Cinegrafista: um olhar sensível e apurado na captura dos fatos

Com mais de 30 anos de profissão, Geraldo Júnior trabalha na Tv Sudoeste desde 2010 e registra com sensibilidade os acontecimentos por meio das imagens 13 de novembro de 2019 Ana Carolina Lago

Ele trabalha com a sensibilidade de uma lente cinematográfica, pausa o tempo e registra o que a memória humana pode esquecer. Geraldo Júnior, cinegrafista da TV Sudoeste, afiliada da Rede Bahia, faz valer uma das frases mais populares do telejornalismo. “Uma imagem vale mais do que mil palavras, é a mais pura verdade, talvez nem precise de lauda (texto que cobre uma imagem), a imagem fala. Esse é o nosso trabalho”, explicou.

Geraldo Júnior é baiano, pai de duas mulheres, exerce a profissão de cinegrafista há 32 anos. Não escolheu ser operador de câmera, ficou encantado pelo equipamento e acabou profissional. Foi trabalhar na TV Cabrália, afiliada da TV Record, em Itabuna, aos 17 anos, como office boy. “Na verdade, eu fiquei trabalhando na parte de tirar xerox, e a sala era a mesma que guardava os equipamentos da TV, as câmeras. Fui fazendo amizade com os cinegrafistas, fui vendo como funcionava e comecei a querer aquilo pra mim”, relembrou.  Em 1988, surgiu uma oportunidade, e ele foi contratado como auxiliar de cinegrafista, sem nem ter 18 anos completos. “Passei quase um ano na função, fui aprendendo, e quando um cinegrafista saiu, assumi o cargo dele”. Não fez cursos, não entrou na universidade, transformou-se em cinegrafista com o exercício da prática.

Passou dois anos na TV Cabrália e foi trabalhar como cinegrafista na TV Subaé, afiliada da Rede Bahia, em Feira de Santana, onde permaneceu até março de 1996. Depois passou por uma produtora de vídeos. Então, Geraldo voltou ao jornalismo e mudou-se para Vitória da Conquista. Após trabalhar na TV Cabrália e TV Uesb, por fim, foi contratado pela TV Sudoeste, onde está há nove anos. Na emissora, ele tem participado desde então de cursos de aperfeiçoamento ofertados pela Rede Globo. É com esse aprendizado e a experiência que ele ensina a prática para os novatos do telejornalismo. Postura, a maneira de segurar um microfone, onde se posicionar ao captar as imagens de um entrevistado, como olhar para a câmera. “A gente tenta passar a experiência que tem para o pessoal que está chegando. Tudo com jeitinho”.

“O olhar de um cinegrafista é aquilo que só ele vê. É um olhar específico. É preciso ter atenção, habilidade, parceria com o repórter”, Geraldo Júnior. Foto: arquivo pessoal

Em 32 anos de carreira, ele já narrou, por meio da imagem, a história de inúmeros acontecimentos. Foi testemunha ocular de momentos de alegria, deu visibilidade a personagens desconhecidos, sentiu a dor de entrevistados, viu tragédias. Entre essas coberturas, uma imagem o acompanha sempre. “Até hoje, eu tenho na cabeça, têm muitos anos, foi em Feira de Santana. Uma reportagem que a gente foi fazer de um carro que tinha pegado fogo, e quando chegou lá, tinha um casal e um recém-nascido. O casal escapou, mas eles não conseguiram tirar a criança do banco de trás. Eu vi a imagem daquela criança queimada, aquilo me marcou pra sempre. Não sei se porque, na época, minha filha estava pequena, mas a imagem está até hoje na minha cabeça”. Mas nas lembranças inesquecíveis do cinegrafista também está a entrevista com o escritor brasileiro mais vendido e famoso no mundo.  “Gosto muito dos livros de Paulo Coelho, e uma vez gravei uma entrevista com ele. Foi muito interessante, foi a entrevista que mais gostei até hoje”, contou.

Por fim, Geraldo explicou como é o “olhar do cinegrafista” que traduz em imagens o que em palavras pode ser mais complicado e difícil. “O olhar de um cinegrafista é aquilo que só ele vê. Está tendo um evento, muita gente está ali, mas tem coisa que só ele consegue perceber, é um olhar diferente das outras pessoas. Quando as pessoas estão vendo o jornal, elas estão ouvindo o que está sendo dito, nós, cinegrafistas, estamos prestando a atenção em outra coisa: na imagem! É um olhar específico. É preciso ter atenção, habilidade, parceria com o repórter”.

Os equipamentos para o exercício do telejornalismo evoluíram com a tecnologia, mas o olhar humano, de um cinegrafista sensível a realidade, será sempre essencial para tocar o público com as imagens.

Foto de capa: arquivo pessoal

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