Apesar das filas, os Restaurantes Universitários da Uesb garantem a alimentação dos estudantes

Durante as primeiras semanas do início do segundo semestre de 2023, eram as longas filas o principal problema, que já reduziram bastante, mas ainda continuam 15 de novembro de 2023 Emily Chaves, Raquel Soreira e João de Jesus

Às 12h30, começa uma fila muito grande. Quando é assim, não temos a possibilidade de voltar para a aula a tempo”, disse a estudante do curso de Psicologia, Sara Fernanda Guimarães Pereira, que estuda pela manhã e à tarde, e precisa utilizar o serviço do Restaurante Universitário da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), de Vitória da Conquista. Em Jequié, o aluno do curso de Enfermagem, Júnior Santos, também reclamou do mesmo problema: “a fila para entrar no RU é muito grande”.  Já o aluno do curso de Biologia, de Itapetinga, Pedro Oliveira*, destacou a questão relacionada à qualidade do atendimento. “Parece que fazem um favor para os alunos.”

Esses foram alguns relatos de estudantes da Uesb que retratam os serviços prestados pelas novas gestões dos Restaurantes Universitários, que assumiram a administração dos espaços a partir do dia 14 de agosto de 2023. Durante as primeiras semanas, eram as longas filas o principal problema, que já reduziram bastante, mas ainda continuam extensas. Essas reclamações foram ponderadas pela a pró-reitora de Ações Afirmativas, Permanência e Assistência Estudantil (Proapa), Adriana Amorim, em email enviado à comunidade uesbinada em 22 de agosto. Segundo ela, naquele momento, todo novo sistema estava em implementação e problemas podem acontecer. ” Todo início é desafiador. A gestão tem feito uma verdadeira revolução na política de alimentação e nada disso é conquistado em poucos dias. Nada começa pronto, nada nasce perfeito. É preciso ter coragem de começar, errar, reconhecer as falhas e promover os ajustes. Temos apenas 1 semana de funcionamento e já temos avançado em muitas questões.

O problema da acessibilidade à alimentação, que foi resolvido pela luta do Movimento Estudantil dos três campi, não acabou com os problemas dos RU’s, principalmente nas primeiras semanas. Nos primeiros 21 dias, as filas para chegar até a comida demoravam em média 1h20, sendo que os alunos ficavam sem proteção do sol, que já estava forte. Também aconteceu algumas vezes dos estudantes chegarem até o momento de se servirem e faltarem itens do cardápio disponibilizado, como salada, carne, feijão e/ou arroz. 

De acordo com a gestora da unidade de Conquista, Camila Dacttes, para que a empresa começasse a atuar, foram feitas algumas reformas no espaço, e durante as primeiras semanas de lançamento, foram realizados alguns testes e ajustes tanto nos cardápios quanto nos atendimentos dos campi. Em Conquista, no café da manhã, foram servidas aproximadamente 120 pessoas. No almoço, cerca de 500 refeições são servidas por dia. No jantar, uma média entre 140 pessoas. “A gente colocou um caixa a mais para pagamentos e novos computadores. Colocamos também um auxiliar administrativo, e temos um novo programa que já está sendo elaborado. E a Uesb vai disponibilizar a biometria. Isso otimizará tempo”, completou a diretora. 

O comunicado da pró-reitora da Propaga mais informações foram disponibilizadas às comunidade sobre a situação inicial dos RU’s: “A equipe da empresa já foi aumentada, a Proapa tem convocado monitores bolsistas para atuarem nas filas, novos equipamentos na cozinha estão sendo adquiridos. O RU revelou-se um grande sucesso, com uma média de 1500 refeições por dia. Estamos lutando para que os problemas sejam sanados o quanto antes.”

Em relação ao cardápio, Camila disse que ele é feito mensalmente tanto em Jequié quanto em Conquista, seguindo a cultura de cada cidade, a acessibilidade e o gosto dos estudantes. Essas mudanças foram realizadas nos dois campi geridos pela empresa 2G2M. “Tudo que a gente trabalha em um restaurante, a gente trabalha no outro. É tanto que quando nós fazemos reuniões, tudo que é passado em um, é passado no outro, inclusive, algumas das melhorias que a gente teve na fila daqui (Conquista) foram feitas no primeiro experimento na de Jequié,” disse. 

O gerente da Geapa, Péricles da Silva, enfatizou também que as melhorias nos Restaurantes Universitários buscam o oferecimento de um serviço mais eficaz. “Os planos são manter e aprimorar as ações que estatisticamente indicam o alcance das metas preestabelecidas, ouvir os segmentos da comunidade acadêmica, especialmente os discentes, estabelecer parcerias externas e internas com outros setores da universidade, visando a inclusão, a acessibilidade, o acesso, a permanência e a conclusão.” Sobre as experiências passadas nos RU’s, ele frisou que aconteceram avanços.  “É perceptível que houve uma melhoria considerável, mas há sempre espaço para evoluir positivamente. Não está perfeito, visto que não é um projeto acabado. É um processo de constante transformação e adequação às novas realidades e exigências de um público cada vez mais diverso.” 

Para o Movimento Estudantil Da Uesb, o RU tem sido uma prioridade, em específico durante a gestão do DCE Marielle Franco, mas que ainda será necessário pressionar a atual gestão da universidade para garantir que sejam atendidas às necessidades dos estudantes. “Sempre foi pautado um RU de qualidade, com  variedade no cardápio e preço justo das refeições. Uma vez que é direito dos estudantes ter acesso às políticas de assistência e permanência estudantil dentro da universidade pública, o RU é uma ferramenta fundamental para a garantia destes direitos,” afirmou a representante do DCE.

Comida

Aluno do oitavo semestre do curso de Ciências Sociais da Uesb de Conquista, Clóvis Lima, utiliza o RU desde o ano de 2018, no início da sua graduação. Segundo o estudante, que é habilitado ao Prae, a nova empresa gestora está está cumprindo o que prometeu. “Acredito que, neste momento, enxergamos um avanço, sobretudo em relação ao Movimento Estudantil também da Universidade, que está à frente dessas questões, principalmente em relação à permanência, como o RU, e moradia dos estudantes.” 

Aluno do curso de Física de Itapetinga, Cássio Santos*,  também utiliza o RU do campus desde 2019, quando foi habilitado. De acordo com ele, onde estudada,  o problema é quantidade de comida que vai reduzindo conforme a quantidade de estudantes. “No momento em que começa a servir está tudo muito bom, após a primeira hora, tudo começa acabar, e não há reposição na maioria das vezes.” 

Já a estudante de Química, Beatriz Cerqueira*, também Itapetinga, que utiliza o RU durante toda a semana, pelo menos um vez por dia, conta que percebeu “inúmeras” vantagens no Restaurante Universitário atual. “Não preciso levar marmita, nem comer comida fria, e posso comer a quantidade de proteína que eu quero e ter uma boa comida. Só que frutas, de vez em quando, acaba ou não tem.” Atrelado a isso, ela ressaltou a questão dos valores cobrados. “Facilitou a vida do aluno, principalmente a quem não tem condições de arcar com o valor de uma comida em outro local.”

Preço

Os alunos habilitados no Programa de Assistência Estudantil (Prae) recebem um subsídio da Uesb e pagam pelo café da manhã e janta com até seis itens, independentemente do valor de cada item, R$2,00, e no almoço, o mesmo valor. Eles têm direito a duas refeições por dia. Já aqueles cadastrados na Ação de Apoio Alimentar, podem realizar a refeição do café da manhã e jantar, também com até seis itens, com desconto de 50% do valor da refeição, e o mesmo se aplica ao almoço.

Os RU’s funcionam de segunda a sexta-feira nos três horários nos três campi. Aos sábados, são servidos apenas o café da manhã e de almoço, exceto em situações em que fiquem sem atividades acadêmicas nos campi.

Para a caloura de Psicologia, Uesb de Conquista, Sara Pereira,  que paga 50% no valor total do quilo, é uma ajuda boa, mas que é preciso baixar o preço. “Alguns dias, o alimento que eles servem é muito pesado. Então o preço sobe,  e para o  estudante ficar sustentando esse preço todos os dias fica muito difícil. ” 

Já a colega do mesmo curso, Vivian Oliveira Souza de Oliveira, está insatisfeita. Para ela,o valor total do quilo no RU está caro e que seria necessário reabrir as ações afirmativas de 50% para os alunos que entraram após chamada regular. “No dia que eu recebi a aprovação, eles fecharam as inscrições do auxílio de 50% para utilizar o RU. E eles não abrem nem mais uma data assim para gente. E aí como é que eu vou ficar pagando todo dia o preço total?”

Segundo o gerente da Geapa, Péricles Luís, o período do cadastro foi realizado e atendeu o período das matrículas dos novos discentes. “O cadastro na Ação de Apoio Alimentar foi aberto em 16/08/2023 e fechado em 01/09/2023. Os estudantes tiveram, a partir do início das aulas do período letivo vigente (2023/2), 14/08/2023, cerca de duas semanas para realizar o cadastro e usufruir do benefício.”

Em relação às inscrições do formulário, o DCE se mobilizou para a reabertura, porém não obteve as soluções desejadas. “Pautamos e reafirmamos o nosso compromisso em relação à abertura do formulário de habilitação ao Prae não somente para alunos da primeira chamada, mas que seja uma prática mesmo após o período regular. Infelizmente, neste semestre, não foi aberto o edital de habilitação.” 

Conforme o estudante de Enfermagem, do campus de Jequié, Júnior Santos, o valor cobrado pela refeição é o ideal para os estudantes e que todo o serviço prestado no RU, atualmente, é melhor do que o anterior. “100% de diferença em tudo, desde a alimentação até o atendimento. Muito melhor agora.” 

De acordo com o aluno de Itapetinga, Adriano Novaes, que utiliza o serviço duas vezes por dia, o valor pago pela refeição é justo. “Acessível para todos, contudo, discordo do impedimento de comer mais de duas refeições por dias, pois impossibilita uma alimentação mais adequada para os alunos”, enfatizou o universitário. “Além disso, realizar as minhas refeições dentro da universidade é muito mais cômodo e econômico.”

Até o fechamento desta reportagem, não foi possível estabelecer contato com a empresa responsável pelo Restaurante Universitário do campus de Itapetinga. Foram enviados e-mails e realizadas ligações telefônicas sem retorno. 

Surgimento dos RU’s  

Segundo o Ministério da Educação, entre as décadas de 1950 e 1960, quando a foi criada a Universidade do Brasil (atualmente a Universidade Federal do Rio de Janeiro), surgiu o primeiro Restaurante Universidade, no Rio de Janeiro. A instituição mantinha ainda em outras faculdades e algumas escolas da cidade restaurantes para atendimento de funcionários e alunos.

A Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) também pleiteia o título de primeira instituição de ensino superior a implementar RU,. A inauguração foi em 1º de março de 1968, no Centro da cidade, e chegou a servir até 1.200 refeições diárias. Desde o início, os estudantes reclamavam dos preços das refeições. Com a centralização da Ufes no Campus de Goiabeiras, houve também críticas em relação à sua localização.

Em 2024, o serviço de RU está presente em 101 institutos e em todas as universidades federais.

Na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), o Restaurante Universitário foi inaugurado em 2005, após alunos da instituição se movimentarem e protestarem pela abertura do serviço. Desde então, a universidade atua na política de permanência estudantil por meio da prestação de serviços alimentares. Recentemente, os restaurantes da Uesb passaram por um processo de reformulação e no dia 14 de agosto voltaram ao funcionamento com novas empresas na gestão de serviços. 

*Nome fictício a pedido do entrevistado. 

Restaurante Universitário Uesb | Conquista

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