Caetano morreu! Salve José Luis Caetano da Silva!

O fundador do curso de Jornalismo na Uesb, José Duarte, relembra história vivenciadas com o professor Luis Caetano 8 de fevereiro de 2024 José Duarte

Entre as lembranças que tenho de Caetano uma diz respeito ao processo de implantação do curso de Comunicação/Jornalismo, em 1998. Caetano passou a ministrar disciplinas que estavam alocadas em outra Área do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas. Mas na ocasião em que esta Área recusou-se a liberá-lo, tomou uma atitude surpreendente: pediu exoneração e submeteu-se a um novo processo seletivo, justamente para as disciplinas que ele ministrava. Aprovado, assumiu integralmente estas disciplinas e passou a fazer parte do Colegiado de Comunicação, onde muito contribuiu para a formação do alunado e na relação com os colegas.

Antropólogo por formação acadêmica, manteve intensa relação com as tribos pataxó alocadas no entorno do Parque do Descobrimento, nas imediações de Porto Seguro, Bahia. Tive a grata oportunidade de participar de uma de suas aulas de campo, junto com a professora Cláudia Lima e alunas do curso. Experiência inesquecível, registrada em fotos, vídeos e corpos, em que tivemos a possibilidade de imersão nesta cultura, tão diferente e tão próxima da nossa. Carreguei em minha pele, por várias semanas, as pinturas feitas com urucum, em meus braços, tronco e pernas. Quando estava em Eunápolis, numa parada casual, um pataxó veio até mim e me disse que eu estive com seus ‘parentes’, a partir da leitura destas pinturas corporais.

Caetano teve vários amores, nenhum deles duradouro, mas as sementes plantadas por ele nestes úteros geraram filhos, espalhados por este rincão baiano. Talvez pensasse em inaugurar uma dinastia, uma vez que seu primeiro rebento recebeu o nome de José Luiz Caetano da Silva Segundo. Mas estes filhos foram criados distantes de seu pai.

Quiçá preenchesse este distanciamento familial com a ocupação acadêmica. Lembro de uma frase escrita com letras grandes em sua sala de atendimento, referente à Teoria de Murphy: “Tudo que puder dar errado dará”, que pode ser interpretada tanto como negativismo puro ou como um alerta para tomar precauções. Esta frase me incomodava e compartilhei com ele esta percepção. Um golpe em sua trajetória recente pode ter sido sua aprovação, oba!, seguida de reprovação, êta! , para cursar doutorado em Antropologia na Universidade Federal do Amazonas.

Sentiu-se injustiçado com esta postura acadêmica, o que pode ter contribuído para sua imersão descontrolada na utilização de drogas, lícitas e ilícitas, que fragilizaram seu organismo. Afastado da vida acadêmica por estes motivos, foi amparado e cuidado por inúmeros colegas, que buscaram reorientar esta trajetória, pois apontava para uma situação limite.

Caetano carregava consigo o prenúncio de uma morte anunciada. E ela veio, no dia 7 de fevereiro de 2024, nas vésperas do carnaval.

Que a luz possa te guiar neste caminho além do aqui e do agora.

Abraço do Zé Duarte.

Vitória da Conquista, 7 de fevereiro de 2024.

José Duarte Silveira – responsável pela criação do curso de Comunicação Social, habitação em Jornalismo, atualmente apenas curso de Jornalismo, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb) e professor da instituição há mais de 30 anos.

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