto a mente, desafia  a saúde e o bem-estar feminino. Durante esse período, os níveis de estrogênio e progesterona diminuem, levando a uma série de sintomas físicos e mentais, exemplos como mudanças no humor e ondas de calor. O sintoma mais comum da chegada da menopausa é a interrupção da menstruação,  que ocorrem por volta dos 45 a 50 anos, embora a idade de início possa variar, sendo acompanhado por outras mudanças hormonais. É um fenômeno natural que ocorre com todas as mulheres, não deve ser temida. Com conhecimento, acompanhamento médico e recursos adequados é possível atravessar esse momento de maneira saudável e continuar desfrutando da vida.

De acordo com a ginecologista e sexóloga Jacqueline Ferraz, algumas mulheres pensam que ao chegarem na menopausa o atestado de velhice vem junto, porém não é bem assim. “A menopausa não significa que a mulher vai morrer. Muito pelo contrário, pode ser aí que a mulher se descubra como uma mulher produtiva, bonita, saudável, sensual. Isso é uma nova fase, é como se fosse o inverso da fase de adolescência que ela se descobre mulher.”

A mudança acontece especialmente em relação a diminuição da libido nas mulheres. “Diminui o estradiol, que é o hormônio que faz a gente ovular, que ele é produzido na primeira fase do ciclo. Isso acontece  de quando a gente menstrua até a véspera da ovulação, que é o pico inicial, depois ele cai para começar a subir só depois que a pessoa menstruar de novo.”

Cida, que já contou seu infortúnios com a menopausa, já fazia acompanhamento com o ginecologista e, aos 42 anos, fez uma cirurgia de histerectomia. Após a menopausa, os sintomas continuaram. “O médico já tinha me explicado que eu ia ter os sintomas, porque o corpo não sabe que retirou um órgão. Mas eu já fazia acompanhamento com ginecologista, então, para mim, não foi difícil ir ao médico, porque eu já fazia acompanhamento. Quando eu chegava no consultório, pelo que eu ia dizendo que estava sentindo, a minha ginecologista ia confirmando que era o começo da menopausa.”

“A menopausa não significa que a mulher vai morrer. Muito pelo contrário, pode ser aí que a mulher se descubra como uma mulher produtiva, bonita, saudável, sensual.” Dra. Jacqueline Ferraz. Foto: Letícia Meira.

Apoio da família

Segundo a médica Jacqueline, durante o climatério a baixa de hormônios desencadeia uma série de fatores que pode levar até a crise no relacionamento de muitas mulheres. “A libido vai reduzindo, ela vai perdendo interesse sexual, ela vai ter dificuldade de se lubrificar durante a relação sexual e vai ter dificuldade de conseguir chegar ao orgasmo.” Com esses sintomas, a mulher perde o interesse na relação sexual.  “Nessas horas é preciso muito diálogo entre o casal, já que a mulher pode deixar de ter vontade de ter relações com o parceiro. A mulher está entrando numa nova fase da vida  e que o casal tem que se readaptar.”

Em relação à crise no relacionamento, Meiriam contou que não passou algo assim no casamento.  Ela explicou a situação a seu marido, com quem é casada há quase 25 anos,  e ele entendeu  e se adaptou às mudanças, como a secura vaginal tazida pela menopausa. “Você precisa de preliminares maiores ou até do uso de algum produto que ajuda.”

Além da relação entre marido e mulher, o convívio com as pessoas que moram na mesma casa também é afetado pelas mudanças de humor que o período de climatério causa. Miriam contou que há períodos do mês em que fica mais intolerante e impaciente, e Cida também tem percebido que há momentos em que dá vontade de “comer um poste”. Mas ambas disseram que a família tem compreendido a situação pela qual estão passando. “Aqui em casa todo mundo já sabe quando eu amanheço atacada. A gente aprendeu a conviver assim”, relatou.

“O calor é o que mais me perturba. Porque ele é insuportável, é de repente, é como se uma coisa ruim entrasse na gente.” Cida Andrade. Foto: Acervo pessoal.

Solução para os sintomas

A terapia de reposição hormonal tem a vantagem de aliviar os sintomas físicos (fogachos), psíquicos (depressão, irritabilidade) e os relacionados com os órgãos genitais (secura vaginal, incontinência urinária) no climatério. Além disso, assegura melhor qualidade de vida para a mulher. 

Alimentação saudável, atividade física regular, não fumar e evitar o consumo de álcool, cuidados com a saúde bucal são algumas medidas simples, que incorporadas aos hábitos diários de vida, podem ser úteis para minimizar os sintomas negativos do climatério. Segundo a médica, musculação é a mais indicada como atividade física, tanto para estimular a captação de cálcio para o osso e evitar a osteoporose, quanto para aumentar o tônus muscular e melhorar a autoestima da mulher. 

A médica também orienta a realização da reposição hormonal, já que melhora a vida da mulher em vários aspectos, desde as questões sexuais até a autoestima. Algumas têm percebido que a vida muda depois da reposição hormonal. “Elas dizem ‘olha doutora, agora eu voltei a ver o mundo colorido porque antes estava preto e branco.” 

Meiriam contou que antes dos 49 anos já fazia reposição hormonal e durante o período fez uma pausa de meses. “Eu faço justamente para melhorar, sem reposição, os sintomas vêm. Já tentei ficar sem, por conta própria mesmo. Fiquei três meses sem tomar medicação, mas aí vem o sintoma, principalmente o sintoma das ondas de calor.” Ela parou por conta própria por acreditar que não havia necessidade de continuar, mas logo voltou com a reposição principalmente por causa das ondas de calor.

“Dificuldade de perder peso e da retenção de líquido, que eu não sei se tem muito a ver. ” Meiriam Novaes. Foto: Acervo pessoal.

Já Cida ressaltou a reposição hormonal: “o hormônio é ótimo. Quando a gente está com secura, porque dá secura vaginal, dá falta de libido, não é só o calor não. Quando a gente está fazendo reposição hormonal, a gente não tem esses sintomas com tanta intensidade.” Como ela é diabética, tomar hormônios exigiu que consultar os médicos envolvidos no seu tratamento. “É mais complicado, porque não é recomendado para mulher diabética fazer reposição hormonal. Como eu fazia na mesma clínica, o meu tratamento ginecológico e da diabetes, era muito um embate dos dois médicos, o endocrinologista e a ginecologista.” Após um acordo entre os médicos, ela iniciou a reposição hormonal. 

Além da diabetes, existem também outras contraindicações que devem ser criteriosamente avaliadas antes de uma mulher iniciar a reposição hormonal. É preciso verificar se há doenças cardiovasculares, trombose, câncer de mama e de endométrio, distúrbios hepáticos e sangramento vaginal de origem desconhecida. 

No caso em que há é possível a reposição, existem os tratamentos fitoterápicos para estimular os efeito similares dos hormônios em menor intensidade, antidepressivos para uma ação mais central caso seja o problema enfrentado pela mulher e também de lubrificantes vaginais a base de água. Para o problema da secura vaginal, médica orientou ainda que existem tratamentos com radiofrequência que estimula a produção de colágeno e auxilia na lubrificação da mulher. 

Com os desenvolvimentos da ciência e os novos estudos relacionados à menopausa, mulher pode ter passar por essa fase sem sofrer os sintomas como no passado, mas, para isso, precisa de buscar informação e orientação médica. “Tenho várias pacientes que chegam aos 80 anos de forma muito saudável, e é um mito dizer que envelheceu (por causa do climatério). Envelhecer com saúde é não envelhecer.” 

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