33,1 milhões de brasileiros estão passando fome, diz pesquisa da Rede PENSSAN

Mais da metade da população do país vive com algum grau de insegurança alimentar 10 de junho de 2022 Alice Santiago

O 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 divulgou, na última quarta-feira (08), que 33,1 milhões de pessoas convivem com a fome no Brasil, mesmo patamar de 30 anos atrás. Em comparação ao último inquérito, realizado em 2020, são 14 milhões de brasileiros a mais sem ter o que comer em 2022. O estudo foi feito pela Rede PENSSAN (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional).

Os resultados da pesquisa mostram que mais da metade da população do país vive com algum grau de insegurança alimentar, equivalente a 125,2 milhões de pessoas. Esse dado significa que, no Brasil, 6 em cada 10 pessoas não sabem se vão ter comida no prato no dia seguinte.

Para a Rede, os principais fatores que influenciaram no crescimento do número de brasileiros que sofrem com a insegurança alimentar foi a piora na crise econômica e o desmonte de políticas públicas, somados aos mais de dois anos de pandemia.

Ao todo, os pesquisadores fizeram entrevistas presenciais com adultos em 12.745 domicílios brasileiros, nos 26 estados e no Distrito Federal, nas zonas rural e urbana, somando 577 municípios. A coleta de dados foi realizada de novembro de 2021 a abril de 2022. A amostra foi maior nas regiões Norte e Nordeste.

Em relação a todas as regiões, em média 3 em cada 10 famílias relataram redução parcial ou severa no consumo de alimentos. No Norte e Nordeste, são 4 em cada 10 famílias; Centro-Oeste e Sudeste, 3 em cada 10, e Sul, 2 em cada 10.

Para realizar a classificação, a pesquisa utilizou a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), a mesma que é usada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo essa escala, é considerada segurança alimentar o acesso regular a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais. Já a insegurança alimentar é dividida em 3 níveis: leve, moderada e grave.

Quando há incerteza quanto ao acesso a alimentos no futuro ou quando a qualidade da alimentação já está comprometida, a escala Ebia considera a insegurança alimentar como leve. Já a moderada é quando há redução quantitativa no consumo de alimentos e a grave, quando falta alimentos para todos os moradores do domicílio. Nesse nível de insegurança alimentar, as pessoas convivem com a fome.

De acordo com o site da PENSSAN, há uma grande diferença entre os dados de insegurança alimentar de quem vive no campo e na cidade. Na zona rural, os resultados apontam mais de 60% dos domicílios, sendo que 18,6% convivem com a insegurança alimentar grave. A situação dos moradores da área rural é mais delicada, já que o número correspondente às residências em área urbana que passam fome é de 15%, cerca de 27,4 milhões de pessoas. 65% dos lares comandados por pessoas pretas ou pardas convivem com restrição de alimentos em qualquer nível. Comparado com o 1º Inquérito Nacional, em 2021 e 2022, a fome dessa mesma população aumentou de 10,4% para 18,1%.

Segundo os dados levantados, a fome também alcança os agricultores, mesmo que o Brasil seja líder mundial na produtividade agropecuária. Cerca de 21,8% dos lares de pequenos produtores rurais apresentam insegurança alimentar. Os casos mais graves chegam até 38%.

O número de crianças e jovens que têm como única refeição do dia o prato de comida servido nas escolas cresce junto com o aumento da fome no país. Em contrapartida, a verba do governo federal destinada para a alimentação escolar diminuiu. Nesta quinta-feira (09/06), foram divulgados os valores do repasse para alimentação do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que ignoram a inflação: para cada aluno da pré-escola, fase fundamental para o desenvolvimento da criança, o programa destinou apenas R$ 0,53 centavos. O número é ainda menor para os que estão no ensino fundamental e no médio, R$ 0,36 por estudante. A verba per capita só ultrapassa R$ 1,00 para os horários escolares estendidos. Nas creches é R$ 1,07; no ensino integral, varia entre R$ 1,07 e R$ 2,00. O PNAE favorece cerca de 40 milhões de matriculados em instituições públicas de ensino no Brasil.

Fontes: Olhe para fome, Rede PENSSAN, PNAE

Imagem em destaque: Reprodução/Oalfenense

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