Governo Bolsonaro e sua política ineficiente para a população PCD

Em quatro anos, o atual governo trabalhou para reduzir os direitos da PCD's e foi capacitista 11 de outubro de 2022 Israel Peixoto

No dia primeiro de janeiro de 2019, quando Jair Bolsonaro tomava posse como presidente do Brasil, houve uma quebra inesperada no protocolo da cerimônia. Pela primeira vez. a primeira dama discursou antes do presidente, seu discurso foi feito em Libras (Língua Brasileira de Sinais) para um público de 15 mil pessoas.

Michelle Bolsonaro até aquele momento dizia-se ser alguém engajada na causa da pessoa com deficiência, aliás, ela faz parte do Ministério de Surdos e Mudos da Igreja Batista Atitude, onde atua como intérprete de Libras nos cultos. Em seu discurso, a primeira dama disse:

“Agradeço a Deus pela grande oportunidade de ajudar as pessoas que mais
precisam. Quero fazer um trabalho de ajuda ao próximo, o que sempre fez parte da minha vida. A partir de agora como primeira-dama posso ampliar de maneira mais significativa. É grande a satisfação e o privilégio de poder contribuir e trabalhar para toda a sociedade brasileira. O cidadão brasileiro quer segurança, paz e prosperidade. Um país em que sejamos todos respeitados. Gostaria de modo muito especial de dirigir-me à comunidade surda, às pessoas com deficiência e a todos aqueles que se sentem esquecidos. Vocês serão todos valorizados.”

Marcado por um gesto tão significante desde a abertura, parecia que havia um interesse em ampliar as políticas de auxílio à comunidade PCD’s. Desde então quatro anos se passaram, e esse pronunciamento inovador e até progressista, eu diria, se provou vazio e tão medíocre quanto o mandato do próprio presidente. Nesse artigo, apresento em ordem cronológica e com detalhe de fatos o desastre e o retrocesso que governo Bolsonaro trouxe para as pessoas com deficiência.

O desmonte às políticas direcionada à população PCD’s começa no quarto mês de governo quando, em abril de 2019, Bolsonaro por meio de um decreto extinguiu os conselhos sociais que integravam a Política Nacional de Participação Social (PNPS), sendo um desses o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Conade). Para quem desconhece, o Conade foi um órgão superior de deliberação colegiada, criado no ano de 1999 com a função de acompanhar e avaliar o desenvolvimento de uma política nacional para inclusão da pessoa com deficiência.

Com o fim do Conade, o caminho para desvalorização da pessoa com deficiência ficou livre de obstáculos. Não há mais um órgão responsável pela investigação do cumprimento de políticas públicas, tornando ainda maior a lacuna que separa os PCD’s da sociedade civil.

Ainda no ano de 2019, Bolsonaro tentou flexibilizar a lei do cumprimento de cotas para pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Em cumprimento ao artigo 93 da Lei 8.213/91, as empresas com 100 ou mais funcionários são obrigadas a ofertarem de 2% a 5% das vagas para pessoas com deficiência. Por meio do Projeto de Lei 6159/2019, havia a tentativa de flexibilização para que as empresas pudessem ter apenas uma pessoa com deficiência no quadro geral de funcionários.

Além de determinar a habilitação/reabilitação compulsória, mesmo que a pessoa não precise de trabalho ou necessite de qualquer auxílio do governo, a Lei regulamenta o desvio de função e cria uma competência para a Reabilitação do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social), o que determina que atividade seja desenvolvida pelo trabalhador com deficiência.

Em caso de descumprimento da Lei, o projeto previa que a empresa poderia pagar apenas uma multa equivalente a dois salários mínimos por três meses e nada mais. O projeto ainda reduzia a penalidade e diminuia a importância de um instrumento de fiscalização para a aplicação da Lei.

Nesse Projeto de Lei particularmente Bolsonaro se dedicou bastante, ele tentou aprová-lo seis vezes. Em setembro de 2020, o então ministro da educação Milton Ribeiro fez, o que na minha opinião foi a iniciativa mais repugnante desse governo, por meio do decreto 10.502/2020, a tentativa de criar escolas “especializadas” para PCD’s, restringindo a convivência das crianças que possuem algum tipo de deficiência.

Esse decreto fere não só os princípios da Constituição de 1988 como também Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996. Segundo dados recentes, em 2020, 93,3% dos 1,3 milhão de crianças e adolescentes com deficiência na educação básica estavam matriculados em escolas regulares. O decreto, felizmente, foi barrado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli. Segundo o argumento do ministro, há uma interpretação sistemática dos princípios e dispositivos constitucionais sobre a questão que priorizam a educação inclusiva, não cabendo ao poder público recorrer aos institutos das classes e escolas especializadas para realizar a inclusão de todos os estudantes.

Enfatizando que a Política Nacional de Educação Especial contraria esse modelo, ao deixar de enfatizar a absoluta prioridade da matrícula desses educandos no sistema educacional geral, ainda que demande adaptações das escolas, o relator destacou que o decreto poderia fundamentar políticas públicas que fragilizam o imperativo da inclusão de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na rede regular de ensino.

A cartada mais recente de Bolsonaro contra a população PCD’s foi o corte 60% das verbas do programa Farmácia Popular. Com isso, quem precisa de fraldas, remédios e outros recursos terão que pagar bem mais caro. O corte foi feito para garantir recursos para as emendas parlamentares que sustentam o orçamento secreto. Como qualquer governante de extrema-direita, Bolsonaro não fez do bem-estar social prioridade do seu governo, essa sequer foi uma pauta.

Usando de discussões morais e informações falsas como cortina de fumaça, sua campanha de reeleição está mais agressiva que a de 2018. Bolsonaro não fala sobre propostas para um possível novo mandato, não fala sobre as obras que realizou em no período em que governou e, se cita alguma, esta é provada como mais um fake news.

Foram quatro longos anos em que ele governou apenas para si e para o clã. Conclui-se então que desde o primeiro ano do governo Bolsonaro houve medidas que reforçam atitudes capacitista e ações que contribuem para a segregação de uma população de mais de 17 milhões de brasileiros.

A pergunta que deixo: Até aonde conseguiremos resistir numa suposta reeleição desse governo eugenista?

Imagem destacada: Freepink

Israel Peixoto é escritor e colunista do site Avoador. Escreve artigos mensalmente.

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